terça-feira, 19 de outubro de 2004

Universitários consomem mais álcool e maconha

19/10/2004 - 10:06 | Edição nº 335, ÉPOCA

Os universitários consomem mais álcool e maconha do que o restante da população, revelou uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo. Muitas universidades são rodeadas de bares, onde os estudantes podem adquirir bebidas. Especialistas explicaram que o contato com as drogas começa quando os jovens ingressam no ensino superior e começam a 'se libertar' do controle dos pais.


A pesquisa mostrou que 91% dos universitários consomem algum tipo de bebida alcoólica, 35% fumam maconha, 24% usam drogas inaláveis e 20% são dependentes de alucinógenos ou anfetaminas.

O médico Pérsio de Deus afirma que o consumo de drogas é prejudicial à sociedade, pois estes jovens serão futuros profissionais.

Época Online, com informações de O Globo

sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Maconha pode ajudar pacientes com esclerose múltipla

10/09/2004 - 13:52 | Edição nº 329 , ÉPOCA



Há benefícios na utilização de medicamentos compostos por maconha para os pacientes com esclerose múltipla, revelou um grande estudo britânico

De acordo com John Zajicek, que chefia os exames, há evidências de um efeito benéfico a longo prazo. O cientista afirmou que as informações obtidas confirmam a idéia de que os remédios com a erva aliviariam dores crônicas dos doentes. Os novos resultados atualizaram um estudo publicado no jornal "The Lancet" em 2003.

O estudo de 15 semanas mostrou que os pacientes que estavam tomando remédios que incluíam maconha aliviaram alguns sintomas dolorosos da esclerose múltipla. A análise dos dados, contudo, revelou pouca redução nos espasmos. A alteração da contração súbita e involuntária da musculatura era um dos testes cruciais para avaliar os medicamentos.

Zajicek, da Escola Médica Península, em Devon, defende que a avaliação pode ter sido prematura. Segundo ele, um monitoramento a longo prazo apontou para uma grande melhora nessa área.

quinta-feira, 2 de setembro de 2004

Holanda começa a entregar maconha para farmácias

2 de setembro de 2003, Folha de S. Paulo
Holanda começa a entregar maconha para farmácias

Reuters (Guido Benschop)

O início do programa holandês de venda de maconha como uma droga sob prescrição para pacientes com doenças crônicas está sendo observado com atenção por outros países europeus.

Segundo o Ministério da Saúde holandês, Reino Unido, Bélgica e Luxemburgo se interessaram em ver como a Holanda se sai na condição de primeiro país do mundo a vender maconha sob prescrição.

A medida holandesa é a última ação pioneira na área de reforma social num país que foi o primeiro a legalizar a eutanásia e onde a maconha, apesar de ilegal, é vendida em cafés autorizados.

Os dois fornecedores contratados pelo governo começaram ontem a transportar a droga para várias farmácias no país, onde vai estar disponível para venda aos pacientes, em fracos de cinco gramas, até o final da semana.

O uso será permitido para aliviar sintomas relacionados ao tratamento de câncer terminal, AIDS, esclerose múltipla e síndrome de Tourette (que causa tiques e movimentos involuntários).

O Ministério da Saúde espera que a maconha seja consumida por de 4.000 a 7.000 pacientes, subindo para 15 mil em 2004. O governo tem o monopólio do comércio da droga, produzida pelos dois laboratórios autorizados.

A maconha começou a ter seus benefícios medicinais estudados na Holanda, em 2000. Rapidamente, foi dado o primeiro passo para autorizar o uso em tratamento médico com a criação do Escritório de Cannabis Medicinal.

O uso da droga foi aprovado apenas como último recurso e para doenças em que os estudos científicos mostram benefícios.

O programa holandês também reflete o fato de que muitos doentes já compravam a maconha para aliviar a dor, em cafés ou de forma ilegal. "É agora um método seguro, porque a qualidade está garantida", disse uma autoridade do Ministério da Saúde. A recomendação é que a maconha seja usada em inalação ou na forma de chá, pois a fumaça do cigarro traria efeitos nocivos. Críticos dizem que não há testes suficientes sobre os efeitos terapêuticos da droga e que o seu uso aumenta as chances de depressão e esquizofrenia. A associação de farmacêuticos admite efeitos negativos da droga.

Já a associação holandesa dos portadores de HIV pediu que os seguros de saúde cubram os custos da maconha. Surgiram mais críticas sobre o preço da droga do que com as preocupações médicas ou legais.

A maconha nas farmácias será mais cara do que nos cafés. O frasco da versão SIMM18 custará 44 (R$ 143). O da Bedrocan, mais forte, 50 (R$ 162). Isso, segundo o governo, reflete a alta qualidade e a cobrança de 6% de imposto.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idArea=1&idSubArea=208

quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Maconha do bem

19/08/2004 - 14:54 | Edição nº 327

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG66013-6014,00-MACONHA+DO+BEM.html

O canabidiol, uma das substâncias da planta, tem potencial contra transtornos de ansiedade

INVESTIGAÇÃO
Pesquisadores comprovaram a ação de uma das substâncias extraídas da maconha no controle da ansiedade

A busca por efeitos terapêuticos em substâncias presentes na maconha ocupa os cientistas há mais de 50 anos. Desde o início de 2004, no entanto, uma nova safra de estudos internacionais reforça a idéia de que componentes como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), quando extraídos da planta, podem ser transformados em remédios.

Um trabalho inédito realizado no Brasil confirmou a redução de sintomas de ansiedade em pessoas que tomaram cápsulas de canabidiol. Pela primeira vez, os pesquisadores localizaram áreas do cérebro que são ativadas ou desativadas pela substância. O canabidiol atua nos sistemas límbico e paralímbico, regiões relacionadas às emoções. 'Este é o primeiro estudo no mundo a comprovar, por meio de neuroimagem, o efeito ansiolítico (tranqüilizante) da substância', afirma José Alexandre de Souza Crippa, do Departamento de Neuropsiquiatria, da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto.

O estudo coordenado por Crippa foi realizado em cooperação com o Instituto de Psiquiatria da USP, em São Paulo. O trabalho tem sido tão bem recebido que foi publicado em fevereiro na revista Neuropsychopharmacology e será apresentado durante a jornada da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro, que começa no dia 26.

'Esperamos que no futuro o canabidiol possa ser usado como medicação no tratamento de transtornos da ansiedade, como a síndrome do pânico, a fobia social ou o transtorno obsessivo- compulsivo (TOC)', explica.

O canabidiol desponta como alternativa promissora no tratamento desses distúrbios porque parece reduzir a ansiedade sem causar dependência e com menor sedação (voz pastosa e sonolência, por exemplo) que os remédios disponíveis atualmente.

Até mesmo o THC, substância responsável pela dependência e pelo 'barato' da maconha, tem sido utilizado no combate a males como glaucoma e dores crônicas. O consumo controlado do THC em cápsulas foi aprovado no Canadá e nos Estados Unidos e está prestes a ser adotado na Inglaterra. Isso não significa, claro, que fumar maconha faça bem à saúde. Como lembra o professor Elisaldo Carlini, pioneiro dessas pesquisas no Brasil, o uso de maconha por pessoas saudáveis não é recomendável.

OS EFEITOS DAS SUBSTÂNCIAS
Imagem do cérebro revela que o canabidiol ativa o sistema límbico (em amarelo), área relacionada aos transtornos de ansiedade. No futuro, a substância poderá ser utilizada como medicamento. A ação benéfica dos componentes da maconha tem sido comprovada em outros distúrbios, como:
- dor crônica
- náuseas
- esclerose múltipla
- dificuldades do sono
- epilepsia
- artrite
- alguns tumores

segunda-feira, 28 de junho de 2004

Maconha tem versão mais potente

28/06/2004 - 16:31 | Edição nº 319, ÉPOCA
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG65091-6014,00-MACONHA+TEM+VERSAO+MAIS+POTENTE.html

A maconha nativa está ficando mais potente na União Européia, aumentando as preocupações com a saúde e mandando mais pessoas para os centros de tratamento de drogas, disse a agência de monitoração de drogas da União Européia.

Estima-se que a maconha nativa seja três vezes mais potente que a importada do norte da África, Caribe e do Oriente. A potência é medida pela presença do tetrahidrocanabinol, ou THC, na cannabis, que se decompõe ao longo do tempo, fazendo com que a maconha importada seja mais fraca que a nativa.

Em média, a maconha consumida nas nações da União Européia contém mais de 8% de THC, mas na Holanda, que tem leis menos rígidas contra drogas leves, o índice é o dobro, disse o estudo feito pelo Centro de Monitoria de Drogas e Dependência de Drogas de Lisboa. O estudo diz que pelo menos metade da maconha fumada na Holanda é produzida no local.

A Holanda já está sentido os efeitos da maconha mais potente. Autoridades do país dizem que sua política de tolerância não despertou um maior uso de drogas, mas aumentou as preocupações sobre problemas de saúde relacionados a cannabis mais forte.

Usuários da maconha mais poderosa podem estar mais propensos a terem ataques de pânicos e problemas psicológicos menores, disse o estudo da União Européia. O estudo também disse que o tratamento para dependência de drogas está se tornando mais "disponível, acessível e diverso" por toda a União Européia.

"Desde que começamos a monitorar no meio dos anos 90, nós mapeamos um constante crescimento de todos os tipos de tratamento de drogas na União Européia", disse Georger Estievenart, diretor da agência de drogas.

Os serviços de pacientes em ambulatório aumentaram 25% na França, 30% na Grécia e 60% na Áustria. Na Grã-Bretanha e em outros países o tempo de espera dos pacientes caiu para seis semanas.

Também, os viciados agora são tratados para diferentes tipos de drogas, disse Estievenart. "No passado, a demanda por tratamento de droga centralizava-se principalmente da dependência de narcóticos. Atualmente, nós estamos vendo mais indivíduos procurando por tratamento para outras substâncias, como a maconha e a cocaína." Em 2003, 410 mil pessoas eram dependentes de heroína, eram 320 mil em 1999, disse o relatório.

sexta-feira, 4 de junho de 2004

Senadores aprovam fim de prisão para usuário de drogas

4 de junho de 2004, Carta Maior inFORMAÇÃO JURÍDICA

Projeto, que será agora examinado pela CCJ, também aumenta a punição para traficantes.

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou, na quinta-feira (3/6/2004), parecer do senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) favorável ao projeto que acaba com a pena de prisão para usuários de drogas (substitutivo da Câmara ao PLS 115/2002) e agrava a punição para traficantes. A proposta é oriunda do Grupo de Trabalho, do Senado, sobre Crime Organizado, Narcotráfico e Lavagem de Dinheiro, e segue para exame da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

O projeto, modificado na Câmara após ter sido aprovado no Senado em 2002, institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. De acordo com Sérgio Cabral, o texto apresenta enormes avanços na regulamentação das drogas no Brasil. "A pena de prisão para o usuário é totalmente injustificável, sob todos os aspectos".

Se o projeto for aprovado, a pessoa pega em flagrante usando droga ilícita não será encaminhada à delegacia, como ocorre hoje, e sim ao Juizado Especial Criminal. Ficará a cargo do juiz decidir a punição para quem consumir, guardar, comprar ou usar drogas ilícitas. A pessoa poderá receber advertência, ser obrigada a prestar serviços ou a comparecer a programa educativo. O usuário só será preso se for pego conduzindo aeronave ou embarcação após consumo de drogas, por causa do risco que impõe aos passageiros.

Corrupção

Para Sérgio Cabral, o usuário não pode ser tratado como criminoso, pois é dependente, "como há dependentes de drogas legais como álcool, cigarro e tranqüilizantes". Além disso, destacou, a prisão acaba por alimentar o sistema de corrupção policial. "Pego em flagrante, o usuário tenderá a corromper a autoridade policial diante das conseqüências que o simples uso de drogas pode lhe trazer".

O senador ressaltou que diversos países europeus têm modificado a legislação para acabar com a pena de prisão por uso de drogas, como a Itália, Portugal e Irlanda. No Brasil, a prisão para o usuário já não existe na prática, comentou. No Estado do Rio de Janeiro, citou, não há ninguém preso pelo uso de drogas. Por outro lado, disse, é grande o número de usuários levados a delegacias, o que gera processos criminais, toma tempo e recursos do Judiciário e ocupa policiais "que poderiam estar trabalhando para prender traficantes".

Sérgio Cabral, em seu relatório, fez apenas uma modificação no texto vindo da Câmara. Ele retirou o artigo 70, segundo o qual em comarcas onde há varas especializadas para julgamento de crimes envolvendo drogas, os usuários seriam levados a esses foros. O senador considera que essa determinação misturaria usuários e traficantes.

Pena maior

O projeto agrava a punição para traficantes, aumentando as penas e tornando inafiançável a associação com o tráfico. A penalidade passa de três a 15 anos de prisão para cinco a 15 anos. As pessoas condenadas cumprirão toda a pena em regime fechado. As medidas, destacou, permitirão manter presa por mais tempo a quadrilha.

A proposta prevê ainda pena para quem induzir, instigar ou auxiliar alguém a usar drogas. O acusado poderá receber pena de detenção de um a três anos ou multa de 100 a 300 dias de trabalho. Atualmente é processado como traficante. Também consta do projeto a possibilidade de redução de pena para quem colaborar voluntariamente na investigação policial.

Realidade

Durante a discussão, o senador Papaléo Paes (PMDB-AP) elogiou a iniciativa e ressaltou que "todas as pessoas conscientes da situação da droga na sociedade esperavam uma alteração na lei que atendesse a realidade social". A senadora Fátima Cleide (PT-RO) parabenizou Cabral pelo relatório e lembrou que o problema da droga é uma questão de saúde pública.

O senador Augusto Botelho (PDT-RR) afirmou que a aprovação da matéria é importante para a humanização das leis no país. Ele observou que dependência química é doença praticamente incurável e que o fim da prisão de usuários é um grande passo. "Não prendemos dependentes químicos de álcool nem portadores de doenças infecciosas", salientou. Para o senador Juvêncio da Fonseca (PDT-MS), o projeto é bom para o usuário, sem facilitar a vida do traficante, "o verdadeiro criminoso".

A presidente da CAS, senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), também se associou aos elogios dos demais senadores.

As informações são da Agência Senado.

Fonte: http://cartamaior.uol.com.br/cartamaior.asp?id=13031&coluna=ultimas

quinta-feira, 13 de maio de 2004

Bayer Canadá pede registro de droga à base de maconha

13 de maio de 2004, Estadão


São Paulo - A GW Pharmaceuticals e a Bayer Healthcare, através de sua unidade no Canadá, anunciaram que submeteram ao Health Canada, órgão regulador de medicamentos daquele país, um pedido de aprovação para o Sativex, remédio à base de Cannabis (princípio ativo da maconha), desenvolvido para o tratamento de pacientes com esclerose múltipla.

O Sativex, se aprovado, será comercializado exclusivamente pela Bayer, no Canadá. O produto, que tem como principais componentes derivados extraídos da Cannabis, é indicado ao tratamento dos sintomas de debilitação causados pela esclerose múltipla, e para redução das intensas dores neuropáticas sentidas por pacientes portadores da doença. O medicamento é administrado através de um simples spray oral.

"Nos últimos anos, a GW já vem conduzindo um diálogo positivo com as autoridades canadenses relativo à entrada do Sativex no mercado", afirmou o médico Geoffrey Guy, presidente executivo da farmacêutica alemã. "Estamos ansiosos para conseguir a aprovação do produto", completou Guy, lembrando que a GW também aguarda uma resposta da MRHA, agência reguladora da Grã-Bretanha, sobre o Sativex, que vem sendo avaliado desde março de 2003.

Fonte: http://www.ibest.com.br/site/parceiros/estadao.jsp?link=http://www.ibest.estadao.com.br/agestado/noticias/2004/mai/13/39.htm?i=9&a=20040513115828

terça-feira, 4 de maio de 2004

Cresce número de consumidores de maconha nos EUA

4 de maio de 2004, UOL Últimas Notícias


CHICAGO (Reuters) - O abuso e a dependência da maconha cresceram nos Estados Unidos na década de 1990, provavelmente porque a droga ficou mais potente, segundo estudo divulgado na terça-feira.

O consumo da maconha entre adultos permaneceu estável, na casa dos 4 por cento, na década passada, mas os casos de dependência ou abuso da droga saltaram de 1,2 para 1,5 por cento do total da população, segundo estudo publicado na revista da Associação Médica Americana.

Isso significa que mais 800 mil adultos abusaram da maconha ou ficaram viciados, segundo Wilson Compton, diretor da Divisão de Epidemiologia, Serviços e Pesquisa de Prevenção do Instituto Nacional do Abuso de Drogas, em nota à imprensa.

O aumento foi mais significativo entre jovens negros dos dois sexos e entre rapazes hispânicos. "O estudo sugere que precisamos desenvolver formas de monitorar o contínuo aumento do abuso e da dependência da maconha. Também é preciso fortalecer os esforços de prevenção e intervenção, com programas voltados especificamente a jovens hispânicos e afro-americanos," disse Nora Volkow, também diretora da divisão.

A Associação Psiquiátrica Americana define abuso como o uso repetido sob condições perigosas, que implique problemas legais ou provoque prejuízos ao estudo, ao trabalho e às relações sociais. A dependência é definida como o aumento da tolerância, o uso compulsivo, a perda de controle e o consumo contínuo, apesar de problemas físicos e psicológicos.

O estudo foi feito com base em uma pesquisa realizada em 1991 e 1992 com 42.862 pessoas acima de 18 anos, e repetida de forma similar, em 2001 e 2002, com 43.093 participantes.

O aumento da potência da maconha na década passada pode ser parcialmente responsável pelos casos de abuso e dependência, disseram os autores do estudo. Fatores culturais, psicossociais, econômicos e comportamentais também influenciaram o aumento de casos.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2004/05/04/ult729u36287.jhtm

segunda-feira, 3 de maio de 2004

O Marcelo e o Dudu

3 de maio de 2004, ÉPOCA

Maitê Proença

Quer dizer que o Dudu, 50 homicídios nas costas, recebe indulto de Natal pra visitar a mulher e os filhinhos, enquanto meu colega Marcelo Anthony vira pauta de programas televisivos de quinta categoria, onde débeis mentais discutem se ele, acusado de comprar maconha, será má influência para o filho recém-adotado.

Em primeiro lugar, se existe uma lei para separar usuários de drogas de seus filhos, como é que a "Justiça" dá um mole desses pro Dudu, traficante de tóxico em quantidades industriais, que ainda por cima mata, queima e esfola sem piedade, em quantidades igualmente industriais? Dudu fugiu e está por aí fazendo um estardalhaço bélico pelos morros da cidade, sendo péssima influência, não só para os dele, como para todos os nossos filhos confinados pelo medo.

E o Marcelo, vocês conhecem? Eu conheço. O rapaz leva a vida mais careta que o gerente do meu banco. Concordo que marcou uma touca, e no pior momento possível, mas, quanto ao menino que ele e a Mônica adotaram, e que foi assunto nas rádios e programas de auditório de nível térreo por vários dias, a conversa é muitíssimo diferente. Esta criança chegou a eles nervosa, hiperativa e, aos 8 meses, não sabia sequer sentar. Com aulas de natação, orientação especializada, carinhos e quilos de amor, Francisco estava andando dois meses depois. Eu vi a transformação! Hoje, com 1 ano e meio, o que se percebe é uma criança adaptada, calma e feliz. Esse menino foi pinçado do abandono, pelo amor e pela dedicação dos pais com que a sorte lhe presenteou.

Então quem são essas criaturas com seus programas de futrica pra deliberar sobre a habilidade de um pai trabalhador, idôneo e amoroso em criar seu filho? O que é que essa gente entende da vida, e com que categoria moral vem fazer julgamentos de valor, essas pessoas que saíram do anonimato outro dia Deus sabe como? Marcelo cometeu um deslize, se é que ele estava mesmo comprando maconha (por enquanto o que houve foi uma acusação), e foi preso por falta de sorte, porque se gostasse de chope estaria num boteco bebendo com os amigos e ninguém ia enfiá-lo numa penitenciária por isso. Aliás, está cheio de pai de família que enche a lata de droga legalizada no almoço de domingo, sai dirigindo doidão com os filhos no banco de trás e fica tudo por isso mesmo.

Não faço aqui um manifesto a favor dos maconheiros do Brasil. Acho até que, nesse momento, o usuário de droga ilegal deveria interromper seu uso até as coisas mudarem. Oitenta por cento dos consumidores usam droga de forma recreativa e, não tendo o vício, podem, se quiserem, não enfiar o pó malhado no corpo. Desnorteie sua caretice intrínseca, companheiro, tomando um Lexotan ou uma cachaça e, na hora da lucidez, use a cachola pra discutir a legalização da maconha, por exemplo. Queiram ou não queiram os mal informados, a maconha é uma droga leve, e por isso seria um bom ponto de partida para a experiência de transformação social que se mostra necessária. Você que não gosta dessas coisas, pense um pouco. As pessoas consomem drogas desde o início dos tempos, todo continente tem uma erva, uma bebida ou uma planta que altera a consciência e afasta as tensões dia a dia. Sempre houve e haverá quem faça uso, e a proibição não impede que isso aconteça. É verdade que as drogas que mais destroem são justamente as legalizadas, e que 50% das mortes violentas ou acidentais no Brasil envolvem uso de álcool. Outro dado surpreendente é que a maior aflição das indústrias tabagísticas não é com processos por doenças relacionadas ao fumo, mas com o contrabando de cigarros importados ilegalmente, mostrando que o problema do tráfico também não se interrompe necessariamente com a legalidade. A questão é complexa e exige uma discussão ampla, sem os preconceitos de praxe. Minha humilde opinião, no entanto, é que as leis que hoje proíbem deveriam restringir-se a impor limites e controlar a venda, para que o acesso não seja facilitado a crianças, adolescentes e pessoas com quadros confirmados de dependência, como ocorre agora na era do fascínio pelo proibido. São R$ 40 milhões movimentados semanalmente com o comércio de entorpecentes, só na Favela da Rocinha! Toneladas de maconha estão incluídas aí, dando lucro pra traficante fazer guerra na cidade! O bebum paga imposto, o fumante de cigarro e a dona de casa também. Eu e você pagamos. Nós construímos as escolas, os hospitais e suamos a camisa por uma paz social que não vem nunca. Talvez tenha chegado a hora de botar essa gente do morro e do asfalto, os que vendem e os que usam, pra contribuir também.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT721856-2813,00.html

sábado, 1 de maio de 2004

Legalizar as drogas

Maio de 2004, Caros Amigos nº 86

José Arbex Jr.
Jornalista.

Os chamados entorpecentes são um problema de saúde pública, não de polícia. A ilegalidade das drogas só serve para proteger a lavagem de dinheiro.

“A diferença entre a droga ilegal e a legal é que uma é ilegal”, disse o ministro Nilmário Miranda (Secretaria Especial de Direitos Humanos), em Porto Alegre, no dia 22 [de abril], ao defender a descriminalização do consumo de drogas no país. “Ninguém cogita colocar na cadeia o consumidor de álcool, mas a bebida também provoca a violência e crimes, tanto ou mais que as drogas ilegais. Como o consumo de álcool e de tabaco é tratado como caso de saúde pública, entendo que o consumo de drogas ilegais também deve ser tratado da mesma maneira, não como crime”, disse o ministro. A declaração não causou grandes repercussões, mas aponta o único caminho efetivo de combate às drogas.

O senso comum, reforçado pela mídia, diz que o narcotráfico é uma “questão de polícia”. Não é. O narcotráfico movimenta por ano, no mundo, algo em torno de 500 bilhões de dólares, quantia equivalente ao produto interno bruto (PIB) brasileiro. Esse dinheiro não está na Rocinha, mas em circulação nos meios financeiros internacionais, incluindo os bancos e as bolsas de valores. As regras de sigilo bancário e a tradição de segredo que cerca os negócios financeiros são o caldo de cultura para o florescimento dos vínculos entre as máfias e os bancos. Obviamente, é muito raro que essas instituições permitam o “vazamento” de dados estabelecendo sua conexão com o crime organizado.

Bancos envolvidos

Uma dessas ocasiões aconteceu em abril de 1991, quando o banqueiro saudita Gaith Pharaon, à época um dos quinze homens mais ricos do mundo, declarou, em Buenos Aires, que todos os grandes bancos lavam narcodólares, incluindo instituições como o First Bank of Boston e o Crédit Suisse. Pharaon se ressentia do fato de que apenas o seu Bank of Credit and Commerce International (que seria o estopim de um grande escândalo financeiro, em 1992) fosse citado com freqüência por suas vinculações com o tráfico. Pharaon era também dono de uma cadeia de supermercados na França, acionista da rede mundial do Club Mediterranée e da rede de hotéis Hyatt.

As organizações criminais se ajustaram ao processo de globalização da economia neoliberal, o qual implica um fluxo livre de capitais através de sistemas informatizados. As organizações criminosas atuais articulam vínculos internacionais com capacidade de influir nos rumos da política financeira de um país. Nos locais em que atuam, formam “Estados dentro de Estados”, como na Colômbia e na Rússia, e agora, evidentemente, no Brasil. Criam grupos que reconhecem apenas suas próprias leis, fortemente municiados com armas de tecnologia avançada e dinheiro suficiente para corromper juízes, políticos (eventualmente, até presidentes), além de comprar jornais, emissoras de rádio e televisão.

A evidência mais dramática do alcance das “novas máfias”, até agora, foi dada nos anos 80, pela Operação Mãos Limpas, na Itália, durante a qual a investigação levada a cabo pelo Poder Judiciário prendeu ou indiciou altas personalidades, incluindo magistrados, ministros de Estado, senadores e boa parte da cúpula política, em particular honrados senhores da Democracia Cristã. Coube ao principal expoente da operação, o juiz Giovanni Falcone, propor a realização de reuniões internacionais contra o crime organizado, no quadro da ONU. A idéia, proposta por Falcone pouco antes de seu assassinato, em maio de 1992, decorreu da percepção de que nenhum país poderia, isoladamente, combater o poder avassalador do crime organizado.

No Brasil, é impossível calcular com exatidão o impacto financeiro e político do dinheiro “sujo”. Uma das razões para isso foi explicitada, no início dos anos 90, durante o escândalo Collor-PC Farias: as autoridades não tinham, à época, o menor controle sobre a movimentação bancária. Essa situação foi agravada pelas leis aprovadas no início de 1992 pelo presidente Collor, permitindo que capitais estrangeiros – incluindo, obviamente, os narcodólares – comprassem títulos e ações nas bolsas de valores do país. Depois disso, houve um início de processo de “moralização” do sistema, principalmente no setor do Fisco, mas que não conseguiu impedir a prática de megafraudes, como a do Banestado, responsável pela exportação ilegal de bilhões de dólares. E mais: as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) sobre narcotráfico e sistema financeiro nunca chegaram às últimas conseqüências. Foram convenientemente interrompidas, quando os seus caminhos implicaram até a patente de coronel da Polícia Militar.

Descriminalização

Dado esse quadro geral, um dos caminhos mais óbvios para o controle do narcotráfico é aquele apontado por Nilmário Miranda: a descriminalização das drogas, ponto de vista defendido até por intelectuais conservadores, como o economista Milton Friedman, da Escola de Chicago. A sua eventual legalização, numa etapa mais avançada, implicaria a sua taxação pelo governo, com uma arrecadação extra que poderia construir hospitais, escolas e centros de reabilitação; permitiria o controle dos laboratórios, que teriam de garantir a pureza de seu produto; e possibilitaria a sindicalização de camponeses que, muitas vezes, são obrigados a trabalhar em condições de escravidão. Mais ainda: a legalização cortaria uma das fontes de renda da rede de policiais e políticos que vivem de propinas e extorsão.

Mas a legalização, ou mesmo a descriminalização, não interessa à Casa Branca. Da boca para fora, Washington é o “inimigo número 1” das drogas; no mundo real, a CIA (serviço secreto) patrocina e promove o narcotráfico, além de usar os narcodólares para armar, treinar e financiar grupos terroristas. Esse esquema permitiu à CIA, nos anos 80, organizar a Al Qaeda de Osama bin Laden, quando interessava que fundamentalistas muçulmanos combatessem o Exército Vermelho no Afeganistão. Esse mesmo esquema armou o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), nos anos 90, quando Bill Clinton atacou a Sérvia, tradicional aliada da Rússia na Europa Central. Em seu recente livro Guerra e Globalização – antes e depois de 11 de Setembro de 2001 (editora Expressão Popular), o professor canadense Michel Chossudovsky produz abundância de evidências sobre isso tudo.

A “guerra ao narcotráfico” também permite aos Estados Unidos enviarem as suas tropas à Amazônia, em vasta operação militar de reconhecimento e ocupação da maior área de reserva biológica e mineral do planeta. A “guerra suja” armada pela Casa Branca na Colômbia e no Equador, conhecida como Plano Colômbia (agora, Iniciativa Andina), promove o deslocamento de nações indígenas de áreas que são de interesse das transnacionais; na Colômbia, causa uma imensa tragédia social: cerca de 2 milhões de camponeses expulsos de seus lares pela violência abarrotam as periferias das cidades. No Brasil, a “guerra ao tráfico” possibilita ao FBI e à DEA (agência de combate às drogas) a criação de mecanismos de controle da Polícia Federal e dos serviços de informação brasileiros, como demonstra, exaustivamente, o jornalista Bob Fernandes, na série de denúncias feitas na Carta Capital.

Direito de opção

Descartada a via da legalização das drogas, só resta a do controle policial e repressão. Mas cada nova medida repressiva tomada pelo Estado apenas gera novas respostas do lado das máfias, ou através de atos violentos, ou com novos “investimentos” em subornos e corrupção, ou ainda mediante a adoção de novas tecnologias (os grupos mafiosos são tão sofisticados, que já criaram a maconha transgênica, capaz de exalar um odor que engana os cães rastreadores da polícia). No meio disso tudo, perplexo e angustiado, está o cidadão comum. A Rocinha é um resultado desse processo.

A alternativa é dar aos cidadãos o direito de decidir livremente sobre o uso ou não das drogas. O Estado tem obrigação de oferecer todos os meios ao seu alcance para esclarecer os cidadãos sobre as eventuais conseqüências do consumo de narcóticos, bem como oferecer meios médicos, sociais e psicológicos, se necessário, para recuperar pacientes vitimados por qualquer espécie de droga – incluindo o tabaco e o álcool. A defesa do direito individual de opção, combinada com a exigência de que o Estado cumpra com suas obrigações democráticas, remete à questão maior colocada pelo exercício da cidadania.

Fonte: http://carosamigos.terra.com.br/da_revista/edicoes/ed86/jose_arbexjr.asp

quarta-feira, 28 de abril de 2004

Drogas: apertando o usuário

28 de abril de 2004, ISTOÉ Online nº 1803


Há quem defenda a legalização e há quem diga que comprar um baseado alimenta a violência do crime organizado. Afinal, qual é a responsabilidade de quem usa drogas?

Liana Melo e Ricardo Miranda
Colaboraram: Lia Bock, Madi Rodrigues e Francisco Alves Filho.

Aos 19 anos, fumou o primeiro baseado. Um ano depois, subia o morro para comprar uma trouxinha. Hoje, Hilda, como pediu para ser identificada, publicitária bem-sucedida, 41 anos, casada, se define como usuária recreativa e se abastece sem sair de casa, usando um teledrogas. Vinte anos mais novo, o estudante Daniel Edde não conhece Hilda, mas freqüentam a mesma praia: o Arpoador, um dos mais bonitos cartões-postais do Rio de Janeiro. Daniel nunca experimentou drogas, mas vive cercado por usuários. “A droga está em todo lugar e quem usa está alimentando a violência do tráfico”, discursa ele, esquentando uma polêmica que cresceu nos últimos dias. “Quem alimenta a violência é o Estado, que mantém a droga na ilegalidade”, opina Hilda. A campanha que responsabiliza os usuários pelo financiamento do arsenal dos traficantes ganhou fôlego com a guerra dos bandidos pelos pontos-de-venda de drogas na favela da Rocinha. O ator Marcello Antony entrou como coadjuvante neste bate-boca, ao ser flagrado em Porto Alegre comprando maconha turbinada. Na UTI de uma clínica em Buenos Aires, o ex-craque argentino Diego Maradona está internado com suspeita de overdose. “Temos que acabar com a hipocrisia e tirar nossas máscaras. Os pequenos usuários sustentam o tráfico”, acusa o ator Felipe Camargo, ex-dependente. A polêmica está longe do fim.

“Não acredito em campanhas na tevê, em passeatas com camisetas brancas, em abraços simbólicos, isso tudo é bobagem. Acredito em lei, cana dura”, impacienta-se o cineasta Arnaldo Jabor, que em sua última coluna no jornal O Globo, intitulada “O crime no Rio vive do nariz dos otários”, diz que a violência começa e acaba “no nariz das classes dominantes”. Oito em cada dez compradores de drogas, segundo estatísticas oficiais, são usuários eventuais ou recreativos, cada vez mais jovens, meninos e meninas entre 11 e 12 anos que começam a experimentar. Os demais são dependentes químicos, inimputáveis e passíveis de tratamento. Chefe da Secretaria Nacional Antidrogas do governo Lula, o general da reserva Paulo Roberto Yog acredita em campanhas. A política nacional antidrogas, diz ele, recomenda que o usuário seja conscientizado de que, ao usar entorpecentes, contribui com os cofres do crime organizado. “Mas conscientizar não é responsabilizar”, ressalva. Por isso, o governo está capacitando professores da rede pública e membros das comissões de prevenção de acidentes de trabalho para lidar com usuários nas escolas e empresas.

Campanhas desse tipo não são consenso. Ex-secretário nacional de Segurança Pública, o coronel da reserva da PM paulista José Vicente da Silva Filho critica a estratégia. “As campanhas passam mais culpa do que responsabilidade. E a repressão é de uma penúria de estarrecer. Como pode entrar tanta droga e arma neste País?”, pergunta. A argumentação é parecida com a do ex-secretário nacional Antidrogas e presidente do Instituto Giovanni Falcone de Ciências Criminais, juiz Walter Fanganiello Maierovitch. Ele acha surrado o conceito de que o usuário é responsável porque sem ele não haveria oferta da droga. “Essa argumentação é de um cinismo grotesco. Eu poderia dizer, por outro lado, que sem oferta também não haveria demanda. Então, o que é melhor: combater o tráfico ou o usuário?”

O advogado carioca Alexandre Dumans concorda com Maierovitch: “Não há nada mais parecido com a inquisição medieval”, afirma. Na sua opinião, culpar os usuários pela violência é uma espécie de “embuste retórico”. Inoperante para combater o comércio de entorpecentes, diz ele, o poder público atira no culpado que consegue enxergar. Como o usuário é o elo mais fraco, nada mais cômodo do que responsabilizá-lo. “O usuário é tratado como o médico e o monstro”, argumenta o advogado Roberto Busato, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Em seu dia de monstro, Marcello Antony foi flagrado no sábado 17 comprando 100 gramas de maconha misturada com produtos químicos na porta de um hotel em Porto Alegre. Passou seis horas detido, mas foi solto pelo juiz Mauro Borba, que o enquadrou por porte de droga. “O usuário não é um inocente, ele financia a violência do tráfico”, acredita o magistrado. O porte é definido levando-se em conta as circunstâncias da prisão, e não apenas a quantidade apreendida. A condenação varia de seis meses a dois anos, sendo normalmente convertida em penas alternativas. Em breve, o porte deixará até de ser caso de polícia. Um projeto de lei aprovado na Câmara e tramitando no Senado, com o apoio do governo federal, limita a condenação dos usuários a penas alternativas. “Na prática muda pouco; hoje já não existem usuários presos no Brasil”, relata o juiz Flávio Dino, coordenador do Juizado Especial Federal em Brasília e diretor da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe). Se a responsabilidade jurídica é pacífica, pondera Dino, a grande questão é aferir a responsabilidade social de quem consome drogas.

Diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Maria Thereza de Aquino está convencida de que os usuários devem ser responsabilizados. “Mas é muito difícil para essa garotada associar o seu baseado com a arma de fogo do bandido”, diz ela. No caso dos adolescentes, que sobem os morros para comprar suas trouxinhas, ela responsabiliza os pais, que deixam vago o lugar da autoridade dentro de casa. A psicóloga Fernanda Maria Amaral concorda que falta pulso aos pais. “Depois de um período de grande repressão, houve uma liberação exagerada”, explica Fernanda, que é coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Gama Filho, no Rio. “Fumar ou cheirar droga não é sinal de rebeldia, de personalidade. Pai não tem que fumar maconha junto com filho para impedir que fume na rua. Não pode fumar e pronto, tem que ter limite. Pai não pode ter medo de dizer não. Palmadinha não faz mal, tomei palmadas e nunca usei drogas.”

Acostumados a enfrentar diariamente o tráfico, policiais cariocas vêem a questão com um pragmatismo quase inesperado. “O Rio colhe o fruto da sua infância abandonada. Os abastados cresceram sem limites, os pobres sem perspectivas”, concorda a inspetora Marina Magessi, coordenadora de Inteligência da Secretaria de Segurança do Estado do Rio. “Hoje, quem manda no Rio são esses moleques viciados desde criança, sem estrutura familiar, que brincam de guerra. Quem compra deles não entendeu ainda que toda coca cheirada aqui tem sangue no meio”, afirma. Marina reconhece que nem a polícia tem mais a ilusão de eliminar a venda de drogas: “O tráfico existe desde que o mundo é mundo, queremos acabar é com a violência causada por ele.” Segundo a Polícia Civil, 80% dos crimes do Rio, excluindo os passionais, têm raízes no tráfico de drogas.

Lados da guerra

Os anos 60 – época em que fumar maconha era uma transgressão sem conseqüências – seriam bem diferentes com o poderio bélico dos atuais narcotraficantes. “Como numa guerra real, onde há que se decidir de que lado se está, é urgente as pessoas assumirem responsabilidades e pararem de transferir os problemas”, afirma o poeta e escritor Affonso Romano de Santanna. “Na atual situação, o usuário, seja em que escala for, está financiando o tráfico, financiando a compra da bala que o matará ou a alguém de sua família e ajudando a fechar a porta de sua loja”, opina. O poeta e compositor Jorge Mautner cresceu sob a inspiração dos poetas beatniks que pregavam a busca de novas experiências, e segue hoje em outra direção. No CD Eu não peço desculpa, gravado em parceria com Caetano Veloso, incluiu a música Coisa assassina, cuja melodia é assinada pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil. “Essa questão das drogas está adquirindo aspecto de guerra civil”, lamenta. A letra da música é clara: “Maldita seja essa coisa assassina / Que se vende em quase toda esquina / E que passa por crença, ideologia, cultura, esporte / E no entanto é só doença, monotonia da loucura, e morte“. Mautner concorda que quem consome drogas deve refletir sobre o destino do dinheiro que ele entrega ao tráfico. “Alguns artistas importantes que usam drogas acham que a solução seria a liberação do uso. Acho que seria um passo muito temeroso.” Cristina Maria Britis, que coordena um programa de prevenção a uso de drogas na PUC, acha que a liberalização do uso de entorpecentes pode acontecer, desde que a sociedade se prepare. “Só assim as pessoas poderão fazer escolhas mais autônomas com relação ao consumo de drogas”, pondera. Coordenadora do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, a juíza aposentada Maria Lúcia Karam também acha que a proibição é a mãe de todas as violências. “Quem patrocina a violência é o Estado com sua política proibicionista.”

O compositor e rapper Marcelo D2, que já foi preso várias vezes sob acusação de fazer apologia das drogas, repele a idéia de responsabilizar os usuários. “Isso é uma maneira de tirar a culpa do governo”, enxerga D2, distinguindo o comércio do produto vendido. “Essa campanha é uma ignorância, a violência não tem nada a ver com drogas. Tem a ver com o tráfico de drogas, que é um negócio”. Marcelo D2 é outro que acha ineficazes as mensagens veiculadas na tevê que jogam a culpa na cara do consumidor de drogas. “A primeira vez que vi um desses anúncios, estava fumando e pensei: não vem jogar essa culpa pra cima de mim. Fica parecendo que o usuário é a favor do traficante, mas não é.” Inspirado na liberal Holanda, o artista importou uma sugestão radical para colocar um fim na tríade drogas-tráfico-violência: legalizar as drogas e transferir para o governo a tarefa de controlar o negócio.

O escritor Luiz Carlos Maciel, que viveu a contracultura – movimento de contestação e apologia da ideologia hippie –, acha que a discussão é uma espécie de “demonização neurótica”. Defensor contumaz da liberalização das drogas, o escritor acha que o enorme volume de dinheiro gerado pelo tráfico deveria estar pagando imposto, e não sendo sonegado. “As autoridades são as maiores responsáveis por essa violência porque estão permitindo que uma indústria muito poderosa prospere ilegalmente”, opina. Outra figurinha carimbada em defesa do legalize, o deputado federal sem partido Fernando Gabeira faz coro: “Tudo isso é delirante. Os índices de acidentes de trânsito causados pelo álcool são altíssimos, provocam muitas mortes, mas as campanhas continuam tratando o motorista alcoolizado como vítima, e não como culpado”, compara.

Fonte: http://www.terra.com.br/istoe/1803/brasil/1803_capa_droga_01.htm

terça-feira, 27 de abril de 2004

Revista High Times não quer falar só para maconheiros

27 de abril de 2004, Observatório da Imprensa nº 274

Fumar maconha é proibido nos EUA, mas a liberdade de expressão ainda é um dos direitos mais sagrados no país. É por isso que a revista High Times consegue permanecer no mercado americano há exatos 30 anos, apesar de falar praticamente só da erva proibida. Em 1974, Richard Stratton e Thomas Forcade lançaram a publicação e conseguiram fazê-la crescer até alcançar uma respeitável tiragem de 400 mil exemplares. Em 1978, no entanto, Forcade se suicidou e, em 1982, Stratton foi processado por tráfico de drogas. Ele argumentou que a erva em seu poder era apenas material para escrever um livro justamente sobre narcotráfico, mas não convenceu os jurados.

Como reporta Peter Carlson, do Washington Post [20/4/04], durante os oito anos em que Stratton ficou recluso num presídio federal, diversos editores comandaram High Times, lutando bravamente contra o governo, que tentava fechá-la de diferentes maneiras. Enfim, as autoridades perceberam que atingiriam a publicação atacando seus anunciantes, basicamente fornecedores de apetrechos para consumo e plantio da Cannabis.

No ano passado, Stratton voltou ao comando da revista, que está com a circulação reduzida a 150 mil cópias, e chegou à conclusão de que não poderia continuar direcionada apenas ao público "fumante". Por isso, contratou um novo editor-executivo, o jovem John Buffalo Mailer – filho do escritor Norman Mailer – para incrementar o conteúdo.

Assim, nos últimos tempos, a High Times tem publicado matérias de interesse geral, sobre assuntos como a guerrilha na Colômbia, prostituição e reforma do sistema educacional. Claro, a maconha continua tendo papel de destaque, mas, às vezes, também em matérias diferenciadas, como uma da última edição, em que um repórter constata que a ausência de leis no Iraque pós-Saddam tornou permitido puxar fumo no meio da rua, num país em que o consumo de drogas antes era punido com a morte.

Para os maconheiros mais ortodoxos, que só querem mesmo saber da erva, foi lançado o título-irmão Grow America, que segue, entre outras coisas, ensinando como cuidar das plantinhas e dando receitas culinárias ilícitas.

Fonte: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=274MON012

sábado, 24 de abril de 2004

Holanda tenta acabar com o "turismo maconheiro"

24 de abril de 2004, Swissinfo


Marcel Michelson

AMSTERDÃ (Reuters) - É hora dos últimos pedidos para os estrangeiros que se divertem nos coffee shops holandeses. O governo decidiu na sexta-feira combater o "turismo das drogas" e tornar mais rígidas as suas leis sobre a maconha, por causa da pressão de outros países europeus.

Um teste vai começar em breve na cidade de Maastricht, no sul da Holanda, perto da fronteira com a Alemanha e a Bélgica, onde a venda de drogas leves a estrangeiros será proibida.

"Queremos acabar com todos os aspectos do turismo das drogas, o fato de que as pessoas vêm à Holanda para usar drogas leves e levá-las para casa", disse Wim Kok, porta-voz do Ministério da Justiça.

Pelas leis holandesas, o uso de drogas leves (maconha e haxixe) não é permitido, porém é tolerado, reconhecendo que não há policiais suficientes para prender todos os infratores. Isso incomoda países europeus que adotam políticas mais duras.

Na Holanda, consumidores de maconha podem comprar e fumar a droga legalmente em centenas de coffee shops regulamentados pelo governo.

O governo de centro-direita quer acabar com as hordas de estrangeiros, principalmente jovens, quer vagam pelas ruas de cidades como Amsterdã em busca de um baseado. Países como a França abominam o retorno de seus cidadãos de olhos vermelhos nos trens.

O Ministério do Interior promete agir em conjunto com as prefeituras para garantir um melhor cumprimento das leis existentes contra a maconha, incluindo distâncias mínimas entre os coffee shops e escolas.

O governo pretende ainda receber cooperação policial internacional contra o "turismo das drogas" e atacar também os grandes produtores de maconha, assim como o "envolvimento criminal" das chamadas "grow shops", onde as pessoas podem comprar sementes para cultivar a sua própria droga.

O Ministério da Saúde, por sua vez, vai estudar as possíveis conseqüências do uso da maconha com altos teores de THC, o princípio ativo da droga.

O estudo pode levar à reclassificação dessas variedades de maconha, que passariam a ser consideradas drogas pesadas, segundo Bart Kuik, porta-voz do ministério.

A Holanda, onde os clientes podem escolher entre variados "menus" dos coffee shops, vem notando um súbito aumento no teor de THC num tipo de maconha cultivado no país, a Nederwiet, o que se deve a métodos mais avançados de cultivo.

Alguns médicos dizem que o uso da maconha aumenta o risco de depressão e esquizofrenia, mas a droga é tolerada pelos holandeses há décadas. Os coffee shops são proibidos de venderem drogas pesadas e são rigidamente monitorados.

A Holanda, que foi o primeiro país a legalizar a eutanásia, no ano passado se tornou também o primeiro em que a Cannabis é vendida em farmácias, sob prescrição médica, para pacientes crônicos.

Fonte: http://www.swissinfo.org/spt/Swissinfo.html?siteSect=143&sid=4890992

sexta-feira, 23 de abril de 2004

Secretário defende liberar uso de drogas

23 de abril de 2004, Brasil Online – Notícias


Sílvia Freire
da Agência Folha

O ministro Nilmário Miranda (Secretaria Especial de Direitos Humanos) defendeu ontem, em Porto Alegre, a descriminalização do consumo de drogas no país. Para o ministro, o usuário de drogas ilegais deve ser tratado com políticas de saúde da mesma forma que aqueles que consomem drogas legais, como o álcool e o cigarro, são tratados.

"Ninguém cogita colocar na cadeia o consumidor de álcool, mas a bebida também provoca a violência e crimes, tanto ou mais que as drogas ilegais. Como o consumo de álcool e de tabaco é tratado como caso de saúde pública, entendo que o consumo de drogas ilegais também deve ser tratado da mesma maneira, não como crime", disse o ministro, segundo informações veiculadas pela Agência Brasil, da Radiobrás.

Opinião pessoal

Para Nilmário, a "diferença entre a droga ilegal e a legal é que uma é ilegal". O ministro disse que essa era uma opinião pessoal. A assessoria de imprensa da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos confirmou as declarações dele.

As declarações do ministro foram dadas a jornalistas um pouco antes da participação dele, na tarde de ontem, no seminário Paz é a Gente que Faz, evento promovido pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

A platéia do seminário, que faz parte da campanha Por uma Cultura de Paz, era composta em sua maioria por crianças, adolescentes, líderes comunitários e professores municipais.

Em sua palestra, Nilmário Miranda defendeu o treinamento e a capacitação das polícias para o combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Ele disse também que as Forças Armadas não podem assumir a função de polícia no combate ao narcotráfico.

Fonte: http://noticias.bol.com.br/geral/2004/04/23/ult95u93253.jhtm

sexta-feira, 16 de abril de 2004

Substância controversa

16 de abril de 2004, Agência FAPESP


Thiago Romero

Redução da capacidade motora, taquicardia, hipotermia, retardo psicomotor, crises de ansiedade, prejuízos à concentração e depressão. A lista de problemas decorrentes da aplicação do delta-9-tetrahydrocannabinol (THC), um dos 66 canabinóides presentes na maconha, verificada em testes em animais, é bastante conhecida da comunidade científica.

O que os pesquisadores ainda não têm certeza, mas vêm estudando em diversas partes do mundo, é até que ponto o uso medicinal da maconha pode ser benéfico para os seres humanos. Em palestra realizada quinta-feira (15), em São Paulo, durante o simpósio "Cannabis sativa e substâncias canabinóides em medicina", Roger Pertwee, professor de neurofarmacologia da Universidade de Aberdeen, na Inglaterra, mostrou o lado positivo da questão.

Experimentos realizados pelo cientista britânico, não apenas em animais, mas também em humanos, têm mostrado que substâncias baseadas em canabinóides podem produzir efeitos analgésicos importantes. "Existe a possibilidade de criar mecanismos que atuem diretamente no cérebro, sobre os receptores responsáveis pela percepção de dor, onde a droga ativa poderia causar alívio imediato", afirmou.

Pertwee lembrou que o potencial terapêutico do THC tem sido testado em alguns países, como no combate a náuseas e vômitos causados por drogas anticâncer. Segundo ele, canabinóides também estimulam o apetite, o que pode ajudar a reverter o processo de perda de peso excessiva em pacientes portadores de AIDS.

Na década de 80, nos Estados Unidos e na Europa, medicamentos à base de THC sintéticos passaram a ser usados em casos especiais, como para aliviar a dor em tratamentos contra o câncer e a AIDS. Recentemente, entretanto, leis federais norte-americanas têm restringido tal uso medicinal.

"Se um médico nos Estados Unidos prescrever a maconha hoje, poderá ter sérios problemas com o governo", afirmou Brian Thomas, diretor do departamento de Química Bioanalítica do Research Triangle Institute, que também esteve no evento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para Jorge Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e Presidente do Conselho Nacional Antidrogas (Conab), o assunto ainda tem muito mais dúvidas do que certezas. "Estudos em alguns países têm atestado a possibilidade de uso médico da Cannabis sativa, mas tais experiências ainda são insuficientes para dar conta de todas as questões e contradições que se apresentam", disse no evento em São Paulo.

Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data%5Bid_materia_boletim%5D=1661

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Consumo de maconha alcança o de álcool entre jovens franceses, diz pesquisa

15 de abril de 2004, UOL Corpo e Saúde


Estudo publicado nesta quarta (14/04) revela que 9% dos rapazes e 4% das garotas são usuários regulares do entorpecente.

Paul Benkimoun
Tradução: Jean-Yves de Neufville.

Em dez anos, o número de adolescentes que experimentaram a maconha duplicou e, para os jovens a partir de 16 anos, a taxa de consumo regular alcançou o mesmo nível que a do álcool. Os dados foram extraídos dos capítulos que dizem respeito à França na pesquisa intitulada Espad 2003 (European School Survey Project on Alcohol and other Drugs - Projeto de Pesquisa nas Escolas Européias sobre o Álcool e outras Drogas), que foi publicado nesta quarta-feira (14/04).

A pesquisa sobre os níveis de consumo de substâncias que agem sobre o cérebro foi conduzida em trinta países europeus, com base num questionário comum. Na França, ela foi realizada junto a mais de 16 mil alunos com idade de 12 a 18 anos, os quais são escolarizados em 400 estabelecimentos do segundo grau.

O estudo foi coordenado em conjunto pelo Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica (cuja sigla em francês é Inserm), e realizado pela equipe de Saúde do adolescente, dirigida por Marie Choquet, e ainda pelo Observatório Francês das Drogas e das Toxicomanias (OFDT, sendo realizado pelo pólo de Inquéritos sobre a população geral, pilotado por François Beck), em parceria com o ministério da Educação nacional. 88% dos rapazes de 12 a 18 anos, e 84% das garotas com a mesma idade já consumiram pelo menos um dos três produtos psicoativos mais difundidos: o álcool, o tabaco ou a maconha.

Enquanto ele permanece muito reduzido aos 12-13 anos, o consumo de maconha "aumenta nitidamente a partir de 14 anos e acaba envolvendo a metade das garotas e os dois terços dos rapazes aos 18 anos", indicam os autores. "É portanto um erro", constata Marie Choquet, "afirmar que a experimentação da maconha está sendo iniciada cada vez mais cedo". O consumo experimental do álcool continua sendo superior ao do tabaco, com uma diferença mais importante aos 12 anos do que aos 18 anos.

As outras substâncias ilícitas são pouco consumidas: menos de 5% para as anfetaminas, o LSD, a cocaína e o ecstasy. O consumo de produtos que devem ser inalados (colas, solventes) varia, contudo, entre os rapazes, de 8,6% aos 12-13 anos, a 12% para os que têm entre 16 e 17 anos, e, entre as garotas, de 6,7% aos 12-13 anos, a 9,7% para as que têm entre 16 e 17 anos.

O fenômeno mais notável diz respeito às utilizações "regulares", isto é, o consumo de pelo menos um cigarro por dia e de pelo menos 10 ingestões por mês de álcool e de maconha. Mais uma vez, os consumidores permanecem raros antes dos 14 anos, qual quer que seja a substância.

Mas "o consumo regular de maconha alcança, com a idade - a partir dos 16 anos - o do álcool", sublinham os autores da pesquisa. Com isso, aos 16 anos, 9% dos rapazes consomem regularmente maconha, enquanto 10% bebem regularmente álcool; entre as garotas, a proporção é 4% para a maconha, e de 5% para o álcool.

"O consumo de álcool permanece estável, enquanto o consumo de maconha aumentou sensivelmente", precisa François Beck. Por sua vez, Marie Choquet não exclui que "no futuro, a maconha possa passar para o segundo lugar entre os produtos consumidos regularmente".

Será que os jovens consumidores regulares são os mesmos para o álcool e a maconha? "Uma minoria, da ordem de um quarto dos consumidores regulares, utiliza os dois", afirma François Beck. "O restante divide-se em duas partes iguais, entre os que só consomem regularmente um dos dois produtos. Estes modos de consumo seguem dois modelos que permanecem bastante diferenciados entre si."

"Nitidamente, o tabagismo cotidiano está muito mais desenvolvido do que o consumo regular de álcool", precisam os autores. A proporção de fumantes diários de tabaco aumenta de 7% para 37% entre a faixa que vai dos 14 aos 18 anos entre os rapazes, e de 6% para 34% entre as garotas.

Diferentemente das outras substâncias psicoativas, não existe, em relação ao tabaco, nenhuma diferença nítida em função do sexo. Contudo, tanto entre os rapazes como entre as meninas, os consumos cotidianos de tabaco estão recuando, após terem aumentado entre 1993 e 1999.

"Estes dados evidenciam a importância do discurso sobre o produto, e não apenas sobre uma abordagem global dos hábitos de consumo", indica Marie Choquet. Esta pesquisa deverá servir de estímulo para o presidente da Missão Interministerial de luta contra a droga e a toxicomania, Didier Jayle, que pretende promover uma campanha de prevenção específica do consumo de maconha.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/ult580u1081.jhtm

segunda-feira, 12 de abril de 2004

Maconha com cultivo caseiro

12 de abril de 2004, O DIA Online


Usuários da droga plantam a erva em casa para consumo próprio.

Sérgio Ramalho

Marley é o pseudônimo usado pelo estudante de Direito Eduardo, 25 anos, numa sala de bate-papo na Internet dedicada à apologia da maconha. Usuário da droga, ele aprendeu a plantar Cannabis sativa pela rede mundial de computadores. Cultiva a erva numa estufa improvisada num velho armário no quintal de casa, no Rio. O universitário faz parte de um grupo de dependentes que adotou o cultivo doméstico da planta para evitar a figura do traficante e, conseqüentemente, não financiar a violência das quadrilhas.

Eduardo garante que a prática de cultivar maconha vem ganhando terreno entre os usuários da droga mais esclarecidos. “Gente com acesso à educação, que trabalha e usa a maconha eventualmente”, define o universitário, empregando um discurso semelhante ao dos demais participantes das muitas salas de bate-papo dedicadas ao assunto. Não há números oficiais para respaldar Eduardo. Contudo, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima em 5 milhões o número de usuários freqüentes de maconha no Brasil e 147 milhões no mundo.

Secretário Nacional Antidrogas, o general Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa alerta sobre as conseqüências do plantio. Segundo o Código Penal, o cultivo da droga pode ser considerado tráfico. O Artigo 12 não especifica a quantidade necessária para essa tipificação do crime. Com isso, cabe à Justiça definir a punição para quem for flagrado plantando maconha.

Representante do escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crime para o Brasil e Cone Sul, Giovanni Quaglia confirma a dificuldade de elaborar uma estatística com números exatos sobre o problema. “Como o consumo é ilegal, as pessoas raramente admitem que são dependentes”, justifica. Com isso, as pesquisas trabalham com o número de pessoas que buscam auxílio terapêutico.

Em 2001, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas realizou levantamento sobre o uso de entorpecentes no Brasil. O estudo indicou que 6,9% da população já experimentou maconha, o equivalente a aproximadamente 30 milhões de pessoas. A maioria dos usuários está na faixa etária entre 18 e 24 anos.

Fonte: http://odia.ig.com.br/policia/pl120410.htm

quarta-feira, 31 de março de 2004

A lista de tio Sam

31 de março de 2004, CartaCapital nº 284


No registro da embaixada dos EUA, Adidos, Conselheiros… Na realidade, 20 entre dezenas de agentes secretos espalhados pelo País.

Bob Fernandes

As denominações são variadas. Na lista de funcionários da embaixada norte-americana em Brasília, eles são, em português, Adidos Civis, Adidos Conselheiros para Assuntos Regionais, Adidos para o Combate às Drogas, simplesmente Adidos... Em inglês, são os Country Attaché, Deputy Attaché, Legal Attaché, e por aí afora. As denominações são a cobertura para o segredo. Nem tão secreto assim, uma vez que tantos deles, quando da troca de cartões e apresentações aos congêneres de várias partes do mundo, e do Brasil também, não escondem o que fazem. Eles são agentes secretos, policiais, espiões dos Estados Unidos. Trabalham com cobertura diplomática, movem-se País afora sem controle algum, apesar dos protocolos em contrário estabelecidos em Acordos e Convênios que apenas escancaram as portas, no mínimo, em troca de alguns milhões de dólares e equipamentos: computadores, tecnologia para escutas, etc., etc.

CIA E DEA PRESSIONAVAM O GOVERNO
Junto à Presidência, os Serviços Secretos e a embaixada dos EUA tramavam a queda do secretário Wálter Maierovitch…

CartaCapital: O senhor dirigiu a coordenação da repressão às drogas? Quem o convidou? Que reações o senhor enfrentou?

Wálter Fanganiello Maierovitch: Fui o primeiro secretário Nacional para o fenômeno das drogas ilícitas. A Secretaria ficava na Presidência da República. Permaneci na Secretaria de novembro de 1998 ao início de março de 2000, com status de ministro. O convite foi formulado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. A Secretaria tinha, dentre outras, a tarefa de coordenar as ações de repressão ao narcotráfico. Quando saí da secretaria, o presidente FHC, em face da pressão norte-americana (embaixada, DEA e CIA) e da Polícia Federal, entendeu em tirar essa sua original atribuição. Justificou alegando sobreposição de funções. Àquela altura, a ação de inconstitucionalidade da Secretaria – argüida por instância da direção da Polícia Federal – já havia sido rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal.

Como se percebe, a própria Polícia Federal pressionava o presidente Fernando Henrique, alegando ter ele cometido uma inconstitucionalidade, ao criar a Secretaria Nacional Antidrogas.

No Palácio do Planalto corria a notícia de que o então delegado-geral da Polícia Federal (Vicente Chelotti) havia “grampeado”, com a CIA, o presidente Fernando Henrique. Não se tratava de corrupção, mas de conversas pessoais do presidente, com flagrante violação ao seu direito de intimidade.

Numa articulação montada pela CIA, o delegado Chelotti viajou para o Caribe a pretexto de investigar o presidente. Voltou de mãos vazias e nenhum processo administrativo foi iniciado contra ele. O presidente sabia tratar-se de jogo de pressão da Polícia Federal e CIA, pois nunca teve contas no paraíso fiscal. A PF, aliás, também tentou derrubar o general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar.

CartaCapital: Como foi sua relação com a CIA, a DEA e a embaixada norte-americana?

Wálter Fanganiello Maierovitch: A embaixada norte-americana, a CIA e a DEA pressionavam para a minha saída da Secretaria, pois, quando assumi, declarei ao Grupo de Dublin (reunido na embaixada norte-americana e composto de todos os embaixadores servindo no Brasil) que a política para as drogas seguiria o modelo europeu e, a partir daquele momento, estava dado o adeus à linha norte-americana.

A NAS tinha uma linha diferente e até forneceu computadores para a instalação, na Secretaria, de um serviço telefônico de apoio aos usuários.

Quando assumiu o FBI no Brasil, o doutor Carlos Costa foi muito correto e leal. Avisou-me de que o seu governo estava inconformado com as novas diretrizes da Secretaria que eu dirigia e, por isso, não haveria nenhuma cooperação ou diálogo.

CartaCapital: Os americanos procuraram retaliar decisões suas?

Wálter Fanganiello Maierovitch: A minha recusa em apresentar ao presidente FHC uma proposta de regulamentação da lei sobre tiro de destruição de aeronaves suspeitas gerou retaliações, como o corte do fornecimento, para o Brasil, de informações sobre navegação aérea obtidas pelo Comando Sul (KeyWest) e as bases norte-americanas de combate ao narcotráfico de Curaçao, Aruba e Iquitos.

O governo norte-americano impôs a tal lei para a América Latina. Era uma espécie de pena de morte, como se comprovou depois, com a derrubada de um avião com uma missionária norte-americana no espaço aéreo peruano. O avião do qual partiram os disparos estava sendo monitorado por um caça norte-americano: eles seguiam ao lado os aviões colombianos, peruanos e bolivianos, para verificar se as “ordens” eram cumpridas. Regra: quem passa a informação tem o direito de assistir ao abate.

No particular, o presidente deu total apoio ao não abate. Mas a pressão foi tamanha, a ponto de o embaixador brasileiro, Rubens Barbosa, ter de entrar em campo. Após uma reunião com a secretária de Estado do presidente Clinton, Madeleine Albright, o embaixador me avisou que, temporariamente, eles não mais tocariam no assunto.

CartaCapital: O senhor topou com agentes secretos norte-americanos atuando livremente no Brasil? Representou à Presidência da República pedindo providências?

Wálter Fanganiello Maierovitch: No início de 1999, tive a primeira oportunidade de inverter a pressão e contei com o apoio de muitos delegados da Polícia Federal, inconformados com a intromissão norte-americana e a divisão grupo Chelotti-CIA e o grupo pró-DEA.

Esses delegados da Polícia Federal apoiavam a linha da Secretaria no sentido de não admitir confusão entre cooperação e cooptação. Iniciei uma contrapressão para enquadrar os serviços secretos dos EUA, que queriam seguir atuando livremente. Aproveitei o momento de renovação do acordo de cooperação Brasil-EUA para tentar colocar freios na CIA, DEA e companhia. Antes de propor ao presidente a prorrogação, por parecer, solicitei, por ofício, ao embaixador norte-americano em exercício no Brasil (a embaixada permaneceu vaga durante muito tempo) um relatório custo-benefício. Ou seja, DEA e CIA, a pretexto das drogas, tinham posto o pé no Brasil durante o regime militar. Até as fontes dos palácios e embaixadas sabiam que a oferta de drogas e o consumo tinham aumentado de forma espantosa no Brasil, além das facilidades com a lavagem do dinheiro do narcotráfico. Portanto, era mais do que recomendado, antes de se prorrogar a cooperação, saber se aquilo valia a pena.

Devo acrescentar, ainda, ter encontrado em Tabatinga (na região onde o Brasil faz fronteira com a Colômbia e o Peru) e no aeroporto de Manaus agentes da CIA e da DEA. Uma meia dúzia deles. Eles não estavam acompanhados pela Polícia Federal, como manda o protocolo e os Acordos. Chegaram a comentar que haviam captado transmissões radiofônicas na região amazônica. Todos forneceram cartões de visita. Informaram que, formalmente, constavam da lista de funcionários da embaixada, em serviços burocráticos, ou seja, fingiam não ser da DEA e da CIA.

Do meu ofício constou, ainda, pedido de relação desses agentes e recomendação para não saírem de Brasília sem autorização e comunicação à Secretaria Nacional Antidrogas.

A “guerra” entre a Secretaria Nacional Antidrogas e a embaixada norte-americana pode ser aferida pelo relatório que apresentei e que a revista agora publica. E era uma “guerra” para tentar enquadrar CIA e DEA, acostumadas a desrespeitar a soberania nacional. Regra: quem tem dinheiro é que manda.

CartaCapital: Não houve um episódio de uma aeronave lotada de agentes secretos?

Wálter Fanganiello Maierovitch: Sim. Foi uma tentativa de pouso de aeronave em território brasileiro, também objeto do relatório que enviei ao general Cardoso. Neguei a autorização de pouso. O avião teve de deixar o espaço aéreo brasileiro. Evidentemente, exigi, antes de decidir pela não-autorização, informações sobre a tal operação de repressão ao narcotráfico. Foi-me dito que a operação era tão secreta que só os que estavam no avião sabiam.

Essa falsa “esperteza” da CIA e da DEA, e elas não percebem isso, leva à falta de confiança. Como agora, nessa história de tentar desqualificar o ex-chefe do FBI que deu entrevista à CartaCapital. Bobagem pura. O Carlos Costa era um deles e tinha poder, mas com uma diferença. Ao contrário de muitos dos seus pares, portava-se com educação e lealdade. Aliás, como idiotas portavam-se uns três agentes secretos que distribuíam cartões de visita, até no Club Athletico Paulistano, que freqüentam por convênio e quando soltos por São Paulo. Até os catadores de bola nas quadras de tênis sabem quem eles são.

Fonte: http://cartacapital.terra.com.br/site/tiosam.htm

quinta-feira, 25 de março de 2004

Drogas

29 de abril de 2004, Growroom Board

Cora Rónai

Está na moda condenar os usuários de drogas como co-responsáveis, quando não responsáveis diretos, pela violência que assola a cidade. Além da idéia bizarra de que só existe violência por causa das drogas, há um raciocínio simples (e simplista) por trás disso: "Se ninguém consumir, os traficantes não terão a quem vender".

De fato. Onde não há demanda, não há oferta. Mas é tão fácil dizer "Parem de consumir!" quando não consumimos nada, não é? Agora olhem em volta e vejam quantas pessoas vocês conhecem irremediavelmente viciadas em substâncias legais: chope, uísque, tranqüilizantes, cigarro, carboidratos…

Eu mesma, por exemplo, que não fumo nem bebo, preciso emagrecer. Muito. Não estou acima do peso porque quero, porque desconheço o mal que isso me faz à saúde ou porque me agrade; pelo contrário. Meu maior desejo seria entrar em forma.

"Mas é tão fácil emagrecer!", dizem todos os magros. "Basta parar de comer doce!"

Pois é. É o que venho tentando fazer desde que me tenho por gente - sem o menor sucesso. Minha sorte é que a dependência química de açúcar não me põe forçosamente em contato com criminosos. Posso comprar chocolate em qualquer lugar sem ser ameaçada de morte por traficantes, sem ser achacada por maus policiais, sem correr o risco de ir em cana. Se amanhã o chocolate for proscrito, eu talvez agüente uma ou duas semanas, mas é provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe indo buscar uns bombons de cereja onde quer que seja, ao preço que me pedirem.

Parece brincadeira, mas não é. Estou falando sério. Tentem largar um simples hábito para imaginar como é difícil, quando não impossível, abandonar um vício. E eliminar a tal demanda.

Para mim, o único meio de se resolver o problema das drogas é fazendo com que elas deixem de ser um problema - pelo menos, um problema de polícia. Em outras palavras, liberando o seu consumo, e tirando a distribuição das mãos do crime organizado.

É lógico que quando falo em consumo livre não estou falando num sentido consumista. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de sugerir a distribuição descontrolada, com marcas chiques, gente sarada fazendo propaganda em outdoors e merchandising na novela das oito. A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, hype, néon ou embalagens vistosas.

Sei que esta é uma idéia radical, malvista por boa parte da sociedade; também sei que contraria interesses e levanta questões - inclusive diplomáticas - de uma complexidade indescritível. Mas acho que deve, pelo menos, ser discutida. Será que a distribuição legal de drogas, controlada pelo Estado, seria tão pior do que a atual distribuição ilegal, controlada pelo tráfico?

O consumo não é, em si, um caso de polícia. É caso de saúde pública - o que não significa que os dependentes sejam coitadinhos doentes e inimputáveis, pelo contrário. Mas são, ainda assim, pessoas que precisam de tratamento. Se isso já é difícil em plena legalidade (vide alcoolismo), que dirá na ilegalidade…

O fato é que, desde que o mundo é mundo, a humanidade se droga. Não há registro de civilização que não tenha inventado uma bebida, descoberto um cogumelo, mascado umas folhas. Achar que, justamente agora, nesses tempos nervosos, vamos subitamente parar com isso é, no mínimo, uma perigosa ingenuidade.

Outro fato é que qualquer adolescente de cidade grande tem, hoje, acesso às drogas. O que muitos não têm, até por causa da clandestinidade, é a quem recorrer, seja para se informar, seja para pedir socorro. É evidente que todos preferiríamos filhos "limpos"; mas, sem medo de encarar a realidade, o que é pior, a garotada comprando maconha na farmácia, abertamente, ou, como hoje, se envolvendo com traficantes e não raro com a polícia, com as previsíveis conseqüências?

Não é a ilegalidade que mantém os jovens longe das drogas, mas a educação e a informação. E, suspeito, uma certa carga genética.

Não acredito que todos passassem a se drogar indiscriminadamente caso as drogas fossem liberadas. Cigarro e álcool estão aí, para quem quiser, e nem todo mundo se torna fumante ou alcoólatra. De qualquer forma, o custo de campanhas educativas e de tratamentos contra a dependência seria uma fração do que custa a guerra (perdida) contra o tráfico. Com a vantagem de não fazer tantas vítimas inocentes.

Lógico que a violência, como um todo, não acabaria com a liberação das drogas. Os bandidos que hoje se dedicam ao tráfico não virariam pedreiros ou físicos nucleares da noite para o dia. Provavelmente apenas mudariam de ramo, dedicando-se com mais afinco a roubos e seqüestros. Mas a médio ou longo prazo acho que a violência pode diminuir, sim. Até porque as quantias extraordinárias de dinheiro que atualmente circulam pelas favelas teriam outro destino. Hoje, como todos sabemos, o tráfico paga R$ 500 por semana para adolescentes em começo de "carreira" (sem trocadilho!); qual é atividade honesta que pode competir com isso? Qual é o estímulo que o jovem cooptado pelo tráfico tem para permanecer na escola, aprender um ofício, tornar-se um cidadão de bem? Não adianta dizer a um vapor que o trabalho dignifica. A realidade à sua volta opõe uma multidão de desempregados ou subempregados, aterrorizados por marginais ricos, cheios de mulheres e com status de celebridade na mídia. Morrem todos aos 20 anos? Ora, para um menino de 15, 20 é uma idade quase tão distante quanto o conceito da própria morte.

Em última instância, a questão se resume a uma pergunta básica: a guerra do nosso cotidiano está servindo para alguma coisa?

Fonte: http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=10347&time=1083383504

segunda-feira, 22 de março de 2004

Maconha terapêutica tenta ganhar espaço nos EUA

22 de março de 2004, Terra - Notícias

Agência Efe

O empresário Warren B. Eugene está disposto a convencer a sociedade norte-americana dos efeitos terapêuticos da maconha e, para isso, emitirá anúncios de TV em que propõe receitas de bolos e biscoitos feitos com este ingrediente. Apesar de o cultivo, a posse e a venda da erva estar proibida nos EUA, o empresário - conhecido por ser o primeiro a abrir um cassino na Internet - deu início a uma ambiciosa operação de conquista de mercado que envolverá até mesmo alguns famosos de Hollywood.

Por trás deste trabalho está sua empresa, a Amigula Incorporated, cujas ações Eugene quer que sejam cotadas no American Stock Exchange (AMEX), no Nasdaq, e em algum mercado europeu. Isso, no entanto, não acontecerá até que a lei norte-americana libere o uso da maconha para aliviar a dor e os sintomas de algumas doenças, o que Eugene espera que aconteça em breve.

Com sua base de operações no Canadá, onde a legislação é mais branda, ele começou a contatar cerca de 50 plantadores da erva deste país e já tem 7 mil consumidores registrados.

Para começar a preparar a opinião pública, a empresa planeja pagar por anúncios de televisão que serão veiculados em Nova York, Nova Jérsei, Califórnia e Flórida. Esse material tem por objetivo divulgar receitas que levam maconha e que poderão ser feitas pelos familiares de pessoas doentes.

"Cozinhar em família para ajudar o avô ou a avó que sofrem de artrites ou de câncer, e que buscam um alívio para sua dor", será o tema central dos anúncios, nos quais a população será convidada a incorporar esta erva nos alimentos. "Brownies, muffins, bolos, massas, sopas, patês… tudo pode estar no novo livro de receitas", acrescenta.

Para protagonizar os anúncios, a empresa procura estrelas de Hollywood que estejam convencidas de que é bom utilizar a droga no tratamento de esclerose múltipla, artrite, epilepsia, glaucoma e da AIDS, além de ser indicada para aliviar as náuseas provocadas pela quimioterapia, a ansiedade e o stress.

"Michael J. Fox seria um bom porta-voz para a empresa", dizia hoje a um meio de comunicação o empresário, que indica o ator que há anos luta contra o Mal de Parkinson, um transtorno neurológico degenerativo, progressivo e incurável.

Embora não seja fácil encontrar estrelas dispostas a apoiar esta causa, o empresário assegura que muitas estão dispostas a lançar uma mensagem positiva sobre o uso desta droga. "Necessitamos estrelas que sejam muito conhecidas e que sejam capazes de dar uma mensagem clara: que a maconha é um excelente tratamento homeopático para aqueles que padecem destas doenças. Somos uma empresa dedicada à agricultura farmacêutica, e nossa missão é fazer o bem para os demais", insiste Amigula em um comunicado.

Os anúncios poderiam passar a ser transmitidos no meio do ano, embora os produtos da Amigula não estejam previstos para ser vendidos nos Estados Unidos até que o uso terapêutico da maconha estiver liberado.

Atualmente, a posse desta erva no estado de Nova York é penalizada com uma multa de US$ 100 para o indivíduo que tiver menos de 25 gramas. Para quantidades maiores, a pena pode chegar a até 15 anos de prisão e US$ 5 mil dólares de multa. Pela venda ou pelo cultivo, a pena máxima é idêntica. A mínima, por sua vez, é de 1 ano de prisão e US$ 1 mil de sanção.

Apesar da difícil missão que escolheu como sua, Eugene assegura que nunca fumou maconha, produto que considera que só deve ser utilizado terapeuticamente.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI282614-EI298,00.html

quarta-feira, 17 de março de 2004

Nova legislação sobre drogas no Brasil

17 de março de 2004, The Narco News Bulletin
Primeiro passo para descriminalizar o usuário e diminuir a superlotação dos presídios

Karine Mueller

“Cada crime uma sentença. Cada sentença um motivo, uma história de lágrima. Sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo. Misture bem essa química. Pronto: eis um novo detento… Mas pro Estado é só um número, mais nada. Nove pavilhões, sete mil homens. Que custam trezentos reais por mês, cada.” (Diário de um Detento – autor desconhecido.)

O trecho acima se refere à música interpretada pelos Racionais MC’s, grupo de rap brasileiro. A letra é o retrato da realidade vivida pelos presos da superlotada Casa de Detenção Carandiru, desativada em 2002, dez anos após o massacre que deixou 111 mortos. A superlotação tem sido o maior problema do sistema prisional do país. Dados do último censo divulgado pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), revelam que, em 1995, o Brasil tinha 95,5 presos por 100 mil habitantes; e, hoje, tem 173,5 por 100 mil – um aumento de 81,7%. Eram 148 mil detentos há oito anos e hoje são 300 mil, disputando espaço em 1.430 presídios e delegacias.

Por trás destes números está uma política de combate à criminalidade equivocada, que aposta no endurecimento da legislação penal como instrumento para garantir a nossa segurança. O número de presos despejados nas cadeias é muito maior do que aquele que o sistema de justiça criminal consegue digerir e colocar de volta na rua. A grande maioria, 98% dos presidiários, são pessoas pobres, 38% têm menos de 25 anos e 67% não concluíram o ensino fundamental. Dados que comprovam que quem tem dinheiro para pagar um advogado não é preso e, muitas vezes, sequer é processado.

Estima-se que, do número total de detentos, cerca de 12,5% foram surpreendidos em flagrante com pequeno porte de drogas (quantidades que caracterizam uso próprio) e indiciados através da Lei 6368/76 – tráfico de drogas – artigo 12 do Código Penal, parágrafo 2, inciso 3, que trata da contribuição ou difusão do uso indevido de drogas ou tráfico de entorpecente, com pena de três a 15 anos. Ou seja, foram vítimas de uma lei ambígua que não diferencia o traficante do usuário ou dependente químico.

Luz no fim do túnel

O problema da crise social dentro dos presídios é também um problema de leis. Mal elaboradas e aplicadas, colocam na mesma cela o “ladrão de galinhas” e o homicida. O usuário de drogas e o traficante. Servindo como instrumento para reparar esta confusão, no último dia 11/02 foi aprovada, no Senado, a Lei 7134. A medida determina o fim da pena de prisão para usuários e dependentes de drogas. A nova lei também dispensa a necessidade de o consumidor flagrado com entorpecentes ir à delegacia. Ele deverá apenas ser encaminhado à Justiça, onde prestará depoimento. Caso isso não seja possível, o infrator terá de assinar termo circunstanciado, em que se compromete a ir ao juizado. A pena prevista varia da advertência verbal até a prestação de serviços à comunidade. A prisão para o consumidor ocorrerá somente em um caso: quando ele se recusar a cumprir a pena determinada pelo juiz.

A lei tem o apoio do Governo, mas deverá sofrer algumas modificações no texto antes de começar a ser aplicada. Distinguindo o usuário do traficante, espera-se que o uso de drogas seja tratado como tema de saúde; e o do tráfico, como uma questão de polícia.

Na prática, o que muda com a Lei 7134?

Menos gente presa por abuso de drogas, mais investimento em outros setores da saúde pública ou no combate a violência. Em um ano, o governo brasileiro chega a gastar de 1500 a 3000 reais por preso na repressão ao uso de drogas dentro das cadeias. Ainda não temos informações se, junto com a implantação da Lei 7134, haverá a possibilidade de habeas corpus aos detentos enquadrados na legislação anterior. Tampouco se os mesmos terão alguma chance de lutar na justiça contra a sentença julgada. São 37.500 pessoas, enquadradas neste caso, esperando uma chance de reintegração na sociedade. Enquanto isto não for possível, ao menos a mudança promete poupar as vidas, muitas vezes vítimas do preconceito e da exclusão social, das condições precárias e subumanas em que vivem os presidiários no país.

A nova lei impede a prisão do usuário e ainda acaba com o tratamento obrigatório contra a dependência química. Quando achar necessário, o juiz pode sugerir um tratamento, que deve ser oferecido gratuitamente pela rede pública de saúde. Para traficantes, a pena varia de 5 a 15 anos de prisão, sem direito a fiança ou benefícios. A diferenciação dos dependentes será feita por um juiz. Na avaliação do relator da proposta, deputado Paulo Pimenta “uma pessoa surpreendida com cinco cigarros de maconha na frente de casa é bem diferente de outra, surpreendida com a mesma quantidade em uma escola”. No caso do financiador do tráfico a pena pode variar de 8 a 20 anos.

Parlamentares que desaprovam a nova legislação

Apesar deste avanço na legislação brasileira há quem insista na “Guerra das Drogas”, exigindo a permanência da criminalização do uso. O deputado Alberto Fraga, da Frente Parlamentar de Segurança Pública, não poupou críticas ao projeto na imprensa, argumentando que é por meio do consumidor que a polícia chega ao traficante. Ele ainda confundiu a descriminalização com a legalização afirmando que a nova lei “é praticamente a liberação das drogas”.

Durante a aprovação da nova lei, o deputado Walter Rubinelli, engrossou o coro dos descontentes na Câmara, dizendo em voz alta: “Este é um dia especial para traficantes”. Já o deputado Morani Torgan, que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do narcotráfico em 1999, foi mais longe. Além das críticas na imprensa, o parlamentar aproveitou a brecha de que o texto iria sofrer modificações e propôs um anteprojeto de lei.

Torgan valeu-se do fato de que não foi estabelecido um prazo para fazer as alterações na redação do projeto, para revelar sua descrença na aplicabilidade da lei enfatizando que esta poderia virar “letra morta”.

Atitude sábia

Apesar das ondas negativas, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que sempre foi a favor da descriminalização das drogas, elogiou a aprovação da Lei 7134. O ministro está convencido de que a proposta é “um avanço na direção do combate efetivo ao tráfico e ao consumo de drogas no País”. Definiu a lei como uma atitude sábia, sustentando que o usuário não pode sofrer mais a criminalização da cadeia.

O atual secretário da SENAD (Secretaria Nacional Anti-Drogas), general Paulo Roberto Uchôa, esteve presente durante toda a votação do projeto e afirmou que o mais importante na proposta é “a diferenciação entre viciados e traficantes”.

A opinião de especialistas

Mudar leis no Brasil não é tarefa fácil. Gera muita polêmica e equívocos. Mesmo com a mudança na legislação ainda não atingimos o tratamento ideal na questão do uso de drogas. Expressões como “viciado”, “antidroga”, “penas alternativas”, “criminoso”, ainda são freqüentes neste debate. Contudo, é fundamental ressaltar que um primeiro passo foi dado em direção à descriminalização do usuário.

O juiz aposentado, Waltér Maierovitch, especialista em drogas, considera a Lei 7134 como uma “despenalização relativa do consumo, mas que poderia ir mais longe”. Ele defende que “era possível chegar ao patamar da modernidade, como em Portugal, onde o uso de drogas não é mais crime”. Maierovitch, que já foi secretário nacional antidrogas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, opina que a lei continua estigmatizando o dependente.

Profissionais de saúde também defendem tratamento em vez de prisão. Na atual política de Redução de Danos, o dependente não é criminoso, mas alguém que precisa de ajuda. Entretanto, mesmo sem prisão, o projeto não agradou à psicóloga Sandra Batista, presidente da Rede Latino-Americana de Redução de Danos. Para ela, dar seguimento às penas alternativas significa continuar tratando o consumidor como um criminoso.

“O uso de droga não deve ser crime”, esta é a opinião do antropólogo e ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Soares. Por ser favorável à descriminalização, o antropólogo aprovou a medida do governo, ressaltando a evolução da política pública sobre drogas no país. Para Soares, o debate deve seguir cada vez mais público e não ficar restrito apenas ao cenário governamental.

Com este gancho, e levantando a bandeira do respeito à população brasileira, especialmente aos que não têm chance de defesa, o próximo passo é cobrar dos parlamentares, juristas e demais autoridades competentes que a Lei 7134 seja aplicada de forma justa e democrática. E que se estabeleça uma razoável proporcionalidade entre o crime cometido e o castigo aplicado.

Fonte: http://narconews.com/Issue32/artigo928.html

sexta-feira, 12 de março de 2004

Condição para vila hippie sobreviver: comportar-se bem

12 de março de 2004, Estadão

Copenhague - O famoso enclave hippie de Christiania pode manter-se como uma comunidade com estilo de vida alternativo, contanto que seus habitantes comportem-se como dinamarqueses “normais” obedientes à lei. Num relatório sobre o futuro de Christiania, o governo da Dinamarca anunciou hoje que eles devem começar a pagar aluguel e adaptar suas residências aos códigos de construção ou serão demolidas.

Entretanto, os 34 hectares do ex-quartel naval que é, agora, o lar de cerca de 1.000 pessoas “deve ser uma área onde há lugar para se viver de um modo diferente”, concordou o ministro da Fazenda Thor Pedersen. “Mas”, ele avisou, “ela deve ser normalizada, precisa respeitar as leis que se aplicam ao resto da sociedade dinamarquesa.”

A comunidade tem suas raízes em 1971, quando dezenas de hippies mudaram-se para o forte do século 18 abandonado, uma propriedade do estado atrás das fortificações da capital. Sociedade livre de freios, tornou-se um oásis da contracultura, com psicodélicos prédios coloridos, maconha à disposição, sem governo, sem carros, sem polícia.

Em 1987, Christiania foi reconhecida como “experimento social” e, dois anos depois, o parlamento deu aos moradores o direito de usar a terra, mas não sua propriedade. Os 15 anos de acordo com o governo estão terminando.

Antes 1º [de ?] de 2005, os moradores deverão fazer acordos coletivos ou individuais com o estado para alugar as áreas que usam. Atualmente, adultos pagam uma taxa fixa mensal de 1.600 coroas dinamarquesas (R$ 771,00) para a comunidade por água, luz e outros serviços.

O governo também critica a mais alta autoridade interna da Christiania, que decide quem pode se estabelecer na comunidade.

“Os moradores estão envelhecendo e há muito poucas famílias jovens com filhos”, disse Bendt Bendtsen, o ministro da Economia e Comércio que está encarregado do alojamento, em uma entrevista coletiva à imprensa.

De acordo com o relatório de 116 páginas do governo, 9% dos moradores têm entre 20 e 29 anos, enquanto em toda Copenhague esse grupo corresponde a 24% da população.

Bendtsen quer que várias casas fora das regras de segurança contra incêndios se regularizem e 20 outras sejam demolidas, por não terem permissão para construção. Segundo ele, várias casas são perigosas para se viver por causa de seu nível de decomposição. E 14, dos 24 prédios que o governo considerou que valiam a pena serem conservados nos anos 80, ruíram. O governo insiste em que “quer que as mudanças aconteçam por meio de diálogo com os moradores”.

Não houve, por enquanto, reação da comunidade, que se tornou uma das maiores atrações turísticas de Copenhague, recebendo cerca de 1 milhão de visitantes anualmente.

Em janeiro, traficantes de haxixe, que vendiam a droga abertamente, demoliram suas barracas de venda para evitar sanções que temiam pudessem levá-los à prisão. O governo vem ameaçando com represálias a vendedores de drogas da área, que são toleradas há muito tempo pela polícia.

Embora as barracas tenham desaparecido, o haxixe ainda é vendido. Desde janeiro, cerca de 865 toneladas de haxixe, com valor estimado em 45 milhões de coroas dinamarquesas (R$ 21.750.000,00) foram apreendidas, disse Bendtsen.

LEIA TAMBÉM:
Christiania

Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2004/mar/12/93.htm

quarta-feira, 3 de março de 2004

Grande parte de homicídios no Brasil tem relação com drogas

3 de março de 2004, UOL Últimas Notícias

Carolina Schwartz

SÃO PAULO (Reuters) - Um documento divulgado nesta quarta-feira sobre a relação das drogas com a violência no mundo alertou, em suas primeiras páginas, sobre o peso que crimes relacionados a elas tem nas cidades do Brasil.

Segundo o relatório de uma agência de controle de drogas ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), uma grande parte dos quase 30 mil homicídios cometidos no país anualmente está ligada ao consumo e tráfico de drogas. O Relatório Anual da Junta Internacional de Controle de Drogas (INCB, na sigla em inglês) afirmou ainda que crianças de rua usadas pelos traficantes para a movimentação das drogas são "freqüentemente mortas por saber demais, roubar demais ou ser apanhadas no fogo cruzado entre gangues e traficantes".

O documento disse também que uma pesquisa do Banco Mundial na América Latina sobre gangues mostrou que "os grupos envolvidos no tráfico de drogas tinham maior nível de violência do que os que não estavam ligados à atividade".

A INCB destacou como positivo um maior enfoque do sistema judicial do Brasil na luta contra o tráfico e o crescente uso de penas alternativas para usuários de drogas. Apesar disso, o relatório afirmou que tais penas não são acessíveis a todos.

"Os serviços de tratamento e reabilitação oferecidos gratuitamente pelo governo ainda são limitados, e pessoas de baixa renda quase não têm acesso a essas alternativas", disse o documento do órgão, cujo objetivo é monitorar a implementação das convenções da ONU sobre drogas.

Em fevereiro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que acaba com a prisão para os usuários de drogas. A medida ainda tem que passar pelo Senado para entrar em vigor.

Pela lei, um juiz determinará se o usuário sofrerá uma advertência verbal ou escrita ou se precisará cumprir trabalho comunitário. O magistrado poderá ainda encaminhar a pessoa a uma instituição para tratamento médico.

Atualmente, a Justiça decide a punição para o usuário, que varia de 6 meses a 2 anos de prisão. Existe também a possibilidade de multa.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2004/03/03/ult27u40967.jhtm

segunda-feira, 1 de março de 2004

Maconha

Março de 2004, Playboy


Dos pés do Himalaia ao dia-a-dia de 147 milhões de usuários no planeta, ela se tornou a droga proibida mais popular da história. O que você precisa saber sobre a erva para enxergar além da fumaça.

Fernando Costa Netto e Ricardo Villela

Pelo menos 30 milhões de brasileiros já experimentaram a sensação. O relógio anda devagar, as preocupações desaparecem, o corpo relaxa, o trivial fica engraçado. O pensamento salta de idéia em idéia, uma mais genial do que a outra. Depois dá fome. Tudo fica gostoso: molho de tomate pronto, pizza de ontem, sorvete derretido. Após algumas horas, o barato vai embora como chegou: devagarinho. No mundo inteiro, 147 milhões de pessoas experimentam essas sensações regularmente. É o número de usuários freqüentes de maconha estimado pela Organização das Nações Unidas. No Brasil, são 5 milhões. Nos últimos dez anos, a quantidade de estudantes brasileiros que experimentaram a droga multiplicou por quatro. O que as estatísticas mostram, você percebe em conversas de mesa de bar, nas praias, nos shows ao ar livre. A maconha é a terceira droga mais consumida no mundo, atrás do álcool e do tabaco. Das três, é a única ilícita, ao menos na maioria dos países. Dependendo do lugar em que você acende um baseado, pode ganhar um pito do guarda, parar numa clínica de recuperação ou passar sete anos na cadeia.

Em 1977, o então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter disse uma obviedade freqüentemente ignorada num discurso ao Congresso americano: "A punição contra a posse de drogas não pode fazer mais mal a um indivíduo do que a própria droga faz". A frase encontrou eco no Congresso brasileiro a alguns dias do último Carnaval. Em mais um passo no lento processo de modernização da legislação antidrogas do Brasil, o plenário aprovou um projeto de lei que acaba com a prisão para consumidores de drogas. "É um avanço. Vai impedir muita família de classe média de pagar suborno para limpar a barra dos filhos", disse o deputado Fernando Gabeira, velho defensor de políticas mais liberais de repressão a drogas. Até que a lei tramite pelo Senado e ganhe sanção presidencial, o que deve levar pelo menos dois meses, ainda vale a regra antiga, que prevê detenção de seis meses a dois anos para quem for flagrado com um baseado na sacola. O passo dado em fevereiro está longe de colocar o Brasil no rumo da legalização da maconha. Os réus ainda poderão ser condenados a prestar serviços à comunidade e comparecer a um curso educativo.

PLAYBOY decidiu enfiar sua colher nessa discussão com um pacotaço especial. Ao navegar pelos links à direita [no site da revista Playboy], você vai ler uma linha do tempo sobre a erva, uma lista de maconheiros famosos, a solução que um grupo de usuários paulistas encontrou para não depender de traficantes e as diferenças da legislação sobre a droga em vários países. Há também uma página com fatos indiscutíveis sobre o uso da droga. As ilustrações à esquerda [aqui, no final da página] são sete anúncios criados por agências de publicidade a nosso convite [aqui, são quatro]. Pedimos aos publicitários que imaginassem como seria a propaganda caso a erva fosse liberada. São obras de ficção, naturalmente. Nem em países com legislação avançada, como Austrália e Holanda, a propaganda da maconha é permitida. A idéia original é da revista de bolso Venice, distribuída em bares, academias e lojas de surfe das principais capitais brasileiras. Seu editor, Fernando Costa Netto, nos ajudou na produção desta reportagem.

A parte mais surpreendente deste trabalho talvez sejam os depoimentos colhidos por Fernando numa clínica para dependentes da droga (também nos links à direita [no site da revista Playboy]). Eles foram obtidos no Ambulatório de Maconha da Unidade de Tratamento para Dependentes de Álcool e Drogas (UNIAD). É um serviço gratuito do departamento de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina. O UNIAD já atendeu mais de 350 viciados que perderam o controle sobre o uso da maconha e passaram a enfrentar uma rotina de pesadelos na tentativa de parar. O projeto do Ambulatório de Maconha é desenvolvido por uma equipe de cinco terapeutas coordenada pela psicóloga Flávia Jungerman, uma das responsáveis pela implantação desse programa pioneiro. Flávia afirma que a maconha provoca profundas crises de abstinência. As crises são causadas pelo princípio ativo da maconha, o THC, que serpenteia o cérebro como um polvo. Os sintomas de quem tenta parar depois de viciado são ansiedade, nervosismo, dificuldade para dormir, falta de apetite e irritabilidade. PLAYBOY conversou com três dependentes. Eles buscaram tratamento para se livrar dos riscos, do desconforto familiar ou da confusão mental que a maconha trouxe às suas vidas.

A erva mata (os outros)

O pior efeito colateral provocado pela maconha acontece a léguas de distância do sujeito com o baseado na boca. O acender de um cigarro bota em movimento uma engrenagem de violência que só no Rio de Janeiro mata mais menores do que em regiões em estado de guerra, como a Palestina. A maconha fumada pelos brasileiros vem de dois lugares: o agreste nordestino e o Paraguai. O transporte para as cidades é feito em caminhões. Ao chegar ao destino, ela é dividida em blocos de 10 quilos para traficantes médios, que repartem em sacos de 1 quilo e distribuem aos pequenos vendedores de drogas. É nessa etapa que ocorre a violência maior, com o envolvimento de crianças na guerrilha do tráfico e o derramamento de sangue que vai parar nas primeiras páginas dos jornais. A maconha pode ser freqüentemente associada à alienação, mas é crescente o número de usuários mudando de hábito para não fomentar a violência urbana. O químico paulista Eduardo (nome falso), 32 anos, fuma desde os 16, sempre comprando na rua. Há cinco anos, decidiu que cultivaria a própria erva. Desde então, nunca mais comprou um baseado.

"Assim, posso fumar sem culpa", diz. Além de plantar o seu, ele insiste para que os amigos parem de comprar e se dispõe a ensinar o processo a todo mundo, sempre na moita, é claro, porque aos olhos da lei o cultivo da erva é crime tão grave quanto o tráfico. Ele integra um grupo de simpatizantes que espalha mudas de maconha por canteiros, vasinhos e jardins de lugares públicos, como parques e praças. É o jeito que arrumou para protestar.

Grandes maconheiros da humanidade

Charles Baudelaire - Poeta.
Escreveu um ensaio sobre vinho e haxixe.

Honorè de Balzac - Escritor.
Freqüentava um clube de amantes do haxixe em Paris.

W. B. Yeats - Escritor.
Esperava turbinar capacidades telepáticas com a erva.

Robert Mitchum - Ator.
Ficou preso por 60 dias por fumar maconha.

Pancho Villa - Revolucionário mexicano.
Comandou tropas turbinadas pela erva.

Louis Armstrong - Músico.
Preso em 1930 por consumo.

Jack Kerouac - Escritor beatnik.
Fumou o primeiro baseado ouvindo jazz no Harlem, em NY.

Bob Dylan - Músico.
Pregou o uso universal em entrevista a PLAYBOY.

Paul McCartney - Músico.
Foi preso no Japão por dez dias por posse.

Bob Marley
Precisa dizer alguma coisa?

A maconha em fatos

● Por que maconha dá onda?

A substância responsável pela onda que sentem os maconheiros é o THC. Na planta, o THC não passa de um protetor solar natural que impede que as folhas torrem debaixo do sol. No cérebro humano, o impacto é bem maior. O THC afeta as áreas responsáveis pela memória recente, pela percepção da dor e pela coordenação de movimentos. Isso ocorre porque ele se liga a uma substância presente nos neurônios. Mexeu nos neurônios, dá treta. O cara fica com raciocínio lento, percepção diferente, senso de humor aguçado.

● Maconha emburrece?

O uso regular de maconha prejudica a memória, não duvide. O uso pesado atrapalha o raciocínio. Pesquisadores de Harvard testaram e comprovaram. Mas não há estudos científicos indicando que os danos sejam definitivos. Ou seja, até onde se sabe, depois que o sujeito pára de fumar, recupera a capacidade de raciocínio e memória.

● Maconha vicia?

Tanto quando cafeína e menos do que álcool, nicotina ou cocaína. Um em cada 11 pessoas que experimentam um baseado vira usuário crônico. A maioria consegue parar se quiser. Mas 16% desses usuários crônicos têm crises de abstinência, que incluem ansiedade, crises nervosas e insônia.

● Maconha dá câncer?

Sim. A erva tem substâncias tóxicas iguais às do cigarro, como monóxido de carbono e alcatrão. Maconheiros fumam menos que fumantes, mas baseados têm poder destrutivo até seis vezes maior do que cigarros. Quem queima um de dois em dois meses corre poucos riscos. Mas quem queima quatro ou cinco por dia tem maior probabilidade de se dar mal.

● Maconha broxa?

Pesquisas indicam que altas doses de THC diminuem a produção de testosterona no homem. Daí a broxar vai uma distância. Mas é melhor não exagerar.

● Maconha aparece em exame?

Sim. O THC fica no organismo de três a cinco dias e pode ser detectado em exame de sangue.

● Maconha faz mais mal na adolescência?

A adolescência já é uma época suficientemente confusa. Acrescentar uma droga que mexe com memória e perceptividade ao caldeirão de expectativas que cerca a passagem para a vida adulta não ajuda ninguém. Além disso, alguns cientistas dizem que atrasa a puberdade.

● Maconha é porta de entrada para drogas mais pesadas?

Estatisticamente, sim. Não por questões físicas, mas sociais. Um sujeito que começa a fumar e comprar maconha regularmente tem os meios para passar para drogas mais pesadas. Ainda mais se pegar gosto pela coisa.

O mundo está ficando mais liberal

Há boas idéias de como lidar com o consumo de maconha sendo aplicadas nos mais diferentes países. Recentemente, Portugal descriminalizou a droga. Quem for flagrado paga uma multa, perde o baseado, mas sai limpo. A maioria dos estados australianos também não considera fumar maconha um crime. Na Austrália Ocidental é permitido o cultivo de até dois pés da planta dentro de casa, uma forma interessante de inibir o contato com traficantes. Mas a legislação sobre maconha mais elogiada (e criticada) do mundo é a holandesa, onde é possível comprar até 5 gramas da erva em bares conhecidos como koffeshops.

Essa política nasceu em 1976 com um objetivo: interromper a escada que leva um usuário de drogas leves (haxixe e maconha) a consumir drogas pesadas (cocaína, heroína, ecstasy). As autoridades do país imaginam que a juventude passa da erva ao pó pelo contato com traficantes. Para garantir o sucesso da política, os koffeshops são rigorosamente controlados para que outras drogas ilícitas não entrem. Também não podem fazer propaganda, vender baseados prontos ou virar foco de tumulto. Em alguns municípios, não vendem bebida. Quem infringe as regras perde a licença e fecha as portas.

O fato é que não há país no mundo em que seja mais fácil comprar, apertar e acender um baseado. Alguns koffeshops de Amsterdã têm até cardápio, com variedade de ervas para o cliente escolher. A explosão de consumo esperada pelos radicais antidrogas nunca aconteceu. Apenas 16% dos holandeses já experimentaram maconha. Nos EUA, esse índice roça os 33%. Só 2% da população experimentou cocaína. Nos EUA, o índice é de 10%. Na contramão da política holandesa está a China, que tem aquela que talvez seja a lei mais severa do mundo. Usuários pegam um mínimo de sete anos de prisão e traficantes recebem uma bala na nuca. O novo projeto de lei em tramitação no Congresso brasileiro nos leva um pouco mais para perto de Holanda, Portugal e Austrália e mais para longe da China.

Eles perderam o controle
Depoimentos de gente que procurou ajuda médica para se livrar da maconha

● Otávio, 47 anos, agente de viagens:

Percebi que a maconha era a causa dos maiores sofrimentos da minha vida muitos anos depois de acender o primeiro baseado. Estava sempre precisando fumar um: quando acordava, na hora de dormir, antes de comer, no trabalho. Quando não fumava, a comida parecia borracha na boca. Minha rotina era me trancar num escritório na minha casa, fingir que estava trabalhando, enrolar um baseado e fumar. Se eu não fumasse, só conseguia dormir lá pelas 4 da manhã. Era triste. Eu dizia para a minha mulher: "Largo amanhã, não sou viciado". Há oito anos, ela me deixou e fiquei sozinho para cuidar da minha vida. Já tinha perdido a força para trabalhar, a auto-estima estava no chão. Fumava meu primeiro baseado assim que levantava e não conseguia fazer nada porque tinha dificuldade de concentração. Pensava dez vezes para ligar para um cliente, preparar um tour, me perdia nas contas, era terrível... Uma vez, mandei para Belém um cliente que pedira passagem para João Pessoa. Eu havia fumado um no almoço. Estou em tratamento há três meses. Sem essa porcaria eu resgatei a minha família, já levei três grupos de pessoas para Ubatuba e tô montando uma nova empresa de viagem. Hoje, me sinto livre e forte para cuidar da minha filha. É o mais importante.

● Augusto, 40 anos, corretor de imóveis:

Eu sou de uma cidade pacata, sem vida noturna, rodeada de fazendas. Comecei com um grupo de amigos. A gente ia para uma fazenda com as meninas, fumava uns baseados, batia um papo, nada grave. Primeiro você dá uns pegas, depois fuma um, outro, depois fuma três por semana, um todos os dias e quando percebe tá acendendo um de manhãzinha, antes do almoço, depois do almoço, à tardezinha, de noite. Assim foi desde os 18 anos. Depois me casei com uma mulher que nunca curtiu essas coisas. Tive que mudar o esquema. Fumava de manhã e de vez em quando dava uns tapinhas à tarde também, sempre escondido. Um dia ela pegou a minha bolsa, encontrou o bagulho e saiu de casa, me largou. Eu cheguei à conclusão de que estava na hora de fazer alguma coisa. Já havia tentado parar sozinho, mas o prazer e o contato com a maconha eram tão grandes que ficava difícil. Se eu não tivesse esse problema com a minha mulher, não pararia mesmo. Mas reconheço que depois do tratamento passei a sentir mais prazer nas coisas que faço. Um dia desses sonhei que estava fumando, acordei no pico do negócio de estar dando um pega daqueles que você enche o pulmão e... pumba! Acordei assustado. Dureza.

● Orlando, 23 anos, estudante de fisioterapia:

Sou filho único e moro com a minha mãe. Acendi o primeiro baseado aos 16 anos e logo passei para três ou quatro por dia, geralmente no fim da tarde e de noite. Eu não estava nem aí pra nada, o relacionamento em casa estava ruim e até cheguei a repetir um ano da faculdade por causa da maconha. Eu fumava e achava que pararia quando quisesse. É muita ironia fumar todos os dias e achar que não é viciado. Foi minha mãe quem procurou ajuda. Quando ela me disse que eu tinha que me tratar, eu relutei. Não queria, achava que a vida era fumar maconha. O primeiro dia foi um saco, um monte de perguntas, uma sala com um monte de gente, sessão em grupo e eu odeio falar da minha vida na frente dos outros. Depois escolhi fazer a terapia individual. Estou me tratando há quatro meses. Nesse tempo, só tive uma recaída, mas tô tranqüilo, nem tenho mais vontade. Hoje posso ficar perto de gente fumando e me segurar numa boa. Outra coisa boa é que a minha namorada não fuma, é totalmente contra. Ela me ajudou muito. Me sinto muito melhor, agora tenho planos para o futuro. Quero terminar a faculdade, fazer pós-graduação na minha área e batalhar a vida sem maconha. Quem sabe trabalhar com esportes? Sou palmeirense. Ser fisioterapeuta do Verdão seria tudo.

Da China a Bob Marley - a maconha através dos tempos

10000 a.C.
Nos pés do Himalaia, o homem aprende a plantar cânhamo para usá-lo na confecção de cordas e tecidos. É a primeira planta cultivada pela humanidade para esse fim.

2300 a.C.
Shen Nung, imperador da China e médico, recomenda maconha a pacientes com toda a sorte de doenças. Nung considerava a erva um "elixir da imortalidade".

570 a.C.
Durante seis anos de meditação, Buda come apenas sementes de cânhamo, segundo a tradição Mahayana do budismo.

600 a.C.
Na China, os taoístas implicam com a erva. Acham que é uma força negativa, que enfraquece o corpo e debilita os sentidos. Mais tarde, passariam a usá-la em incensos.

Ano 0
Cientistas americanos afirmam que Jesus Cristo pode ter usado um óleo de maconha para curar doenças. Diferentemente do que juram doidões mais empolgados, não há referência à maconha na Bíblia.

1300
A maconha entra no imaginário popular europeu pelos relatos de Marco Polo sobre suas viagens ao mundo árabe, recheadas de usuários de haxixe.

1450
Gutenberg imprime a Bíblia (e mais um monte de outros livros) em folhas de cânhamo.

1492
Colombo descobre a América com barcos movidos a velas de cânhamo. A erva era tão importante para a marinha que fazendeiros que não cultivassem a erva eram multados.

1600
A planta chega ao Brasil trazida por escravos.

1753
O cânhamo ganha o nome científico Cannabis sativa L.

1798
Napoleão invade o Egito e, assustado com o sucesso da droga entre as tropas, promulga a primeira lei do mundo moderno proibindo o cânhamo. Não adianta nada. A soldadesca leva o hábito para a França.

1823
A The Lancet traz artigo afirmando que a Cannabis "é um dos mais valiosos remédios". Na Inglaterra, a erva é usada contra epilepsia, tétano, asma e gonorréia.

1830
A Câmara Municipal do Rio promulga a primeira lei brasileira proibindo o consumo e venda de maconha. Pena para quem acendesse unzinho: três dias de cadeia.

1845
Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e outros artistas de Paris reúnem-se uma vez por mês no Club de Hashishins para fumar haxixe e trocar idéias. Tempos depois, Baudelaire condenaria a erva: "Vinho deixa os homens felizes e sociáveis. Haxixe deixa os homens isolados".

1944
A Academia de Medicina de Nova York publica relatório afirmando não haver evidências de que o uso recreacional da maconha torne os usuários violentos.

1951
A ONU publica boletim afirmando que 200 milhões de pessoas já haviam experimentado maconha.

1966
Em entrevista à PLAYBOY, Bob Dylan diz: "Essas coisas não são drogas. Elas apenas entortam um pouco a cabeça. Acho que todo mundo deveria entortar sua cabeça de vez em quando".

1976
A Holanda inicia a política de tolerância.

1978
Bob Marley compõe Easy Skanking.

1980
Paul McCartney passa dez dias preso no Japão por posse de maconha.

1988
Amsterdã recebe a primeira Cannabis Cup. A competição para designar a melhor maconha do mundo é realizada anualmente desde então.

1992
Em campanha para a presidência dos EUA, Bill Clinton diz que fumou, mas não tragou.

2004
Câmara dos Deputados brasileira aprova projeto de lei que acaba com a detenção para consumidores de drogas.

Fonte: http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=9331

 

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