quinta-feira, 19 de setembro de 2002

Adolescentes têm dúvida sobre danos causados por cigarro e maconha

17 de setembro de 2002, Folha Online

Dartiu Xavier da Silveira
Dartiu Xavier da Silveira, 46, é diretor do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) e professor afiliado do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Quando se trata de adolescentes, a pergunta mais comum é: o que faz mais mal à saúde, cigarro ou maconha? Esta é uma questão de difícil resposta, uma vez que Cannabis e tabaco são drogas de perfis distintos. A prevalência de consumo de tabaco entre adolescentes é cerca de seis vezes maior do que a freqüência de uso de maconha (Cebrid-Unifesp), mas enquanto a grande maioria dos usuários de tabaco se torna dependente, com a maconha a dependência não chega a 10%.

Sobre os danos causados à saúde, o consumo de tabaco está associado a uma série de doenças, grande parte delas graves e incapacitantes, freqüentemente associadas ao aumento das taxas de mortalidade. Não existem evidências de que o uso de maconha venha a acarretar tais conseqüências.

Muito provavelmente isso pode ser explicado pelos diferentes padrões de consumo geralmente observados: no caso do tabaco, a maioria fuma muitos cigarros, diariamente e durante vários anos. Já a maioria dos usuários de Cannabis consome um número significativamente limitado de cigarros de maconha, de forma ocasional e por um período de tempo menor.

A história do uso também tem pouco em comum: o consumo de maconha é geralmente esporádico, recreacional e dura alguns anos; depois é espontaneamente abandonado, sem necessidade de tratamento. Em contrapartida, o tabagista desenvolve um padrão de consumo compulsivo e diário ao longo de muitos anos e freqüentemente requer tratamento especializado para largar.

Com isso não queremos dizer que não exista dependência de Cannabis: ela não só existe como, uma vez instalada, é também de difícil tratamento. A diferença é que, ao contrário do tabaco, sua dependência é um fenômeno raro quando tomamos como referência o universo de usuários ocasionais desta droga.

Há uma série de medidas que podem ser ensinadas aos usuários de maconha para que minimizem os riscos de se tornarem dependentes ou sofrerem conseqüências danosas. Já em relação ao tabaco, essas medidas são muito restritas, por ser uma droga raramente utilizada de forma ocasional.

Com relação aos adolescentes, a maconha usada continuamente pode provocar problemas no desenvolvimento da personalidade, porque, no processo de amadurecimento, os jovens necessitam interagir intensamente com o meio ambiente, inclusive através de atitudes de confronto e transgressão. Como a maconha provoca alteração de consciência, seu uso contínuo pode impedir esse processo, mantendo o jovem distante e alienado de sua realidade. Nos usuários de tabaco, as conseqüências negativas somente vão aparecer após longos anos de consumo.

A noção amplamente difundida de que a maconha seria uma porta de entrada para outras dependências não tem comprovação científica. A maior parte dos estudos que tentaram identificar tal fenômeno aponta não a maconha, mas o álcool e o tabaco como possíveis portas preferenciais.

Ainda que o uso de Cannabis mereça intervenções cuidadosas, no âmbito de prevenção ou de tratamento, em termos de ações de saúde pública, a intervenção junto ao uso de tabaco ainda é prioritária.

Fonte: Folha Online

sábado, 14 de setembro de 2002

Prefeito distribui maconha

14 de setembro de 2002, Folha de S. Paulo

SANTA CRUZ, EUA - O prefeito de Santa Cruz, na Califórnia, Christopher Krohn, distribuiu maconha a pacientes terminais, em frente à prefeitura, num claro desafio às leis americanas. A iniciativa aconteceu duas semanas após a Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos determinar uma dura repressão contra os envolvidos na produção e distribuição de maconha com prescrição médica no Estado.

Os pacientes, alguns em cadeiras de rodas, receberam a quantidade da erva prescrita pelos médicos, pílulas e xaropes com as substâncias ativas da maconha. Demonstrações do uso da droga foram proibidas durante a distribuição. Pelo menos sete pessoas que apresentaram receita médica para o uso da droga foram beneficiadas pela iniciativa.

Segundo Ron Sampson, 48 anos, que sofre de câncer no pâncreas e recebeu a droga, a maconha tem efeito extremamente positivo no seu tratamento. "Me sinto bem melhor quando fumo. Se faz bem, as pessoas deveriam ter o direito de usá-la para fins terapêuticos", diz.

"Nós não somos malucos da Califórnia, somos pioneiros", declarou o prefeito. "Não queremos enfurecer as autoridades federais. A iniciativa é um ato de compaixão para ajudar pessoas doentes que necessitam de medicamento", explica.

Governo chama os plantadores de farsantes

Após a determinação do governo, clubes onde usuários podiam consumir a droga foram fechados, e plantações, destruídas, com a prisão de vários defensores da maconha medicinal.

"Nós não estamos falando de pequenas plantações. O que se vê na Califórnia são pessoas enriquecendo sob o disfarce da medicina", afirma o porta-voz do Conselho Antidrogas americano (DEA), Will Glaspy.

A produtora de maconha, Valerie Corral, presa semana retrasada, responde que a acusação é ultrajante. "Podem checar minha conta bancária. Eu passo por um detector de mentira. Nós estamos ajudando as pessoas que estão morrendo", garante ela. Desde 1996, nove Estados americanos permitem o uso de maconha para fins terapêuticos. A Califórnia é o mais liberal quanto ao uso da droga.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idSubArea=148&idArea=1&idArtigo=317
 

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