segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O trem não espera quem viaja demais

Fonte: http://www.fortalnet.com.br/rkelmer/rkmaconha2
Ricardo Kelmer

O aspecto mais notável da maconha é seu incrível poder de nos reconectar à dimensão da liberdade, a mais sagrada das dimensões do ser. Ela existe nas profundezas de cada um de nós e só a alcançamos através do mais verdadeiro conhecimento de si próprio. Infelizmente, no dia-a-dia, costumamos perder de vista sua trilha, entre tantas coisas que elegemos importantes. É justamente esta, então, a grande sedução da maconha: basta uma tragadinha num baseado para, de repente, lembrarmos que somos exatamente isso, viajantes da liberdade. Basta uma tragadinha para voltarmos a enxergar, entre tudo o mais que existe, a trilha que conduz ao céu azul dessa libertadora dimensão.

A maconha é um presente da natureza. Ela relaxa o corpo e descontrai as idéias. Ela nos devolve a capacidade de rir da vida. Ela desata os nós que prendem nosso barco ao cais de estúpidas normas sociais. A maconha tem a capacidade de afrouxar a gravata do pensamento e deixar que ele saia por aí, gaivota livre e sem destino, pela imensidão azul do céu. É como se vivêssemos nosso dia-a-dia presos numa pequena cela e a maconha de repente viesse abrir a porta para nos lembrar daquilo que não deveríamos ter esquecido. O que sentimos então é só um vislumbre da imensidão mas não há como não se extasiar.

É exatamente assim, seduzida por esse raro vislumbre do nosso céu azul interior, que a maioria das pessoas se inicia no uso da Cannabis. E prosseguem fumando para se sentirem religadas à sagrada dimensão, à sua própria e esquecida liberdade. No entanto, a maioria dos usuários esquece que a planta apenas os levou até a porta: eles é quem devem abri-la e conquistar, por si mesmos, sua própria liberdade através da luta do dia-a-dia.

A liberdade é um constante caminhar, um contínuo desapegar, um estar sempre atento. Para ser livre é preciso se livrar daquilo que limita e prende. Medos, traumas, culpas e bloqueios pesam bastante na mochila, limitam os movimentos e impedem que o viajante prossiga. Por isso é que, para alcançar sua mais sagrada dimensão, o viajante da liberdade deve saber verdadeiramente quem ele é. E conhecer a si mesmo é o maior de seus desafios: ele deve voltar o olhar para seu interior, com coragem, e encarar firme o que desconhece de si mesmo, o que tem medo de admitir - tudo aquilo que o torna pesado demais para prosseguir na difícil e escorregadia trilha de sua liberdade. Porque a maior liberdade não é fazer o que se tem vontade: é fazer o que deve ser feito.

Claro que não é fácil ser livre. Nunca foi nem será pois a verdadeira liberdade é a recompensa dos que, apesar do medo, desvendaram a si mesmos. Mas é possível. Basta manter-se disposto e atento e ser implacável no que se deve fazer. O. k., não há nada demais em parar um pouco, fumar um baseado, relaxar, divertir-se, curtir a paisagem ao redor. A maconha também tem seu lado lúdico e, além disso, o viajante merece. O problema é relaxar demais e perder o trem, esquecer que se tem de prosseguir, que há novos desafios à frente, que a vida não espera e não há tempo a perder.

Infelizmente grande parte dos usuários termina se acomodando em dimensões mais superficiais e acessíveis como o relaxamento e a diversão e assim desperdiçam o imenso potencial da planta para a verdadeira liberdade. Mais triste ainda é que boa parte dessas pessoas termina usando a maconha para fugir da realidade, escondendo-se de seus próprios problemas e, dessa forma, criando mais um: a dependência da planta. Esse é o maior perigo que envolve a relação das pessoas com as plantas de poder.

A maconha é isso: uma planta sagrada que nos reconecta à trilha interior que conduz à liberdade. Mas é preciso alertar que além dos limites ela entorpece e ilude, acomodando o viajante na paisagem. E nada para atrasar mais uma viagem que perder o trem.

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