segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Decálogo

Fernando Gabeira

Existe na natureza uma planta estratégica para o mundo moderno. Capaz de entrelaçar duas lutas vitais deste fim de século: o desenvolvimento sustentável e as liberdades individuais.

Cannabis sativa é o nome da planta. Estratégica, porém proibida.

A seguir, dez maneiras de dizer uma coisa só: Legalize!

1.

Não é de hoje que a Cannabis sativa é usada pelo homem. Em 2.800 antes de Cristo ela já era cultivada pelos chineses para extração de fibra. As caravelas usadas na descoberta da América tinham suas velas feitas a partir da Cannabis (mais tarde, Napoleão tentaria liquidar a marinha britânica barrando a chegada da Cannabis russa). Estima-se que, no final do século passado, até 90% do papel usado no mundo provinha da Cannabis, da qual foi feita a primeira Constituição dos Estados Unidos. Os primeiros jeans também foram feitos da fibra da planta. De uma maneira ou de outra, a Cannabis atravessa toda a história da Humanidade.

2.

Seria, então, uma planta milagrosa? Quase. Da Cannabis pode-se extrair 25 mil produtos de uso essencial para a sociedade moderna. Roupas, calçados, produtos de beleza, óleo de cozinha, chocolate, sabão em pó, papel, tintas, isolantes, combustível, material de construção, carrocerias de carro e muitos outros produtos fazem da Cannabis uma matéria-prima valiosa para a indústria mundial.

3.

A Cannabis sempre foi usada como instrumento religioso. Suas sementes eram queimadas pelos sacerdotes para produzir os transes místicos. Seu uso com fins recreativos começou entre os gregos, nos grandes banquetes.

4.

O uso industrial da Cannabis sativa foi em grande parte sufocado por uma campanha agressiva de um concorrente direto, a indústria do petróleo. Em 1940, Henry Ford chegou a produzir um carro com a fibra da Cannabis e movido por óleo da semente da planta. Nos anos seguintes os conservadores estadunidenses procuraram estigmatizar a planta, atacando seu uso como droga e apelidando-a de Marijuana - um apelo ao racismo contra os mexicanos. A campanha resultou na proibição da Cannabis sativa nos EUA.

5.

Também no Brasil, as dificuldades para o uso industrial da Cannabis provêm de uma campanha de viés racista contra a maconha. Os negros africanos que chegavam como escravos traziam as sementes em suas tangas e se reuniam à noite para fumar e cantar. Cientistas procuraram depreciar aquele hábito, tentando, sem sucesso, evitar sua difusão entre os brancos.

6.

A Cannabis tem um grande poder medicinal. Na China era usada como anestésico. Hoje, é considerada um grande remédio contra o enjôo provocado pela quimioterapia contra o câncer. É aceita também no tratamento de glaucoma e pode ser usada contra a asma e o stress. Muitos pacientes com AIDS a utilizam para abrir o apetite e ganhar peso, reunindo forças para resistir.

7.

As pesquisas médicas indicam que a Cannabis faz menos mal que o tabaco ou o álcool. Diferente deste, é inofensiva para terceiros, pois não provoca agressividade ou descontrole emocional. Não há indícios de dependentes de Cannabis nas clínicas brasileiras. Diz-se que a dose mortal de Cannabis são dois quilos jogados do 25º andar de um prédio.

8.

A proibição do uso da Cannabis sativa tem sido o pretexto para uma das formas mais hipócritas de violência contra o cidadão. Pessoas de bem são abordadas como criminosas e arrancadas de sua tranqüilidade, nos já famosos "teatros" de agressão e extorsão da polícia. A lei encaminhada no Congresso descriminalizando o usuário será um passo importante para abolir estas situações da vida brasileira. Mas a violência provocada pelo tráfico só será extinta com a liberação total da Cannabis.

9.

Hoje, a Cannabis é plantada na Hungria, França, Canadá, Inglaterra, Portugal, China e Espanha. Com pesquisas genéticas, o Brasil poderia produzir em três anos a semente da Cannabis sem o THC (o princípio psicoativo), para uso industrial.

10.

A Cannabis é uma matéria-prima estratégica para a sociedade sustentável. Ao contrário do petróleo, é um recurso renovável e limpo. Seu cultivo não necessita de agrotóxicos e tem alta performance produtiva, pois cresce em no máximo 110 dias (podendo ser associado a outras culturas). A Cannabis favorece o princípio ecológico do desenvolvimento de regiões auto-sustentáveis, com plantações e fábricas lado a lado.



A luta pela plantação da Cannabis sativa com uso industrial, já adotada por grifes internacionais como Adidas, Guess e Calvin Klein, é uma janela de otimismo para o futuro sustentável do planeta, após o fim do petróleo e seus derivados.

A luta pela legalização da Cannabis fumada por milhões de pessoas se insere no avanço das liberdades individuais, uma marca deste fim de século.

As duas lutas já começaram no Brasil. Sinto-me orgulhoso por participar das duas e sentir que, no Brasil, já há as condições sociopolíticas para lançar a campanha que pode unir milhares de pessoas, iniciativas e criatividade política.

É hora de discutir, agir e legalizar.

Legalize!

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idArea=1&idSubArea=11

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 

Precisando de ajuda?

Veja o site da Psicóloga e Psicoterapeuta Bianca Galindo que ela faz atendimento online.