segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Dever da precaução

Fernando Gabeira

Diante do relatório da British Lung Foundation sobre a maconha não há outro caminho exceto o de aplicar o princípio da precaução, respeitando seu texto e recomendando um exame profundo das conclusões.

Pesquisas e contrapesquisas sucederam-se no fim do século passado, com visível desvantagem para os que afirmavam ser a maconha prejudicial à saúde. O Senado americano investiu US$ 2 milhões para tirar a dúvida e concluiu que a Cannabis era relativamente inofensiva. O jornal científico inglês "Lancet" concluiu que o uso prolongado da maconha não fazia mal à saúde. A síntese dos principais debates, desde 1893, foi amplamente discutida no livro "Marijuana myths, marijuana facts", de Lynn Zimmer e John P. Morgan.

A demolição das pesquisas destinadas a assustar os usuários não significa que o tema esteja encerrado, que o fato de a maconha fazer menos mal que o tabaco e o álcool seja uma verdade de pedra. É preciso submeter cada afirmação a um exame criterioso. Isso é o que deverá ser feito com o relatório da British Lung Foundation. Os jornais "Independent" e "Guardian" usam a palavra relatório em vez de pesquisa. Mencionam a coincidência da publicação com a tendência do governo inglês de rebaixar a maconha à categoria das drogas menos perigosas. Para defender ou atacar o relatório é preciso conhecer os métodos usados e reproduzi-los criteriosamente, para demonstrar que três baseados causam mais prejuízo do que 20 cigarros.

Durante muitos anos pensou-se que o tabaco não fazia mal. Hoje sabemos que faz e isto vale mais do que leis proibitivas. Se for comprovado que a maconha faz mal, será dever de todos espalhar a notícia. Não é contraditório com o princípio de precaução separar conclusões científicas de táticas para aterrorizar usuários, como as que surgiram nos EUA após o relatório da Comissão Shaffer recomendando a descriminação.

Pesquisadores da UCLA já trabalharam especificamente na relação câncer-maconha. Acharam células pré-cancerosas em fumantes de maconha e usuários que a combinavam com o tabaco. Consideraram também que inalar profundamente aumentava os riscos. Mas nunca afirmaram que três baseados equivalem a 20 cigarros. Julgaram a maconha menos perigosa e ainda que não produz enfisema, como o tabaco.

Resta uma certeza: pesquisar e debater é saudável. Pena que o Brasil seja relegado ao papel de observador, numa questão tão importante também para nós.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idArea=1&idSubArea=153

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