31 de março de 2004, CartaCapital nº 284
No registro da embaixada dos EUA, Adidos, Conselheiros… Na realidade, 20 entre dezenas de agentes secretos espalhados pelo País.
Bob Fernandes
As denominações são variadas. Na lista de funcionários da embaixada norte-americana em Brasília, eles são, em português, Adidos Civis, Adidos Conselheiros para Assuntos Regionais, Adidos para o Combate às Drogas, simplesmente Adidos... Em inglês, são os Country Attaché, Deputy Attaché, Legal Attaché, e por aí afora. As denominações são a cobertura para o segredo. Nem tão secreto assim, uma vez que tantos deles, quando da troca de cartões e apresentações aos congêneres de várias partes do mundo, e do Brasil também, não escondem o que fazem. Eles são agentes secretos, policiais, espiões dos Estados Unidos. Trabalham com cobertura diplomática, movem-se País afora sem controle algum, apesar dos protocolos em contrário estabelecidos em Acordos e Convênios que apenas escancaram as portas, no mínimo, em troca de alguns milhões de dólares e equipamentos: computadores, tecnologia para escutas, etc., etc.
CIA E DEA PRESSIONAVAM O GOVERNO
Junto à Presidência, os Serviços Secretos e a embaixada dos EUA tramavam a queda do secretário Wálter Maierovitch…
CartaCapital: O senhor dirigiu a coordenação da repressão às drogas? Quem o convidou? Que reações o senhor enfrentou?
Wálter Fanganiello Maierovitch: Fui o primeiro secretário Nacional para o fenômeno das drogas ilícitas. A Secretaria ficava na Presidência da República. Permaneci na Secretaria de novembro de 1998 ao início de março de 2000, com status de ministro. O convite foi formulado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. A Secretaria tinha, dentre outras, a tarefa de coordenar as ações de repressão ao narcotráfico. Quando saí da secretaria, o presidente FHC, em face da pressão norte-americana (embaixada, DEA e CIA) e da Polícia Federal, entendeu em tirar essa sua original atribuição. Justificou alegando sobreposição de funções. Àquela altura, a ação de inconstitucionalidade da Secretaria – argüida por instância da direção da Polícia Federal – já havia sido rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal.
Como se percebe, a própria Polícia Federal pressionava o presidente Fernando Henrique, alegando ter ele cometido uma inconstitucionalidade, ao criar a Secretaria Nacional Antidrogas.
No Palácio do Planalto corria a notícia de que o então delegado-geral da Polícia Federal (Vicente Chelotti) havia “grampeado”, com a CIA, o presidente Fernando Henrique. Não se tratava de corrupção, mas de conversas pessoais do presidente, com flagrante violação ao seu direito de intimidade.
Numa articulação montada pela CIA, o delegado Chelotti viajou para o Caribe a pretexto de investigar o presidente. Voltou de mãos vazias e nenhum processo administrativo foi iniciado contra ele. O presidente sabia tratar-se de jogo de pressão da Polícia Federal e CIA, pois nunca teve contas no paraíso fiscal. A PF, aliás, também tentou derrubar o general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar.
CartaCapital: Como foi sua relação com a CIA, a DEA e a embaixada norte-americana?
Wálter Fanganiello Maierovitch: A embaixada norte-americana, a CIA e a DEA pressionavam para a minha saída da Secretaria, pois, quando assumi, declarei ao Grupo de Dublin (reunido na embaixada norte-americana e composto de todos os embaixadores servindo no Brasil) que a política para as drogas seguiria o modelo europeu e, a partir daquele momento, estava dado o adeus à linha norte-americana.
A NAS tinha uma linha diferente e até forneceu computadores para a instalação, na Secretaria, de um serviço telefônico de apoio aos usuários.
Quando assumiu o FBI no Brasil, o doutor Carlos Costa foi muito correto e leal. Avisou-me de que o seu governo estava inconformado com as novas diretrizes da Secretaria que eu dirigia e, por isso, não haveria nenhuma cooperação ou diálogo.
CartaCapital: Os americanos procuraram retaliar decisões suas?
Wálter Fanganiello Maierovitch: A minha recusa em apresentar ao presidente FHC uma proposta de regulamentação da lei sobre tiro de destruição de aeronaves suspeitas gerou retaliações, como o corte do fornecimento, para o Brasil, de informações sobre navegação aérea obtidas pelo Comando Sul (KeyWest) e as bases norte-americanas de combate ao narcotráfico de Curaçao, Aruba e Iquitos.
O governo norte-americano impôs a tal lei para a América Latina. Era uma espécie de pena de morte, como se comprovou depois, com a derrubada de um avião com uma missionária norte-americana no espaço aéreo peruano. O avião do qual partiram os disparos estava sendo monitorado por um caça norte-americano: eles seguiam ao lado os aviões colombianos, peruanos e bolivianos, para verificar se as “ordens” eram cumpridas. Regra: quem passa a informação tem o direito de assistir ao abate.
No particular, o presidente deu total apoio ao não abate. Mas a pressão foi tamanha, a ponto de o embaixador brasileiro, Rubens Barbosa, ter de entrar em campo. Após uma reunião com a secretária de Estado do presidente Clinton, Madeleine Albright, o embaixador me avisou que, temporariamente, eles não mais tocariam no assunto.
CartaCapital: O senhor topou com agentes secretos norte-americanos atuando livremente no Brasil? Representou à Presidência da República pedindo providências?
Wálter Fanganiello Maierovitch: No início de 1999, tive a primeira oportunidade de inverter a pressão e contei com o apoio de muitos delegados da Polícia Federal, inconformados com a intromissão norte-americana e a divisão grupo Chelotti-CIA e o grupo pró-DEA.
Esses delegados da Polícia Federal apoiavam a linha da Secretaria no sentido de não admitir confusão entre cooperação e cooptação. Iniciei uma contrapressão para enquadrar os serviços secretos dos EUA, que queriam seguir atuando livremente. Aproveitei o momento de renovação do acordo de cooperação Brasil-EUA para tentar colocar freios na CIA, DEA e companhia. Antes de propor ao presidente a prorrogação, por parecer, solicitei, por ofício, ao embaixador norte-americano em exercício no Brasil (a embaixada permaneceu vaga durante muito tempo) um relatório custo-benefício. Ou seja, DEA e CIA, a pretexto das drogas, tinham posto o pé no Brasil durante o regime militar. Até as fontes dos palácios e embaixadas sabiam que a oferta de drogas e o consumo tinham aumentado de forma espantosa no Brasil, além das facilidades com a lavagem do dinheiro do narcotráfico. Portanto, era mais do que recomendado, antes de se prorrogar a cooperação, saber se aquilo valia a pena.
Devo acrescentar, ainda, ter encontrado em Tabatinga (na região onde o Brasil faz fronteira com a Colômbia e o Peru) e no aeroporto de Manaus agentes da CIA e da DEA. Uma meia dúzia deles. Eles não estavam acompanhados pela Polícia Federal, como manda o protocolo e os Acordos. Chegaram a comentar que haviam captado transmissões radiofônicas na região amazônica. Todos forneceram cartões de visita. Informaram que, formalmente, constavam da lista de funcionários da embaixada, em serviços burocráticos, ou seja, fingiam não ser da DEA e da CIA.
Do meu ofício constou, ainda, pedido de relação desses agentes e recomendação para não saírem de Brasília sem autorização e comunicação à Secretaria Nacional Antidrogas.
A “guerra” entre a Secretaria Nacional Antidrogas e a embaixada norte-americana pode ser aferida pelo relatório que apresentei e que a revista agora publica. E era uma “guerra” para tentar enquadrar CIA e DEA, acostumadas a desrespeitar a soberania nacional. Regra: quem tem dinheiro é que manda.
CartaCapital: Não houve um episódio de uma aeronave lotada de agentes secretos?
Wálter Fanganiello Maierovitch: Sim. Foi uma tentativa de pouso de aeronave em território brasileiro, também objeto do relatório que enviei ao general Cardoso. Neguei a autorização de pouso. O avião teve de deixar o espaço aéreo brasileiro. Evidentemente, exigi, antes de decidir pela não-autorização, informações sobre a tal operação de repressão ao narcotráfico. Foi-me dito que a operação era tão secreta que só os que estavam no avião sabiam.
Essa falsa “esperteza” da CIA e da DEA, e elas não percebem isso, leva à falta de confiança. Como agora, nessa história de tentar desqualificar o ex-chefe do FBI que deu entrevista à CartaCapital. Bobagem pura. O Carlos Costa era um deles e tinha poder, mas com uma diferença. Ao contrário de muitos dos seus pares, portava-se com educação e lealdade. Aliás, como idiotas portavam-se uns três agentes secretos que distribuíam cartões de visita, até no Club Athletico Paulistano, que freqüentam por convênio e quando soltos por São Paulo. Até os catadores de bola nas quadras de tênis sabem quem eles são.
Fonte: http://cartacapital.terra.com.br/site/tiosam.htm
quarta-feira, 31 de março de 2004
quinta-feira, 25 de março de 2004
Drogas
29 de abril de 2004, Growroom Board
Cora Rónai
Está na moda condenar os usuários de drogas como co-responsáveis, quando não responsáveis diretos, pela violência que assola a cidade. Além da idéia bizarra de que só existe violência por causa das drogas, há um raciocínio simples (e simplista) por trás disso: "Se ninguém consumir, os traficantes não terão a quem vender".
De fato. Onde não há demanda, não há oferta. Mas é tão fácil dizer "Parem de consumir!" quando não consumimos nada, não é? Agora olhem em volta e vejam quantas pessoas vocês conhecem irremediavelmente viciadas em substâncias legais: chope, uísque, tranqüilizantes, cigarro, carboidratos…
Eu mesma, por exemplo, que não fumo nem bebo, preciso emagrecer. Muito. Não estou acima do peso porque quero, porque desconheço o mal que isso me faz à saúde ou porque me agrade; pelo contrário. Meu maior desejo seria entrar em forma.
"Mas é tão fácil emagrecer!", dizem todos os magros. "Basta parar de comer doce!"
Pois é. É o que venho tentando fazer desde que me tenho por gente - sem o menor sucesso. Minha sorte é que a dependência química de açúcar não me põe forçosamente em contato com criminosos. Posso comprar chocolate em qualquer lugar sem ser ameaçada de morte por traficantes, sem ser achacada por maus policiais, sem correr o risco de ir em cana. Se amanhã o chocolate for proscrito, eu talvez agüente uma ou duas semanas, mas é provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe indo buscar uns bombons de cereja onde quer que seja, ao preço que me pedirem.
Parece brincadeira, mas não é. Estou falando sério. Tentem largar um simples hábito para imaginar como é difícil, quando não impossível, abandonar um vício. E eliminar a tal demanda.
Para mim, o único meio de se resolver o problema das drogas é fazendo com que elas deixem de ser um problema - pelo menos, um problema de polícia. Em outras palavras, liberando o seu consumo, e tirando a distribuição das mãos do crime organizado.
É lógico que quando falo em consumo livre não estou falando num sentido consumista. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de sugerir a distribuição descontrolada, com marcas chiques, gente sarada fazendo propaganda em outdoors e merchandising na novela das oito. A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, hype, néon ou embalagens vistosas.
Sei que esta é uma idéia radical, malvista por boa parte da sociedade; também sei que contraria interesses e levanta questões - inclusive diplomáticas - de uma complexidade indescritível. Mas acho que deve, pelo menos, ser discutida. Será que a distribuição legal de drogas, controlada pelo Estado, seria tão pior do que a atual distribuição ilegal, controlada pelo tráfico?
O consumo não é, em si, um caso de polícia. É caso de saúde pública - o que não significa que os dependentes sejam coitadinhos doentes e inimputáveis, pelo contrário. Mas são, ainda assim, pessoas que precisam de tratamento. Se isso já é difícil em plena legalidade (vide alcoolismo), que dirá na ilegalidade…
O fato é que, desde que o mundo é mundo, a humanidade se droga. Não há registro de civilização que não tenha inventado uma bebida, descoberto um cogumelo, mascado umas folhas. Achar que, justamente agora, nesses tempos nervosos, vamos subitamente parar com isso é, no mínimo, uma perigosa ingenuidade.
Outro fato é que qualquer adolescente de cidade grande tem, hoje, acesso às drogas. O que muitos não têm, até por causa da clandestinidade, é a quem recorrer, seja para se informar, seja para pedir socorro. É evidente que todos preferiríamos filhos "limpos"; mas, sem medo de encarar a realidade, o que é pior, a garotada comprando maconha na farmácia, abertamente, ou, como hoje, se envolvendo com traficantes e não raro com a polícia, com as previsíveis conseqüências?
Não é a ilegalidade que mantém os jovens longe das drogas, mas a educação e a informação. E, suspeito, uma certa carga genética.
Não acredito que todos passassem a se drogar indiscriminadamente caso as drogas fossem liberadas. Cigarro e álcool estão aí, para quem quiser, e nem todo mundo se torna fumante ou alcoólatra. De qualquer forma, o custo de campanhas educativas e de tratamentos contra a dependência seria uma fração do que custa a guerra (perdida) contra o tráfico. Com a vantagem de não fazer tantas vítimas inocentes.
Lógico que a violência, como um todo, não acabaria com a liberação das drogas. Os bandidos que hoje se dedicam ao tráfico não virariam pedreiros ou físicos nucleares da noite para o dia. Provavelmente apenas mudariam de ramo, dedicando-se com mais afinco a roubos e seqüestros. Mas a médio ou longo prazo acho que a violência pode diminuir, sim. Até porque as quantias extraordinárias de dinheiro que atualmente circulam pelas favelas teriam outro destino. Hoje, como todos sabemos, o tráfico paga R$ 500 por semana para adolescentes em começo de "carreira" (sem trocadilho!); qual é atividade honesta que pode competir com isso? Qual é o estímulo que o jovem cooptado pelo tráfico tem para permanecer na escola, aprender um ofício, tornar-se um cidadão de bem? Não adianta dizer a um vapor que o trabalho dignifica. A realidade à sua volta opõe uma multidão de desempregados ou subempregados, aterrorizados por marginais ricos, cheios de mulheres e com status de celebridade na mídia. Morrem todos aos 20 anos? Ora, para um menino de 15, 20 é uma idade quase tão distante quanto o conceito da própria morte.
Em última instância, a questão se resume a uma pergunta básica: a guerra do nosso cotidiano está servindo para alguma coisa?
Fonte: http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=10347&time=1083383504
Cora Rónai
Está na moda condenar os usuários de drogas como co-responsáveis, quando não responsáveis diretos, pela violência que assola a cidade. Além da idéia bizarra de que só existe violência por causa das drogas, há um raciocínio simples (e simplista) por trás disso: "Se ninguém consumir, os traficantes não terão a quem vender".
De fato. Onde não há demanda, não há oferta. Mas é tão fácil dizer "Parem de consumir!" quando não consumimos nada, não é? Agora olhem em volta e vejam quantas pessoas vocês conhecem irremediavelmente viciadas em substâncias legais: chope, uísque, tranqüilizantes, cigarro, carboidratos…
Eu mesma, por exemplo, que não fumo nem bebo, preciso emagrecer. Muito. Não estou acima do peso porque quero, porque desconheço o mal que isso me faz à saúde ou porque me agrade; pelo contrário. Meu maior desejo seria entrar em forma.
"Mas é tão fácil emagrecer!", dizem todos os magros. "Basta parar de comer doce!"
Pois é. É o que venho tentando fazer desde que me tenho por gente - sem o menor sucesso. Minha sorte é que a dependência química de açúcar não me põe forçosamente em contato com criminosos. Posso comprar chocolate em qualquer lugar sem ser ameaçada de morte por traficantes, sem ser achacada por maus policiais, sem correr o risco de ir em cana. Se amanhã o chocolate for proscrito, eu talvez agüente uma ou duas semanas, mas é provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe indo buscar uns bombons de cereja onde quer que seja, ao preço que me pedirem.
Parece brincadeira, mas não é. Estou falando sério. Tentem largar um simples hábito para imaginar como é difícil, quando não impossível, abandonar um vício. E eliminar a tal demanda.
Para mim, o único meio de se resolver o problema das drogas é fazendo com que elas deixem de ser um problema - pelo menos, um problema de polícia. Em outras palavras, liberando o seu consumo, e tirando a distribuição das mãos do crime organizado.
É lógico que quando falo em consumo livre não estou falando num sentido consumista. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de sugerir a distribuição descontrolada, com marcas chiques, gente sarada fazendo propaganda em outdoors e merchandising na novela das oito. A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, hype, néon ou embalagens vistosas.
Sei que esta é uma idéia radical, malvista por boa parte da sociedade; também sei que contraria interesses e levanta questões - inclusive diplomáticas - de uma complexidade indescritível. Mas acho que deve, pelo menos, ser discutida. Será que a distribuição legal de drogas, controlada pelo Estado, seria tão pior do que a atual distribuição ilegal, controlada pelo tráfico?
O consumo não é, em si, um caso de polícia. É caso de saúde pública - o que não significa que os dependentes sejam coitadinhos doentes e inimputáveis, pelo contrário. Mas são, ainda assim, pessoas que precisam de tratamento. Se isso já é difícil em plena legalidade (vide alcoolismo), que dirá na ilegalidade…
O fato é que, desde que o mundo é mundo, a humanidade se droga. Não há registro de civilização que não tenha inventado uma bebida, descoberto um cogumelo, mascado umas folhas. Achar que, justamente agora, nesses tempos nervosos, vamos subitamente parar com isso é, no mínimo, uma perigosa ingenuidade.
Outro fato é que qualquer adolescente de cidade grande tem, hoje, acesso às drogas. O que muitos não têm, até por causa da clandestinidade, é a quem recorrer, seja para se informar, seja para pedir socorro. É evidente que todos preferiríamos filhos "limpos"; mas, sem medo de encarar a realidade, o que é pior, a garotada comprando maconha na farmácia, abertamente, ou, como hoje, se envolvendo com traficantes e não raro com a polícia, com as previsíveis conseqüências?
Não é a ilegalidade que mantém os jovens longe das drogas, mas a educação e a informação. E, suspeito, uma certa carga genética.
Não acredito que todos passassem a se drogar indiscriminadamente caso as drogas fossem liberadas. Cigarro e álcool estão aí, para quem quiser, e nem todo mundo se torna fumante ou alcoólatra. De qualquer forma, o custo de campanhas educativas e de tratamentos contra a dependência seria uma fração do que custa a guerra (perdida) contra o tráfico. Com a vantagem de não fazer tantas vítimas inocentes.
Lógico que a violência, como um todo, não acabaria com a liberação das drogas. Os bandidos que hoje se dedicam ao tráfico não virariam pedreiros ou físicos nucleares da noite para o dia. Provavelmente apenas mudariam de ramo, dedicando-se com mais afinco a roubos e seqüestros. Mas a médio ou longo prazo acho que a violência pode diminuir, sim. Até porque as quantias extraordinárias de dinheiro que atualmente circulam pelas favelas teriam outro destino. Hoje, como todos sabemos, o tráfico paga R$ 500 por semana para adolescentes em começo de "carreira" (sem trocadilho!); qual é atividade honesta que pode competir com isso? Qual é o estímulo que o jovem cooptado pelo tráfico tem para permanecer na escola, aprender um ofício, tornar-se um cidadão de bem? Não adianta dizer a um vapor que o trabalho dignifica. A realidade à sua volta opõe uma multidão de desempregados ou subempregados, aterrorizados por marginais ricos, cheios de mulheres e com status de celebridade na mídia. Morrem todos aos 20 anos? Ora, para um menino de 15, 20 é uma idade quase tão distante quanto o conceito da própria morte.
Em última instância, a questão se resume a uma pergunta básica: a guerra do nosso cotidiano está servindo para alguma coisa?
Fonte: http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=10347&time=1083383504
segunda-feira, 22 de março de 2004
Maconha terapêutica tenta ganhar espaço nos EUA
22 de março de 2004, Terra - Notícias
Agência Efe
O empresário Warren B. Eugene está disposto a convencer a sociedade norte-americana dos efeitos terapêuticos da maconha e, para isso, emitirá anúncios de TV em que propõe receitas de bolos e biscoitos feitos com este ingrediente. Apesar de o cultivo, a posse e a venda da erva estar proibida nos EUA, o empresário - conhecido por ser o primeiro a abrir um cassino na Internet - deu início a uma ambiciosa operação de conquista de mercado que envolverá até mesmo alguns famosos de Hollywood.
Por trás deste trabalho está sua empresa, a Amigula Incorporated, cujas ações Eugene quer que sejam cotadas no American Stock Exchange (AMEX), no Nasdaq, e em algum mercado europeu. Isso, no entanto, não acontecerá até que a lei norte-americana libere o uso da maconha para aliviar a dor e os sintomas de algumas doenças, o que Eugene espera que aconteça em breve.
Com sua base de operações no Canadá, onde a legislação é mais branda, ele começou a contatar cerca de 50 plantadores da erva deste país e já tem 7 mil consumidores registrados.
Para começar a preparar a opinião pública, a empresa planeja pagar por anúncios de televisão que serão veiculados em Nova York, Nova Jérsei, Califórnia e Flórida. Esse material tem por objetivo divulgar receitas que levam maconha e que poderão ser feitas pelos familiares de pessoas doentes.
"Cozinhar em família para ajudar o avô ou a avó que sofrem de artrites ou de câncer, e que buscam um alívio para sua dor", será o tema central dos anúncios, nos quais a população será convidada a incorporar esta erva nos alimentos. "Brownies, muffins, bolos, massas, sopas, patês… tudo pode estar no novo livro de receitas", acrescenta.
Para protagonizar os anúncios, a empresa procura estrelas de Hollywood que estejam convencidas de que é bom utilizar a droga no tratamento de esclerose múltipla, artrite, epilepsia, glaucoma e da AIDS, além de ser indicada para aliviar as náuseas provocadas pela quimioterapia, a ansiedade e o stress.
"Michael J. Fox seria um bom porta-voz para a empresa", dizia hoje a um meio de comunicação o empresário, que indica o ator que há anos luta contra o Mal de Parkinson, um transtorno neurológico degenerativo, progressivo e incurável.
Embora não seja fácil encontrar estrelas dispostas a apoiar esta causa, o empresário assegura que muitas estão dispostas a lançar uma mensagem positiva sobre o uso desta droga. "Necessitamos estrelas que sejam muito conhecidas e que sejam capazes de dar uma mensagem clara: que a maconha é um excelente tratamento homeopático para aqueles que padecem destas doenças. Somos uma empresa dedicada à agricultura farmacêutica, e nossa missão é fazer o bem para os demais", insiste Amigula em um comunicado.
Os anúncios poderiam passar a ser transmitidos no meio do ano, embora os produtos da Amigula não estejam previstos para ser vendidos nos Estados Unidos até que o uso terapêutico da maconha estiver liberado.
Atualmente, a posse desta erva no estado de Nova York é penalizada com uma multa de US$ 100 para o indivíduo que tiver menos de 25 gramas. Para quantidades maiores, a pena pode chegar a até 15 anos de prisão e US$ 5 mil dólares de multa. Pela venda ou pelo cultivo, a pena máxima é idêntica. A mínima, por sua vez, é de 1 ano de prisão e US$ 1 mil de sanção.
Apesar da difícil missão que escolheu como sua, Eugene assegura que nunca fumou maconha, produto que considera que só deve ser utilizado terapeuticamente.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI282614-EI298,00.html
Agência Efe
O empresário Warren B. Eugene está disposto a convencer a sociedade norte-americana dos efeitos terapêuticos da maconha e, para isso, emitirá anúncios de TV em que propõe receitas de bolos e biscoitos feitos com este ingrediente. Apesar de o cultivo, a posse e a venda da erva estar proibida nos EUA, o empresário - conhecido por ser o primeiro a abrir um cassino na Internet - deu início a uma ambiciosa operação de conquista de mercado que envolverá até mesmo alguns famosos de Hollywood.
Por trás deste trabalho está sua empresa, a Amigula Incorporated, cujas ações Eugene quer que sejam cotadas no American Stock Exchange (AMEX), no Nasdaq, e em algum mercado europeu. Isso, no entanto, não acontecerá até que a lei norte-americana libere o uso da maconha para aliviar a dor e os sintomas de algumas doenças, o que Eugene espera que aconteça em breve.
Com sua base de operações no Canadá, onde a legislação é mais branda, ele começou a contatar cerca de 50 plantadores da erva deste país e já tem 7 mil consumidores registrados.
Para começar a preparar a opinião pública, a empresa planeja pagar por anúncios de televisão que serão veiculados em Nova York, Nova Jérsei, Califórnia e Flórida. Esse material tem por objetivo divulgar receitas que levam maconha e que poderão ser feitas pelos familiares de pessoas doentes.
"Cozinhar em família para ajudar o avô ou a avó que sofrem de artrites ou de câncer, e que buscam um alívio para sua dor", será o tema central dos anúncios, nos quais a população será convidada a incorporar esta erva nos alimentos. "Brownies, muffins, bolos, massas, sopas, patês… tudo pode estar no novo livro de receitas", acrescenta.
Para protagonizar os anúncios, a empresa procura estrelas de Hollywood que estejam convencidas de que é bom utilizar a droga no tratamento de esclerose múltipla, artrite, epilepsia, glaucoma e da AIDS, além de ser indicada para aliviar as náuseas provocadas pela quimioterapia, a ansiedade e o stress.
"Michael J. Fox seria um bom porta-voz para a empresa", dizia hoje a um meio de comunicação o empresário, que indica o ator que há anos luta contra o Mal de Parkinson, um transtorno neurológico degenerativo, progressivo e incurável.
Embora não seja fácil encontrar estrelas dispostas a apoiar esta causa, o empresário assegura que muitas estão dispostas a lançar uma mensagem positiva sobre o uso desta droga. "Necessitamos estrelas que sejam muito conhecidas e que sejam capazes de dar uma mensagem clara: que a maconha é um excelente tratamento homeopático para aqueles que padecem destas doenças. Somos uma empresa dedicada à agricultura farmacêutica, e nossa missão é fazer o bem para os demais", insiste Amigula em um comunicado.
Os anúncios poderiam passar a ser transmitidos no meio do ano, embora os produtos da Amigula não estejam previstos para ser vendidos nos Estados Unidos até que o uso terapêutico da maconha estiver liberado.
Atualmente, a posse desta erva no estado de Nova York é penalizada com uma multa de US$ 100 para o indivíduo que tiver menos de 25 gramas. Para quantidades maiores, a pena pode chegar a até 15 anos de prisão e US$ 5 mil dólares de multa. Pela venda ou pelo cultivo, a pena máxima é idêntica. A mínima, por sua vez, é de 1 ano de prisão e US$ 1 mil de sanção.
Apesar da difícil missão que escolheu como sua, Eugene assegura que nunca fumou maconha, produto que considera que só deve ser utilizado terapeuticamente.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI282614-EI298,00.html
quarta-feira, 17 de março de 2004
Nova legislação sobre drogas no Brasil
17 de março de 2004, The Narco News Bulletin
Primeiro passo para descriminalizar o usuário e diminuir a superlotação dos presídios
Karine Mueller
“Cada crime uma sentença. Cada sentença um motivo, uma história de lágrima. Sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo. Misture bem essa química. Pronto: eis um novo detento… Mas pro Estado é só um número, mais nada. Nove pavilhões, sete mil homens. Que custam trezentos reais por mês, cada.” (Diário de um Detento – autor desconhecido.)
O trecho acima se refere à música interpretada pelos Racionais MC’s, grupo de rap brasileiro. A letra é o retrato da realidade vivida pelos presos da superlotada Casa de Detenção Carandiru, desativada em 2002, dez anos após o massacre que deixou 111 mortos. A superlotação tem sido o maior problema do sistema prisional do país. Dados do último censo divulgado pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), revelam que, em 1995, o Brasil tinha 95,5 presos por 100 mil habitantes; e, hoje, tem 173,5 por 100 mil – um aumento de 81,7%. Eram 148 mil detentos há oito anos e hoje são 300 mil, disputando espaço em 1.430 presídios e delegacias.
Por trás destes números está uma política de combate à criminalidade equivocada, que aposta no endurecimento da legislação penal como instrumento para garantir a nossa segurança. O número de presos despejados nas cadeias é muito maior do que aquele que o sistema de justiça criminal consegue digerir e colocar de volta na rua. A grande maioria, 98% dos presidiários, são pessoas pobres, 38% têm menos de 25 anos e 67% não concluíram o ensino fundamental. Dados que comprovam que quem tem dinheiro para pagar um advogado não é preso e, muitas vezes, sequer é processado.
Estima-se que, do número total de detentos, cerca de 12,5% foram surpreendidos em flagrante com pequeno porte de drogas (quantidades que caracterizam uso próprio) e indiciados através da Lei 6368/76 – tráfico de drogas – artigo 12 do Código Penal, parágrafo 2, inciso 3, que trata da contribuição ou difusão do uso indevido de drogas ou tráfico de entorpecente, com pena de três a 15 anos. Ou seja, foram vítimas de uma lei ambígua que não diferencia o traficante do usuário ou dependente químico.
Luz no fim do túnel
O problema da crise social dentro dos presídios é também um problema de leis. Mal elaboradas e aplicadas, colocam na mesma cela o “ladrão de galinhas” e o homicida. O usuário de drogas e o traficante. Servindo como instrumento para reparar esta confusão, no último dia 11/02 foi aprovada, no Senado, a Lei 7134. A medida determina o fim da pena de prisão para usuários e dependentes de drogas. A nova lei também dispensa a necessidade de o consumidor flagrado com entorpecentes ir à delegacia. Ele deverá apenas ser encaminhado à Justiça, onde prestará depoimento. Caso isso não seja possível, o infrator terá de assinar termo circunstanciado, em que se compromete a ir ao juizado. A pena prevista varia da advertência verbal até a prestação de serviços à comunidade. A prisão para o consumidor ocorrerá somente em um caso: quando ele se recusar a cumprir a pena determinada pelo juiz.
A lei tem o apoio do Governo, mas deverá sofrer algumas modificações no texto antes de começar a ser aplicada. Distinguindo o usuário do traficante, espera-se que o uso de drogas seja tratado como tema de saúde; e o do tráfico, como uma questão de polícia.
Na prática, o que muda com a Lei 7134?
Menos gente presa por abuso de drogas, mais investimento em outros setores da saúde pública ou no combate a violência. Em um ano, o governo brasileiro chega a gastar de 1500 a 3000 reais por preso na repressão ao uso de drogas dentro das cadeias. Ainda não temos informações se, junto com a implantação da Lei 7134, haverá a possibilidade de habeas corpus aos detentos enquadrados na legislação anterior. Tampouco se os mesmos terão alguma chance de lutar na justiça contra a sentença julgada. São 37.500 pessoas, enquadradas neste caso, esperando uma chance de reintegração na sociedade. Enquanto isto não for possível, ao menos a mudança promete poupar as vidas, muitas vezes vítimas do preconceito e da exclusão social, das condições precárias e subumanas em que vivem os presidiários no país.
A nova lei impede a prisão do usuário e ainda acaba com o tratamento obrigatório contra a dependência química. Quando achar necessário, o juiz pode sugerir um tratamento, que deve ser oferecido gratuitamente pela rede pública de saúde. Para traficantes, a pena varia de 5 a 15 anos de prisão, sem direito a fiança ou benefícios. A diferenciação dos dependentes será feita por um juiz. Na avaliação do relator da proposta, deputado Paulo Pimenta “uma pessoa surpreendida com cinco cigarros de maconha na frente de casa é bem diferente de outra, surpreendida com a mesma quantidade em uma escola”. No caso do financiador do tráfico a pena pode variar de 8 a 20 anos.
Parlamentares que desaprovam a nova legislação
Apesar deste avanço na legislação brasileira há quem insista na “Guerra das Drogas”, exigindo a permanência da criminalização do uso. O deputado Alberto Fraga, da Frente Parlamentar de Segurança Pública, não poupou críticas ao projeto na imprensa, argumentando que é por meio do consumidor que a polícia chega ao traficante. Ele ainda confundiu a descriminalização com a legalização afirmando que a nova lei “é praticamente a liberação das drogas”.
Durante a aprovação da nova lei, o deputado Walter Rubinelli, engrossou o coro dos descontentes na Câmara, dizendo em voz alta: “Este é um dia especial para traficantes”. Já o deputado Morani Torgan, que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do narcotráfico em 1999, foi mais longe. Além das críticas na imprensa, o parlamentar aproveitou a brecha de que o texto iria sofrer modificações e propôs um anteprojeto de lei.
Torgan valeu-se do fato de que não foi estabelecido um prazo para fazer as alterações na redação do projeto, para revelar sua descrença na aplicabilidade da lei enfatizando que esta poderia virar “letra morta”.
Atitude sábia
Apesar das ondas negativas, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que sempre foi a favor da descriminalização das drogas, elogiou a aprovação da Lei 7134. O ministro está convencido de que a proposta é “um avanço na direção do combate efetivo ao tráfico e ao consumo de drogas no País”. Definiu a lei como uma atitude sábia, sustentando que o usuário não pode sofrer mais a criminalização da cadeia.
O atual secretário da SENAD (Secretaria Nacional Anti-Drogas), general Paulo Roberto Uchôa, esteve presente durante toda a votação do projeto e afirmou que o mais importante na proposta é “a diferenciação entre viciados e traficantes”.
A opinião de especialistas
Mudar leis no Brasil não é tarefa fácil. Gera muita polêmica e equívocos. Mesmo com a mudança na legislação ainda não atingimos o tratamento ideal na questão do uso de drogas. Expressões como “viciado”, “antidroga”, “penas alternativas”, “criminoso”, ainda são freqüentes neste debate. Contudo, é fundamental ressaltar que um primeiro passo foi dado em direção à descriminalização do usuário.
O juiz aposentado, Waltér Maierovitch, especialista em drogas, considera a Lei 7134 como uma “despenalização relativa do consumo, mas que poderia ir mais longe”. Ele defende que “era possível chegar ao patamar da modernidade, como em Portugal, onde o uso de drogas não é mais crime”. Maierovitch, que já foi secretário nacional antidrogas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, opina que a lei continua estigmatizando o dependente.
Profissionais de saúde também defendem tratamento em vez de prisão. Na atual política de Redução de Danos, o dependente não é criminoso, mas alguém que precisa de ajuda. Entretanto, mesmo sem prisão, o projeto não agradou à psicóloga Sandra Batista, presidente da Rede Latino-Americana de Redução de Danos. Para ela, dar seguimento às penas alternativas significa continuar tratando o consumidor como um criminoso.
“O uso de droga não deve ser crime”, esta é a opinião do antropólogo e ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Soares. Por ser favorável à descriminalização, o antropólogo aprovou a medida do governo, ressaltando a evolução da política pública sobre drogas no país. Para Soares, o debate deve seguir cada vez mais público e não ficar restrito apenas ao cenário governamental.
Com este gancho, e levantando a bandeira do respeito à população brasileira, especialmente aos que não têm chance de defesa, o próximo passo é cobrar dos parlamentares, juristas e demais autoridades competentes que a Lei 7134 seja aplicada de forma justa e democrática. E que se estabeleça uma razoável proporcionalidade entre o crime cometido e o castigo aplicado.
Fonte: http://narconews.com/Issue32/artigo928.html
Primeiro passo para descriminalizar o usuário e diminuir a superlotação dos presídios
Karine Mueller
“Cada crime uma sentença. Cada sentença um motivo, uma história de lágrima. Sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo. Misture bem essa química. Pronto: eis um novo detento… Mas pro Estado é só um número, mais nada. Nove pavilhões, sete mil homens. Que custam trezentos reais por mês, cada.” (Diário de um Detento – autor desconhecido.)
O trecho acima se refere à música interpretada pelos Racionais MC’s, grupo de rap brasileiro. A letra é o retrato da realidade vivida pelos presos da superlotada Casa de Detenção Carandiru, desativada em 2002, dez anos após o massacre que deixou 111 mortos. A superlotação tem sido o maior problema do sistema prisional do país. Dados do último censo divulgado pelo DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), revelam que, em 1995, o Brasil tinha 95,5 presos por 100 mil habitantes; e, hoje, tem 173,5 por 100 mil – um aumento de 81,7%. Eram 148 mil detentos há oito anos e hoje são 300 mil, disputando espaço em 1.430 presídios e delegacias.
Por trás destes números está uma política de combate à criminalidade equivocada, que aposta no endurecimento da legislação penal como instrumento para garantir a nossa segurança. O número de presos despejados nas cadeias é muito maior do que aquele que o sistema de justiça criminal consegue digerir e colocar de volta na rua. A grande maioria, 98% dos presidiários, são pessoas pobres, 38% têm menos de 25 anos e 67% não concluíram o ensino fundamental. Dados que comprovam que quem tem dinheiro para pagar um advogado não é preso e, muitas vezes, sequer é processado.
Estima-se que, do número total de detentos, cerca de 12,5% foram surpreendidos em flagrante com pequeno porte de drogas (quantidades que caracterizam uso próprio) e indiciados através da Lei 6368/76 – tráfico de drogas – artigo 12 do Código Penal, parágrafo 2, inciso 3, que trata da contribuição ou difusão do uso indevido de drogas ou tráfico de entorpecente, com pena de três a 15 anos. Ou seja, foram vítimas de uma lei ambígua que não diferencia o traficante do usuário ou dependente químico.
Luz no fim do túnel
O problema da crise social dentro dos presídios é também um problema de leis. Mal elaboradas e aplicadas, colocam na mesma cela o “ladrão de galinhas” e o homicida. O usuário de drogas e o traficante. Servindo como instrumento para reparar esta confusão, no último dia 11/02 foi aprovada, no Senado, a Lei 7134. A medida determina o fim da pena de prisão para usuários e dependentes de drogas. A nova lei também dispensa a necessidade de o consumidor flagrado com entorpecentes ir à delegacia. Ele deverá apenas ser encaminhado à Justiça, onde prestará depoimento. Caso isso não seja possível, o infrator terá de assinar termo circunstanciado, em que se compromete a ir ao juizado. A pena prevista varia da advertência verbal até a prestação de serviços à comunidade. A prisão para o consumidor ocorrerá somente em um caso: quando ele se recusar a cumprir a pena determinada pelo juiz.
A lei tem o apoio do Governo, mas deverá sofrer algumas modificações no texto antes de começar a ser aplicada. Distinguindo o usuário do traficante, espera-se que o uso de drogas seja tratado como tema de saúde; e o do tráfico, como uma questão de polícia.
Na prática, o que muda com a Lei 7134?
Menos gente presa por abuso de drogas, mais investimento em outros setores da saúde pública ou no combate a violência. Em um ano, o governo brasileiro chega a gastar de 1500 a 3000 reais por preso na repressão ao uso de drogas dentro das cadeias. Ainda não temos informações se, junto com a implantação da Lei 7134, haverá a possibilidade de habeas corpus aos detentos enquadrados na legislação anterior. Tampouco se os mesmos terão alguma chance de lutar na justiça contra a sentença julgada. São 37.500 pessoas, enquadradas neste caso, esperando uma chance de reintegração na sociedade. Enquanto isto não for possível, ao menos a mudança promete poupar as vidas, muitas vezes vítimas do preconceito e da exclusão social, das condições precárias e subumanas em que vivem os presidiários no país.
A nova lei impede a prisão do usuário e ainda acaba com o tratamento obrigatório contra a dependência química. Quando achar necessário, o juiz pode sugerir um tratamento, que deve ser oferecido gratuitamente pela rede pública de saúde. Para traficantes, a pena varia de 5 a 15 anos de prisão, sem direito a fiança ou benefícios. A diferenciação dos dependentes será feita por um juiz. Na avaliação do relator da proposta, deputado Paulo Pimenta “uma pessoa surpreendida com cinco cigarros de maconha na frente de casa é bem diferente de outra, surpreendida com a mesma quantidade em uma escola”. No caso do financiador do tráfico a pena pode variar de 8 a 20 anos.
Parlamentares que desaprovam a nova legislação
Apesar deste avanço na legislação brasileira há quem insista na “Guerra das Drogas”, exigindo a permanência da criminalização do uso. O deputado Alberto Fraga, da Frente Parlamentar de Segurança Pública, não poupou críticas ao projeto na imprensa, argumentando que é por meio do consumidor que a polícia chega ao traficante. Ele ainda confundiu a descriminalização com a legalização afirmando que a nova lei “é praticamente a liberação das drogas”.
Durante a aprovação da nova lei, o deputado Walter Rubinelli, engrossou o coro dos descontentes na Câmara, dizendo em voz alta: “Este é um dia especial para traficantes”. Já o deputado Morani Torgan, que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do narcotráfico em 1999, foi mais longe. Além das críticas na imprensa, o parlamentar aproveitou a brecha de que o texto iria sofrer modificações e propôs um anteprojeto de lei.
Torgan valeu-se do fato de que não foi estabelecido um prazo para fazer as alterações na redação do projeto, para revelar sua descrença na aplicabilidade da lei enfatizando que esta poderia virar “letra morta”.
Atitude sábia
Apesar das ondas negativas, o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que sempre foi a favor da descriminalização das drogas, elogiou a aprovação da Lei 7134. O ministro está convencido de que a proposta é “um avanço na direção do combate efetivo ao tráfico e ao consumo de drogas no País”. Definiu a lei como uma atitude sábia, sustentando que o usuário não pode sofrer mais a criminalização da cadeia.
O atual secretário da SENAD (Secretaria Nacional Anti-Drogas), general Paulo Roberto Uchôa, esteve presente durante toda a votação do projeto e afirmou que o mais importante na proposta é “a diferenciação entre viciados e traficantes”.
A opinião de especialistas
Mudar leis no Brasil não é tarefa fácil. Gera muita polêmica e equívocos. Mesmo com a mudança na legislação ainda não atingimos o tratamento ideal na questão do uso de drogas. Expressões como “viciado”, “antidroga”, “penas alternativas”, “criminoso”, ainda são freqüentes neste debate. Contudo, é fundamental ressaltar que um primeiro passo foi dado em direção à descriminalização do usuário.
O juiz aposentado, Waltér Maierovitch, especialista em drogas, considera a Lei 7134 como uma “despenalização relativa do consumo, mas que poderia ir mais longe”. Ele defende que “era possível chegar ao patamar da modernidade, como em Portugal, onde o uso de drogas não é mais crime”. Maierovitch, que já foi secretário nacional antidrogas durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, opina que a lei continua estigmatizando o dependente.
Profissionais de saúde também defendem tratamento em vez de prisão. Na atual política de Redução de Danos, o dependente não é criminoso, mas alguém que precisa de ajuda. Entretanto, mesmo sem prisão, o projeto não agradou à psicóloga Sandra Batista, presidente da Rede Latino-Americana de Redução de Danos. Para ela, dar seguimento às penas alternativas significa continuar tratando o consumidor como um criminoso.
“O uso de droga não deve ser crime”, esta é a opinião do antropólogo e ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Soares. Por ser favorável à descriminalização, o antropólogo aprovou a medida do governo, ressaltando a evolução da política pública sobre drogas no país. Para Soares, o debate deve seguir cada vez mais público e não ficar restrito apenas ao cenário governamental.
Com este gancho, e levantando a bandeira do respeito à população brasileira, especialmente aos que não têm chance de defesa, o próximo passo é cobrar dos parlamentares, juristas e demais autoridades competentes que a Lei 7134 seja aplicada de forma justa e democrática. E que se estabeleça uma razoável proporcionalidade entre o crime cometido e o castigo aplicado.
Fonte: http://narconews.com/Issue32/artigo928.html
sexta-feira, 12 de março de 2004
Condição para vila hippie sobreviver: comportar-se bem
12 de março de 2004, Estadão
Copenhague - O famoso enclave hippie de Christiania pode manter-se como uma comunidade com estilo de vida alternativo, contanto que seus habitantes comportem-se como dinamarqueses “normais” obedientes à lei. Num relatório sobre o futuro de Christiania, o governo da Dinamarca anunciou hoje que eles devem começar a pagar aluguel e adaptar suas residências aos códigos de construção ou serão demolidas.
Entretanto, os 34 hectares do ex-quartel naval que é, agora, o lar de cerca de 1.000 pessoas “deve ser uma área onde há lugar para se viver de um modo diferente”, concordou o ministro da Fazenda Thor Pedersen. “Mas”, ele avisou, “ela deve ser normalizada, precisa respeitar as leis que se aplicam ao resto da sociedade dinamarquesa.”
A comunidade tem suas raízes em 1971, quando dezenas de hippies mudaram-se para o forte do século 18 abandonado, uma propriedade do estado atrás das fortificações da capital. Sociedade livre de freios, tornou-se um oásis da contracultura, com psicodélicos prédios coloridos, maconha à disposição, sem governo, sem carros, sem polícia.
Em 1987, Christiania foi reconhecida como “experimento social” e, dois anos depois, o parlamento deu aos moradores o direito de usar a terra, mas não sua propriedade. Os 15 anos de acordo com o governo estão terminando.
Antes 1º [de ?] de 2005, os moradores deverão fazer acordos coletivos ou individuais com o estado para alugar as áreas que usam. Atualmente, adultos pagam uma taxa fixa mensal de 1.600 coroas dinamarquesas (R$ 771,00) para a comunidade por água, luz e outros serviços.
O governo também critica a mais alta autoridade interna da Christiania, que decide quem pode se estabelecer na comunidade.
“Os moradores estão envelhecendo e há muito poucas famílias jovens com filhos”, disse Bendt Bendtsen, o ministro da Economia e Comércio que está encarregado do alojamento, em uma entrevista coletiva à imprensa.
De acordo com o relatório de 116 páginas do governo, 9% dos moradores têm entre 20 e 29 anos, enquanto em toda Copenhague esse grupo corresponde a 24% da população.
Bendtsen quer que várias casas fora das regras de segurança contra incêndios se regularizem e 20 outras sejam demolidas, por não terem permissão para construção. Segundo ele, várias casas são perigosas para se viver por causa de seu nível de decomposição. E 14, dos 24 prédios que o governo considerou que valiam a pena serem conservados nos anos 80, ruíram. O governo insiste em que “quer que as mudanças aconteçam por meio de diálogo com os moradores”.
Não houve, por enquanto, reação da comunidade, que se tornou uma das maiores atrações turísticas de Copenhague, recebendo cerca de 1 milhão de visitantes anualmente.
Em janeiro, traficantes de haxixe, que vendiam a droga abertamente, demoliram suas barracas de venda para evitar sanções que temiam pudessem levá-los à prisão. O governo vem ameaçando com represálias a vendedores de drogas da área, que são toleradas há muito tempo pela polícia.
Embora as barracas tenham desaparecido, o haxixe ainda é vendido. Desde janeiro, cerca de 865 toneladas de haxixe, com valor estimado em 45 milhões de coroas dinamarquesas (R$ 21.750.000,00) foram apreendidas, disse Bendtsen.
LEIA TAMBÉM:
Christiania
Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2004/mar/12/93.htm
Copenhague - O famoso enclave hippie de Christiania pode manter-se como uma comunidade com estilo de vida alternativo, contanto que seus habitantes comportem-se como dinamarqueses “normais” obedientes à lei. Num relatório sobre o futuro de Christiania, o governo da Dinamarca anunciou hoje que eles devem começar a pagar aluguel e adaptar suas residências aos códigos de construção ou serão demolidas.
Entretanto, os 34 hectares do ex-quartel naval que é, agora, o lar de cerca de 1.000 pessoas “deve ser uma área onde há lugar para se viver de um modo diferente”, concordou o ministro da Fazenda Thor Pedersen. “Mas”, ele avisou, “ela deve ser normalizada, precisa respeitar as leis que se aplicam ao resto da sociedade dinamarquesa.”
A comunidade tem suas raízes em 1971, quando dezenas de hippies mudaram-se para o forte do século 18 abandonado, uma propriedade do estado atrás das fortificações da capital. Sociedade livre de freios, tornou-se um oásis da contracultura, com psicodélicos prédios coloridos, maconha à disposição, sem governo, sem carros, sem polícia.
Em 1987, Christiania foi reconhecida como “experimento social” e, dois anos depois, o parlamento deu aos moradores o direito de usar a terra, mas não sua propriedade. Os 15 anos de acordo com o governo estão terminando.
Antes 1º [de ?] de 2005, os moradores deverão fazer acordos coletivos ou individuais com o estado para alugar as áreas que usam. Atualmente, adultos pagam uma taxa fixa mensal de 1.600 coroas dinamarquesas (R$ 771,00) para a comunidade por água, luz e outros serviços.
O governo também critica a mais alta autoridade interna da Christiania, que decide quem pode se estabelecer na comunidade.
“Os moradores estão envelhecendo e há muito poucas famílias jovens com filhos”, disse Bendt Bendtsen, o ministro da Economia e Comércio que está encarregado do alojamento, em uma entrevista coletiva à imprensa.
De acordo com o relatório de 116 páginas do governo, 9% dos moradores têm entre 20 e 29 anos, enquanto em toda Copenhague esse grupo corresponde a 24% da população.
Bendtsen quer que várias casas fora das regras de segurança contra incêndios se regularizem e 20 outras sejam demolidas, por não terem permissão para construção. Segundo ele, várias casas são perigosas para se viver por causa de seu nível de decomposição. E 14, dos 24 prédios que o governo considerou que valiam a pena serem conservados nos anos 80, ruíram. O governo insiste em que “quer que as mudanças aconteçam por meio de diálogo com os moradores”.
Não houve, por enquanto, reação da comunidade, que se tornou uma das maiores atrações turísticas de Copenhague, recebendo cerca de 1 milhão de visitantes anualmente.
Em janeiro, traficantes de haxixe, que vendiam a droga abertamente, demoliram suas barracas de venda para evitar sanções que temiam pudessem levá-los à prisão. O governo vem ameaçando com represálias a vendedores de drogas da área, que são toleradas há muito tempo pela polícia.
Embora as barracas tenham desaparecido, o haxixe ainda é vendido. Desde janeiro, cerca de 865 toneladas de haxixe, com valor estimado em 45 milhões de coroas dinamarquesas (R$ 21.750.000,00) foram apreendidas, disse Bendtsen.
LEIA TAMBÉM:
Christiania
Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2004/mar/12/93.htm
quarta-feira, 3 de março de 2004
Grande parte de homicídios no Brasil tem relação com drogas
3 de março de 2004, UOL Últimas Notícias
Carolina Schwartz
SÃO PAULO (Reuters) - Um documento divulgado nesta quarta-feira sobre a relação das drogas com a violência no mundo alertou, em suas primeiras páginas, sobre o peso que crimes relacionados a elas tem nas cidades do Brasil.
Segundo o relatório de uma agência de controle de drogas ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), uma grande parte dos quase 30 mil homicídios cometidos no país anualmente está ligada ao consumo e tráfico de drogas. O Relatório Anual da Junta Internacional de Controle de Drogas (INCB, na sigla em inglês) afirmou ainda que crianças de rua usadas pelos traficantes para a movimentação das drogas são "freqüentemente mortas por saber demais, roubar demais ou ser apanhadas no fogo cruzado entre gangues e traficantes".
O documento disse também que uma pesquisa do Banco Mundial na América Latina sobre gangues mostrou que "os grupos envolvidos no tráfico de drogas tinham maior nível de violência do que os que não estavam ligados à atividade".
A INCB destacou como positivo um maior enfoque do sistema judicial do Brasil na luta contra o tráfico e o crescente uso de penas alternativas para usuários de drogas. Apesar disso, o relatório afirmou que tais penas não são acessíveis a todos.
"Os serviços de tratamento e reabilitação oferecidos gratuitamente pelo governo ainda são limitados, e pessoas de baixa renda quase não têm acesso a essas alternativas", disse o documento do órgão, cujo objetivo é monitorar a implementação das convenções da ONU sobre drogas.
Em fevereiro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que acaba com a prisão para os usuários de drogas. A medida ainda tem que passar pelo Senado para entrar em vigor.
Pela lei, um juiz determinará se o usuário sofrerá uma advertência verbal ou escrita ou se precisará cumprir trabalho comunitário. O magistrado poderá ainda encaminhar a pessoa a uma instituição para tratamento médico.
Atualmente, a Justiça decide a punição para o usuário, que varia de 6 meses a 2 anos de prisão. Existe também a possibilidade de multa.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2004/03/03/ult27u40967.jhtm
Carolina Schwartz
SÃO PAULO (Reuters) - Um documento divulgado nesta quarta-feira sobre a relação das drogas com a violência no mundo alertou, em suas primeiras páginas, sobre o peso que crimes relacionados a elas tem nas cidades do Brasil.
Segundo o relatório de uma agência de controle de drogas ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), uma grande parte dos quase 30 mil homicídios cometidos no país anualmente está ligada ao consumo e tráfico de drogas. O Relatório Anual da Junta Internacional de Controle de Drogas (INCB, na sigla em inglês) afirmou ainda que crianças de rua usadas pelos traficantes para a movimentação das drogas são "freqüentemente mortas por saber demais, roubar demais ou ser apanhadas no fogo cruzado entre gangues e traficantes".
O documento disse também que uma pesquisa do Banco Mundial na América Latina sobre gangues mostrou que "os grupos envolvidos no tráfico de drogas tinham maior nível de violência do que os que não estavam ligados à atividade".
A INCB destacou como positivo um maior enfoque do sistema judicial do Brasil na luta contra o tráfico e o crescente uso de penas alternativas para usuários de drogas. Apesar disso, o relatório afirmou que tais penas não são acessíveis a todos.
"Os serviços de tratamento e reabilitação oferecidos gratuitamente pelo governo ainda são limitados, e pessoas de baixa renda quase não têm acesso a essas alternativas", disse o documento do órgão, cujo objetivo é monitorar a implementação das convenções da ONU sobre drogas.
Em fevereiro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que acaba com a prisão para os usuários de drogas. A medida ainda tem que passar pelo Senado para entrar em vigor.
Pela lei, um juiz determinará se o usuário sofrerá uma advertência verbal ou escrita ou se precisará cumprir trabalho comunitário. O magistrado poderá ainda encaminhar a pessoa a uma instituição para tratamento médico.
Atualmente, a Justiça decide a punição para o usuário, que varia de 6 meses a 2 anos de prisão. Existe também a possibilidade de multa.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2004/03/03/ult27u40967.jhtm
segunda-feira, 1 de março de 2004
Maconha
Março de 2004, Playboy
Dos pés do Himalaia ao dia-a-dia de 147 milhões de usuários no planeta, ela se tornou a droga proibida mais popular da história. O que você precisa saber sobre a erva para enxergar além da fumaça.
Fernando Costa Netto e Ricardo Villela
Pelo menos 30 milhões de brasileiros já experimentaram a sensação. O relógio anda devagar, as preocupações desaparecem, o corpo relaxa, o trivial fica engraçado. O pensamento salta de idéia em idéia, uma mais genial do que a outra. Depois dá fome. Tudo fica gostoso: molho de tomate pronto, pizza de ontem, sorvete derretido. Após algumas horas, o barato vai embora como chegou: devagarinho. No mundo inteiro, 147 milhões de pessoas experimentam essas sensações regularmente. É o número de usuários freqüentes de maconha estimado pela Organização das Nações Unidas. No Brasil, são 5 milhões. Nos últimos dez anos, a quantidade de estudantes brasileiros que experimentaram a droga multiplicou por quatro. O que as estatísticas mostram, você percebe em conversas de mesa de bar, nas praias, nos shows ao ar livre. A maconha é a terceira droga mais consumida no mundo, atrás do álcool e do tabaco. Das três, é a única ilícita, ao menos na maioria dos países. Dependendo do lugar em que você acende um baseado, pode ganhar um pito do guarda, parar numa clínica de recuperação ou passar sete anos na cadeia.
Em 1977, o então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter disse uma obviedade freqüentemente ignorada num discurso ao Congresso americano: "A punição contra a posse de drogas não pode fazer mais mal a um indivíduo do que a própria droga faz". A frase encontrou eco no Congresso brasileiro a alguns dias do último Carnaval. Em mais um passo no lento processo de modernização da legislação antidrogas do Brasil, o plenário aprovou um projeto de lei que acaba com a prisão para consumidores de drogas. "É um avanço. Vai impedir muita família de classe média de pagar suborno para limpar a barra dos filhos", disse o deputado Fernando Gabeira, velho defensor de políticas mais liberais de repressão a drogas. Até que a lei tramite pelo Senado e ganhe sanção presidencial, o que deve levar pelo menos dois meses, ainda vale a regra antiga, que prevê detenção de seis meses a dois anos para quem for flagrado com um baseado na sacola. O passo dado em fevereiro está longe de colocar o Brasil no rumo da legalização da maconha. Os réus ainda poderão ser condenados a prestar serviços à comunidade e comparecer a um curso educativo.
PLAYBOY decidiu enfiar sua colher nessa discussão com um pacotaço especial. Ao navegar pelos links à direita [no site da revista Playboy], você vai ler uma linha do tempo sobre a erva, uma lista de maconheiros famosos, a solução que um grupo de usuários paulistas encontrou para não depender de traficantes e as diferenças da legislação sobre a droga em vários países. Há também uma página com fatos indiscutíveis sobre o uso da droga. As ilustrações à esquerda [aqui, no final da página] são sete anúncios criados por agências de publicidade a nosso convite [aqui, são quatro]. Pedimos aos publicitários que imaginassem como seria a propaganda caso a erva fosse liberada. São obras de ficção, naturalmente. Nem em países com legislação avançada, como Austrália e Holanda, a propaganda da maconha é permitida. A idéia original é da revista de bolso Venice, distribuída em bares, academias e lojas de surfe das principais capitais brasileiras. Seu editor, Fernando Costa Netto, nos ajudou na produção desta reportagem.
A parte mais surpreendente deste trabalho talvez sejam os depoimentos colhidos por Fernando numa clínica para dependentes da droga (também nos links à direita [no site da revista Playboy]). Eles foram obtidos no Ambulatório de Maconha da Unidade de Tratamento para Dependentes de Álcool e Drogas (UNIAD). É um serviço gratuito do departamento de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina. O UNIAD já atendeu mais de 350 viciados que perderam o controle sobre o uso da maconha e passaram a enfrentar uma rotina de pesadelos na tentativa de parar. O projeto do Ambulatório de Maconha é desenvolvido por uma equipe de cinco terapeutas coordenada pela psicóloga Flávia Jungerman, uma das responsáveis pela implantação desse programa pioneiro. Flávia afirma que a maconha provoca profundas crises de abstinência. As crises são causadas pelo princípio ativo da maconha, o THC, que serpenteia o cérebro como um polvo. Os sintomas de quem tenta parar depois de viciado são ansiedade, nervosismo, dificuldade para dormir, falta de apetite e irritabilidade. PLAYBOY conversou com três dependentes. Eles buscaram tratamento para se livrar dos riscos, do desconforto familiar ou da confusão mental que a maconha trouxe às suas vidas.
A erva mata (os outros)
O pior efeito colateral provocado pela maconha acontece a léguas de distância do sujeito com o baseado na boca. O acender de um cigarro bota em movimento uma engrenagem de violência que só no Rio de Janeiro mata mais menores do que em regiões em estado de guerra, como a Palestina. A maconha fumada pelos brasileiros vem de dois lugares: o agreste nordestino e o Paraguai. O transporte para as cidades é feito em caminhões. Ao chegar ao destino, ela é dividida em blocos de 10 quilos para traficantes médios, que repartem em sacos de 1 quilo e distribuem aos pequenos vendedores de drogas. É nessa etapa que ocorre a violência maior, com o envolvimento de crianças na guerrilha do tráfico e o derramamento de sangue que vai parar nas primeiras páginas dos jornais. A maconha pode ser freqüentemente associada à alienação, mas é crescente o número de usuários mudando de hábito para não fomentar a violência urbana. O químico paulista Eduardo (nome falso), 32 anos, fuma desde os 16, sempre comprando na rua. Há cinco anos, decidiu que cultivaria a própria erva. Desde então, nunca mais comprou um baseado.
"Assim, posso fumar sem culpa", diz. Além de plantar o seu, ele insiste para que os amigos parem de comprar e se dispõe a ensinar o processo a todo mundo, sempre na moita, é claro, porque aos olhos da lei o cultivo da erva é crime tão grave quanto o tráfico. Ele integra um grupo de simpatizantes que espalha mudas de maconha por canteiros, vasinhos e jardins de lugares públicos, como parques e praças. É o jeito que arrumou para protestar.
Grandes maconheiros da humanidade
Charles Baudelaire - Poeta.
Escreveu um ensaio sobre vinho e haxixe.
Honorè de Balzac - Escritor.
Freqüentava um clube de amantes do haxixe em Paris.
W. B. Yeats - Escritor.
Esperava turbinar capacidades telepáticas com a erva.
Robert Mitchum - Ator.
Ficou preso por 60 dias por fumar maconha.
Pancho Villa - Revolucionário mexicano.
Comandou tropas turbinadas pela erva.
Louis Armstrong - Músico.
Preso em 1930 por consumo.
Jack Kerouac - Escritor beatnik.
Fumou o primeiro baseado ouvindo jazz no Harlem, em NY.
Bob Dylan - Músico.
Pregou o uso universal em entrevista a PLAYBOY.
Paul McCartney - Músico.
Foi preso no Japão por dez dias por posse.
Bob Marley
Precisa dizer alguma coisa?
A maconha em fatos
● Por que maconha dá onda?
A substância responsável pela onda que sentem os maconheiros é o THC. Na planta, o THC não passa de um protetor solar natural que impede que as folhas torrem debaixo do sol. No cérebro humano, o impacto é bem maior. O THC afeta as áreas responsáveis pela memória recente, pela percepção da dor e pela coordenação de movimentos. Isso ocorre porque ele se liga a uma substância presente nos neurônios. Mexeu nos neurônios, dá treta. O cara fica com raciocínio lento, percepção diferente, senso de humor aguçado.
● Maconha emburrece?
O uso regular de maconha prejudica a memória, não duvide. O uso pesado atrapalha o raciocínio. Pesquisadores de Harvard testaram e comprovaram. Mas não há estudos científicos indicando que os danos sejam definitivos. Ou seja, até onde se sabe, depois que o sujeito pára de fumar, recupera a capacidade de raciocínio e memória.
● Maconha vicia?
Tanto quando cafeína e menos do que álcool, nicotina ou cocaína. Um em cada 11 pessoas que experimentam um baseado vira usuário crônico. A maioria consegue parar se quiser. Mas 16% desses usuários crônicos têm crises de abstinência, que incluem ansiedade, crises nervosas e insônia.
● Maconha dá câncer?
Sim. A erva tem substâncias tóxicas iguais às do cigarro, como monóxido de carbono e alcatrão. Maconheiros fumam menos que fumantes, mas baseados têm poder destrutivo até seis vezes maior do que cigarros. Quem queima um de dois em dois meses corre poucos riscos. Mas quem queima quatro ou cinco por dia tem maior probabilidade de se dar mal.
● Maconha broxa?
Pesquisas indicam que altas doses de THC diminuem a produção de testosterona no homem. Daí a broxar vai uma distância. Mas é melhor não exagerar.
● Maconha aparece em exame?
Sim. O THC fica no organismo de três a cinco dias e pode ser detectado em exame de sangue.
● Maconha faz mais mal na adolescência?
A adolescência já é uma época suficientemente confusa. Acrescentar uma droga que mexe com memória e perceptividade ao caldeirão de expectativas que cerca a passagem para a vida adulta não ajuda ninguém. Além disso, alguns cientistas dizem que atrasa a puberdade.
● Maconha é porta de entrada para drogas mais pesadas?
Estatisticamente, sim. Não por questões físicas, mas sociais. Um sujeito que começa a fumar e comprar maconha regularmente tem os meios para passar para drogas mais pesadas. Ainda mais se pegar gosto pela coisa.
O mundo está ficando mais liberal
Há boas idéias de como lidar com o consumo de maconha sendo aplicadas nos mais diferentes países. Recentemente, Portugal descriminalizou a droga. Quem for flagrado paga uma multa, perde o baseado, mas sai limpo. A maioria dos estados australianos também não considera fumar maconha um crime. Na Austrália Ocidental é permitido o cultivo de até dois pés da planta dentro de casa, uma forma interessante de inibir o contato com traficantes. Mas a legislação sobre maconha mais elogiada (e criticada) do mundo é a holandesa, onde é possível comprar até 5 gramas da erva em bares conhecidos como koffeshops.
Essa política nasceu em 1976 com um objetivo: interromper a escada que leva um usuário de drogas leves (haxixe e maconha) a consumir drogas pesadas (cocaína, heroína, ecstasy). As autoridades do país imaginam que a juventude passa da erva ao pó pelo contato com traficantes. Para garantir o sucesso da política, os koffeshops são rigorosamente controlados para que outras drogas ilícitas não entrem. Também não podem fazer propaganda, vender baseados prontos ou virar foco de tumulto. Em alguns municípios, não vendem bebida. Quem infringe as regras perde a licença e fecha as portas.
O fato é que não há país no mundo em que seja mais fácil comprar, apertar e acender um baseado. Alguns koffeshops de Amsterdã têm até cardápio, com variedade de ervas para o cliente escolher. A explosão de consumo esperada pelos radicais antidrogas nunca aconteceu. Apenas 16% dos holandeses já experimentaram maconha. Nos EUA, esse índice roça os 33%. Só 2% da população experimentou cocaína. Nos EUA, o índice é de 10%. Na contramão da política holandesa está a China, que tem aquela que talvez seja a lei mais severa do mundo. Usuários pegam um mínimo de sete anos de prisão e traficantes recebem uma bala na nuca. O novo projeto de lei em tramitação no Congresso brasileiro nos leva um pouco mais para perto de Holanda, Portugal e Austrália e mais para longe da China.
Eles perderam o controle
Depoimentos de gente que procurou ajuda médica para se livrar da maconha
● Otávio, 47 anos, agente de viagens:
Percebi que a maconha era a causa dos maiores sofrimentos da minha vida muitos anos depois de acender o primeiro baseado. Estava sempre precisando fumar um: quando acordava, na hora de dormir, antes de comer, no trabalho. Quando não fumava, a comida parecia borracha na boca. Minha rotina era me trancar num escritório na minha casa, fingir que estava trabalhando, enrolar um baseado e fumar. Se eu não fumasse, só conseguia dormir lá pelas 4 da manhã. Era triste. Eu dizia para a minha mulher: "Largo amanhã, não sou viciado". Há oito anos, ela me deixou e fiquei sozinho para cuidar da minha vida. Já tinha perdido a força para trabalhar, a auto-estima estava no chão. Fumava meu primeiro baseado assim que levantava e não conseguia fazer nada porque tinha dificuldade de concentração. Pensava dez vezes para ligar para um cliente, preparar um tour, me perdia nas contas, era terrível... Uma vez, mandei para Belém um cliente que pedira passagem para João Pessoa. Eu havia fumado um no almoço. Estou em tratamento há três meses. Sem essa porcaria eu resgatei a minha família, já levei três grupos de pessoas para Ubatuba e tô montando uma nova empresa de viagem. Hoje, me sinto livre e forte para cuidar da minha filha. É o mais importante.
● Augusto, 40 anos, corretor de imóveis:
Eu sou de uma cidade pacata, sem vida noturna, rodeada de fazendas. Comecei com um grupo de amigos. A gente ia para uma fazenda com as meninas, fumava uns baseados, batia um papo, nada grave. Primeiro você dá uns pegas, depois fuma um, outro, depois fuma três por semana, um todos os dias e quando percebe tá acendendo um de manhãzinha, antes do almoço, depois do almoço, à tardezinha, de noite. Assim foi desde os 18 anos. Depois me casei com uma mulher que nunca curtiu essas coisas. Tive que mudar o esquema. Fumava de manhã e de vez em quando dava uns tapinhas à tarde também, sempre escondido. Um dia ela pegou a minha bolsa, encontrou o bagulho e saiu de casa, me largou. Eu cheguei à conclusão de que estava na hora de fazer alguma coisa. Já havia tentado parar sozinho, mas o prazer e o contato com a maconha eram tão grandes que ficava difícil. Se eu não tivesse esse problema com a minha mulher, não pararia mesmo. Mas reconheço que depois do tratamento passei a sentir mais prazer nas coisas que faço. Um dia desses sonhei que estava fumando, acordei no pico do negócio de estar dando um pega daqueles que você enche o pulmão e... pumba! Acordei assustado. Dureza.
● Orlando, 23 anos, estudante de fisioterapia:
Sou filho único e moro com a minha mãe. Acendi o primeiro baseado aos 16 anos e logo passei para três ou quatro por dia, geralmente no fim da tarde e de noite. Eu não estava nem aí pra nada, o relacionamento em casa estava ruim e até cheguei a repetir um ano da faculdade por causa da maconha. Eu fumava e achava que pararia quando quisesse. É muita ironia fumar todos os dias e achar que não é viciado. Foi minha mãe quem procurou ajuda. Quando ela me disse que eu tinha que me tratar, eu relutei. Não queria, achava que a vida era fumar maconha. O primeiro dia foi um saco, um monte de perguntas, uma sala com um monte de gente, sessão em grupo e eu odeio falar da minha vida na frente dos outros. Depois escolhi fazer a terapia individual. Estou me tratando há quatro meses. Nesse tempo, só tive uma recaída, mas tô tranqüilo, nem tenho mais vontade. Hoje posso ficar perto de gente fumando e me segurar numa boa. Outra coisa boa é que a minha namorada não fuma, é totalmente contra. Ela me ajudou muito. Me sinto muito melhor, agora tenho planos para o futuro. Quero terminar a faculdade, fazer pós-graduação na minha área e batalhar a vida sem maconha. Quem sabe trabalhar com esportes? Sou palmeirense. Ser fisioterapeuta do Verdão seria tudo.
Da China a Bob Marley - a maconha através dos tempos
10000 a.C.
Nos pés do Himalaia, o homem aprende a plantar cânhamo para usá-lo na confecção de cordas e tecidos. É a primeira planta cultivada pela humanidade para esse fim.
2300 a.C.
Shen Nung, imperador da China e médico, recomenda maconha a pacientes com toda a sorte de doenças. Nung considerava a erva um "elixir da imortalidade".
570 a.C.
Durante seis anos de meditação, Buda come apenas sementes de cânhamo, segundo a tradição Mahayana do budismo.
600 a.C.
Na China, os taoístas implicam com a erva. Acham que é uma força negativa, que enfraquece o corpo e debilita os sentidos. Mais tarde, passariam a usá-la em incensos.
Ano 0
Cientistas americanos afirmam que Jesus Cristo pode ter usado um óleo de maconha para curar doenças. Diferentemente do que juram doidões mais empolgados, não há referência à maconha na Bíblia.
1300
A maconha entra no imaginário popular europeu pelos relatos de Marco Polo sobre suas viagens ao mundo árabe, recheadas de usuários de haxixe.
1450
Gutenberg imprime a Bíblia (e mais um monte de outros livros) em folhas de cânhamo.
1492
Colombo descobre a América com barcos movidos a velas de cânhamo. A erva era tão importante para a marinha que fazendeiros que não cultivassem a erva eram multados.
1600
A planta chega ao Brasil trazida por escravos.
1753
O cânhamo ganha o nome científico Cannabis sativa L.
1798
Napoleão invade o Egito e, assustado com o sucesso da droga entre as tropas, promulga a primeira lei do mundo moderno proibindo o cânhamo. Não adianta nada. A soldadesca leva o hábito para a França.
1823
A The Lancet traz artigo afirmando que a Cannabis "é um dos mais valiosos remédios". Na Inglaterra, a erva é usada contra epilepsia, tétano, asma e gonorréia.
1830
A Câmara Municipal do Rio promulga a primeira lei brasileira proibindo o consumo e venda de maconha. Pena para quem acendesse unzinho: três dias de cadeia.
1845
Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e outros artistas de Paris reúnem-se uma vez por mês no Club de Hashishins para fumar haxixe e trocar idéias. Tempos depois, Baudelaire condenaria a erva: "Vinho deixa os homens felizes e sociáveis. Haxixe deixa os homens isolados".
1944
A Academia de Medicina de Nova York publica relatório afirmando não haver evidências de que o uso recreacional da maconha torne os usuários violentos.
1951
A ONU publica boletim afirmando que 200 milhões de pessoas já haviam experimentado maconha.
1966
Em entrevista à PLAYBOY, Bob Dylan diz: "Essas coisas não são drogas. Elas apenas entortam um pouco a cabeça. Acho que todo mundo deveria entortar sua cabeça de vez em quando".
1976
A Holanda inicia a política de tolerância.
1978
Bob Marley compõe Easy Skanking.
1980
Paul McCartney passa dez dias preso no Japão por posse de maconha.
1988
Amsterdã recebe a primeira Cannabis Cup. A competição para designar a melhor maconha do mundo é realizada anualmente desde então.
1992
Em campanha para a presidência dos EUA, Bill Clinton diz que fumou, mas não tragou.
2004
Câmara dos Deputados brasileira aprova projeto de lei que acaba com a detenção para consumidores de drogas.
Fonte: http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=9331
Dos pés do Himalaia ao dia-a-dia de 147 milhões de usuários no planeta, ela se tornou a droga proibida mais popular da história. O que você precisa saber sobre a erva para enxergar além da fumaça.
Fernando Costa Netto e Ricardo Villela
Pelo menos 30 milhões de brasileiros já experimentaram a sensação. O relógio anda devagar, as preocupações desaparecem, o corpo relaxa, o trivial fica engraçado. O pensamento salta de idéia em idéia, uma mais genial do que a outra. Depois dá fome. Tudo fica gostoso: molho de tomate pronto, pizza de ontem, sorvete derretido. Após algumas horas, o barato vai embora como chegou: devagarinho. No mundo inteiro, 147 milhões de pessoas experimentam essas sensações regularmente. É o número de usuários freqüentes de maconha estimado pela Organização das Nações Unidas. No Brasil, são 5 milhões. Nos últimos dez anos, a quantidade de estudantes brasileiros que experimentaram a droga multiplicou por quatro. O que as estatísticas mostram, você percebe em conversas de mesa de bar, nas praias, nos shows ao ar livre. A maconha é a terceira droga mais consumida no mundo, atrás do álcool e do tabaco. Das três, é a única ilícita, ao menos na maioria dos países. Dependendo do lugar em que você acende um baseado, pode ganhar um pito do guarda, parar numa clínica de recuperação ou passar sete anos na cadeia.
Em 1977, o então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter disse uma obviedade freqüentemente ignorada num discurso ao Congresso americano: "A punição contra a posse de drogas não pode fazer mais mal a um indivíduo do que a própria droga faz". A frase encontrou eco no Congresso brasileiro a alguns dias do último Carnaval. Em mais um passo no lento processo de modernização da legislação antidrogas do Brasil, o plenário aprovou um projeto de lei que acaba com a prisão para consumidores de drogas. "É um avanço. Vai impedir muita família de classe média de pagar suborno para limpar a barra dos filhos", disse o deputado Fernando Gabeira, velho defensor de políticas mais liberais de repressão a drogas. Até que a lei tramite pelo Senado e ganhe sanção presidencial, o que deve levar pelo menos dois meses, ainda vale a regra antiga, que prevê detenção de seis meses a dois anos para quem for flagrado com um baseado na sacola. O passo dado em fevereiro está longe de colocar o Brasil no rumo da legalização da maconha. Os réus ainda poderão ser condenados a prestar serviços à comunidade e comparecer a um curso educativo.
PLAYBOY decidiu enfiar sua colher nessa discussão com um pacotaço especial. Ao navegar pelos links à direita [no site da revista Playboy], você vai ler uma linha do tempo sobre a erva, uma lista de maconheiros famosos, a solução que um grupo de usuários paulistas encontrou para não depender de traficantes e as diferenças da legislação sobre a droga em vários países. Há também uma página com fatos indiscutíveis sobre o uso da droga. As ilustrações à esquerda [aqui, no final da página] são sete anúncios criados por agências de publicidade a nosso convite [aqui, são quatro]. Pedimos aos publicitários que imaginassem como seria a propaganda caso a erva fosse liberada. São obras de ficção, naturalmente. Nem em países com legislação avançada, como Austrália e Holanda, a propaganda da maconha é permitida. A idéia original é da revista de bolso Venice, distribuída em bares, academias e lojas de surfe das principais capitais brasileiras. Seu editor, Fernando Costa Netto, nos ajudou na produção desta reportagem.
A parte mais surpreendente deste trabalho talvez sejam os depoimentos colhidos por Fernando numa clínica para dependentes da droga (também nos links à direita [no site da revista Playboy]). Eles foram obtidos no Ambulatório de Maconha da Unidade de Tratamento para Dependentes de Álcool e Drogas (UNIAD). É um serviço gratuito do departamento de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina. O UNIAD já atendeu mais de 350 viciados que perderam o controle sobre o uso da maconha e passaram a enfrentar uma rotina de pesadelos na tentativa de parar. O projeto do Ambulatório de Maconha é desenvolvido por uma equipe de cinco terapeutas coordenada pela psicóloga Flávia Jungerman, uma das responsáveis pela implantação desse programa pioneiro. Flávia afirma que a maconha provoca profundas crises de abstinência. As crises são causadas pelo princípio ativo da maconha, o THC, que serpenteia o cérebro como um polvo. Os sintomas de quem tenta parar depois de viciado são ansiedade, nervosismo, dificuldade para dormir, falta de apetite e irritabilidade. PLAYBOY conversou com três dependentes. Eles buscaram tratamento para se livrar dos riscos, do desconforto familiar ou da confusão mental que a maconha trouxe às suas vidas.
A erva mata (os outros)
O pior efeito colateral provocado pela maconha acontece a léguas de distância do sujeito com o baseado na boca. O acender de um cigarro bota em movimento uma engrenagem de violência que só no Rio de Janeiro mata mais menores do que em regiões em estado de guerra, como a Palestina. A maconha fumada pelos brasileiros vem de dois lugares: o agreste nordestino e o Paraguai. O transporte para as cidades é feito em caminhões. Ao chegar ao destino, ela é dividida em blocos de 10 quilos para traficantes médios, que repartem em sacos de 1 quilo e distribuem aos pequenos vendedores de drogas. É nessa etapa que ocorre a violência maior, com o envolvimento de crianças na guerrilha do tráfico e o derramamento de sangue que vai parar nas primeiras páginas dos jornais. A maconha pode ser freqüentemente associada à alienação, mas é crescente o número de usuários mudando de hábito para não fomentar a violência urbana. O químico paulista Eduardo (nome falso), 32 anos, fuma desde os 16, sempre comprando na rua. Há cinco anos, decidiu que cultivaria a própria erva. Desde então, nunca mais comprou um baseado.
"Assim, posso fumar sem culpa", diz. Além de plantar o seu, ele insiste para que os amigos parem de comprar e se dispõe a ensinar o processo a todo mundo, sempre na moita, é claro, porque aos olhos da lei o cultivo da erva é crime tão grave quanto o tráfico. Ele integra um grupo de simpatizantes que espalha mudas de maconha por canteiros, vasinhos e jardins de lugares públicos, como parques e praças. É o jeito que arrumou para protestar.
Grandes maconheiros da humanidade
Charles Baudelaire - Poeta.
Escreveu um ensaio sobre vinho e haxixe.
Honorè de Balzac - Escritor.
Freqüentava um clube de amantes do haxixe em Paris.
W. B. Yeats - Escritor.
Esperava turbinar capacidades telepáticas com a erva.
Robert Mitchum - Ator.
Ficou preso por 60 dias por fumar maconha.
Pancho Villa - Revolucionário mexicano.
Comandou tropas turbinadas pela erva.
Louis Armstrong - Músico.
Preso em 1930 por consumo.
Jack Kerouac - Escritor beatnik.
Fumou o primeiro baseado ouvindo jazz no Harlem, em NY.
Bob Dylan - Músico.
Pregou o uso universal em entrevista a PLAYBOY.
Paul McCartney - Músico.
Foi preso no Japão por dez dias por posse.
Bob Marley
Precisa dizer alguma coisa?
A maconha em fatos
● Por que maconha dá onda?
A substância responsável pela onda que sentem os maconheiros é o THC. Na planta, o THC não passa de um protetor solar natural que impede que as folhas torrem debaixo do sol. No cérebro humano, o impacto é bem maior. O THC afeta as áreas responsáveis pela memória recente, pela percepção da dor e pela coordenação de movimentos. Isso ocorre porque ele se liga a uma substância presente nos neurônios. Mexeu nos neurônios, dá treta. O cara fica com raciocínio lento, percepção diferente, senso de humor aguçado.
● Maconha emburrece?
O uso regular de maconha prejudica a memória, não duvide. O uso pesado atrapalha o raciocínio. Pesquisadores de Harvard testaram e comprovaram. Mas não há estudos científicos indicando que os danos sejam definitivos. Ou seja, até onde se sabe, depois que o sujeito pára de fumar, recupera a capacidade de raciocínio e memória.
● Maconha vicia?
Tanto quando cafeína e menos do que álcool, nicotina ou cocaína. Um em cada 11 pessoas que experimentam um baseado vira usuário crônico. A maioria consegue parar se quiser. Mas 16% desses usuários crônicos têm crises de abstinência, que incluem ansiedade, crises nervosas e insônia.
● Maconha dá câncer?
Sim. A erva tem substâncias tóxicas iguais às do cigarro, como monóxido de carbono e alcatrão. Maconheiros fumam menos que fumantes, mas baseados têm poder destrutivo até seis vezes maior do que cigarros. Quem queima um de dois em dois meses corre poucos riscos. Mas quem queima quatro ou cinco por dia tem maior probabilidade de se dar mal.
● Maconha broxa?
Pesquisas indicam que altas doses de THC diminuem a produção de testosterona no homem. Daí a broxar vai uma distância. Mas é melhor não exagerar.
● Maconha aparece em exame?
Sim. O THC fica no organismo de três a cinco dias e pode ser detectado em exame de sangue.
● Maconha faz mais mal na adolescência?
A adolescência já é uma época suficientemente confusa. Acrescentar uma droga que mexe com memória e perceptividade ao caldeirão de expectativas que cerca a passagem para a vida adulta não ajuda ninguém. Além disso, alguns cientistas dizem que atrasa a puberdade.
● Maconha é porta de entrada para drogas mais pesadas?
Estatisticamente, sim. Não por questões físicas, mas sociais. Um sujeito que começa a fumar e comprar maconha regularmente tem os meios para passar para drogas mais pesadas. Ainda mais se pegar gosto pela coisa.
O mundo está ficando mais liberal
Há boas idéias de como lidar com o consumo de maconha sendo aplicadas nos mais diferentes países. Recentemente, Portugal descriminalizou a droga. Quem for flagrado paga uma multa, perde o baseado, mas sai limpo. A maioria dos estados australianos também não considera fumar maconha um crime. Na Austrália Ocidental é permitido o cultivo de até dois pés da planta dentro de casa, uma forma interessante de inibir o contato com traficantes. Mas a legislação sobre maconha mais elogiada (e criticada) do mundo é a holandesa, onde é possível comprar até 5 gramas da erva em bares conhecidos como koffeshops.
Essa política nasceu em 1976 com um objetivo: interromper a escada que leva um usuário de drogas leves (haxixe e maconha) a consumir drogas pesadas (cocaína, heroína, ecstasy). As autoridades do país imaginam que a juventude passa da erva ao pó pelo contato com traficantes. Para garantir o sucesso da política, os koffeshops são rigorosamente controlados para que outras drogas ilícitas não entrem. Também não podem fazer propaganda, vender baseados prontos ou virar foco de tumulto. Em alguns municípios, não vendem bebida. Quem infringe as regras perde a licença e fecha as portas.
O fato é que não há país no mundo em que seja mais fácil comprar, apertar e acender um baseado. Alguns koffeshops de Amsterdã têm até cardápio, com variedade de ervas para o cliente escolher. A explosão de consumo esperada pelos radicais antidrogas nunca aconteceu. Apenas 16% dos holandeses já experimentaram maconha. Nos EUA, esse índice roça os 33%. Só 2% da população experimentou cocaína. Nos EUA, o índice é de 10%. Na contramão da política holandesa está a China, que tem aquela que talvez seja a lei mais severa do mundo. Usuários pegam um mínimo de sete anos de prisão e traficantes recebem uma bala na nuca. O novo projeto de lei em tramitação no Congresso brasileiro nos leva um pouco mais para perto de Holanda, Portugal e Austrália e mais para longe da China.
Eles perderam o controle
Depoimentos de gente que procurou ajuda médica para se livrar da maconha
● Otávio, 47 anos, agente de viagens:
Percebi que a maconha era a causa dos maiores sofrimentos da minha vida muitos anos depois de acender o primeiro baseado. Estava sempre precisando fumar um: quando acordava, na hora de dormir, antes de comer, no trabalho. Quando não fumava, a comida parecia borracha na boca. Minha rotina era me trancar num escritório na minha casa, fingir que estava trabalhando, enrolar um baseado e fumar. Se eu não fumasse, só conseguia dormir lá pelas 4 da manhã. Era triste. Eu dizia para a minha mulher: "Largo amanhã, não sou viciado". Há oito anos, ela me deixou e fiquei sozinho para cuidar da minha vida. Já tinha perdido a força para trabalhar, a auto-estima estava no chão. Fumava meu primeiro baseado assim que levantava e não conseguia fazer nada porque tinha dificuldade de concentração. Pensava dez vezes para ligar para um cliente, preparar um tour, me perdia nas contas, era terrível... Uma vez, mandei para Belém um cliente que pedira passagem para João Pessoa. Eu havia fumado um no almoço. Estou em tratamento há três meses. Sem essa porcaria eu resgatei a minha família, já levei três grupos de pessoas para Ubatuba e tô montando uma nova empresa de viagem. Hoje, me sinto livre e forte para cuidar da minha filha. É o mais importante.
● Augusto, 40 anos, corretor de imóveis:
Eu sou de uma cidade pacata, sem vida noturna, rodeada de fazendas. Comecei com um grupo de amigos. A gente ia para uma fazenda com as meninas, fumava uns baseados, batia um papo, nada grave. Primeiro você dá uns pegas, depois fuma um, outro, depois fuma três por semana, um todos os dias e quando percebe tá acendendo um de manhãzinha, antes do almoço, depois do almoço, à tardezinha, de noite. Assim foi desde os 18 anos. Depois me casei com uma mulher que nunca curtiu essas coisas. Tive que mudar o esquema. Fumava de manhã e de vez em quando dava uns tapinhas à tarde também, sempre escondido. Um dia ela pegou a minha bolsa, encontrou o bagulho e saiu de casa, me largou. Eu cheguei à conclusão de que estava na hora de fazer alguma coisa. Já havia tentado parar sozinho, mas o prazer e o contato com a maconha eram tão grandes que ficava difícil. Se eu não tivesse esse problema com a minha mulher, não pararia mesmo. Mas reconheço que depois do tratamento passei a sentir mais prazer nas coisas que faço. Um dia desses sonhei que estava fumando, acordei no pico do negócio de estar dando um pega daqueles que você enche o pulmão e... pumba! Acordei assustado. Dureza.
● Orlando, 23 anos, estudante de fisioterapia:
Sou filho único e moro com a minha mãe. Acendi o primeiro baseado aos 16 anos e logo passei para três ou quatro por dia, geralmente no fim da tarde e de noite. Eu não estava nem aí pra nada, o relacionamento em casa estava ruim e até cheguei a repetir um ano da faculdade por causa da maconha. Eu fumava e achava que pararia quando quisesse. É muita ironia fumar todos os dias e achar que não é viciado. Foi minha mãe quem procurou ajuda. Quando ela me disse que eu tinha que me tratar, eu relutei. Não queria, achava que a vida era fumar maconha. O primeiro dia foi um saco, um monte de perguntas, uma sala com um monte de gente, sessão em grupo e eu odeio falar da minha vida na frente dos outros. Depois escolhi fazer a terapia individual. Estou me tratando há quatro meses. Nesse tempo, só tive uma recaída, mas tô tranqüilo, nem tenho mais vontade. Hoje posso ficar perto de gente fumando e me segurar numa boa. Outra coisa boa é que a minha namorada não fuma, é totalmente contra. Ela me ajudou muito. Me sinto muito melhor, agora tenho planos para o futuro. Quero terminar a faculdade, fazer pós-graduação na minha área e batalhar a vida sem maconha. Quem sabe trabalhar com esportes? Sou palmeirense. Ser fisioterapeuta do Verdão seria tudo.
Da China a Bob Marley - a maconha através dos tempos
10000 a.C.
Nos pés do Himalaia, o homem aprende a plantar cânhamo para usá-lo na confecção de cordas e tecidos. É a primeira planta cultivada pela humanidade para esse fim.
2300 a.C.
Shen Nung, imperador da China e médico, recomenda maconha a pacientes com toda a sorte de doenças. Nung considerava a erva um "elixir da imortalidade".
570 a.C.
Durante seis anos de meditação, Buda come apenas sementes de cânhamo, segundo a tradição Mahayana do budismo.
600 a.C.
Na China, os taoístas implicam com a erva. Acham que é uma força negativa, que enfraquece o corpo e debilita os sentidos. Mais tarde, passariam a usá-la em incensos.
Ano 0
Cientistas americanos afirmam que Jesus Cristo pode ter usado um óleo de maconha para curar doenças. Diferentemente do que juram doidões mais empolgados, não há referência à maconha na Bíblia.
1300
A maconha entra no imaginário popular europeu pelos relatos de Marco Polo sobre suas viagens ao mundo árabe, recheadas de usuários de haxixe.
1450
Gutenberg imprime a Bíblia (e mais um monte de outros livros) em folhas de cânhamo.
1492
Colombo descobre a América com barcos movidos a velas de cânhamo. A erva era tão importante para a marinha que fazendeiros que não cultivassem a erva eram multados.
1600
A planta chega ao Brasil trazida por escravos.
1753
O cânhamo ganha o nome científico Cannabis sativa L.
1798
Napoleão invade o Egito e, assustado com o sucesso da droga entre as tropas, promulga a primeira lei do mundo moderno proibindo o cânhamo. Não adianta nada. A soldadesca leva o hábito para a França.
1823
A The Lancet traz artigo afirmando que a Cannabis "é um dos mais valiosos remédios". Na Inglaterra, a erva é usada contra epilepsia, tétano, asma e gonorréia.
1830
A Câmara Municipal do Rio promulga a primeira lei brasileira proibindo o consumo e venda de maconha. Pena para quem acendesse unzinho: três dias de cadeia.
1845
Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e outros artistas de Paris reúnem-se uma vez por mês no Club de Hashishins para fumar haxixe e trocar idéias. Tempos depois, Baudelaire condenaria a erva: "Vinho deixa os homens felizes e sociáveis. Haxixe deixa os homens isolados".
1944
A Academia de Medicina de Nova York publica relatório afirmando não haver evidências de que o uso recreacional da maconha torne os usuários violentos.
1951
A ONU publica boletim afirmando que 200 milhões de pessoas já haviam experimentado maconha.
1966
Em entrevista à PLAYBOY, Bob Dylan diz: "Essas coisas não são drogas. Elas apenas entortam um pouco a cabeça. Acho que todo mundo deveria entortar sua cabeça de vez em quando".
1976
A Holanda inicia a política de tolerância.
1978
Bob Marley compõe Easy Skanking.
1980
Paul McCartney passa dez dias preso no Japão por posse de maconha.
1988
Amsterdã recebe a primeira Cannabis Cup. A competição para designar a melhor maconha do mundo é realizada anualmente desde então.
1992
Em campanha para a presidência dos EUA, Bill Clinton diz que fumou, mas não tragou.
2004
Câmara dos Deputados brasileira aprova projeto de lei que acaba com a detenção para consumidores de drogas.
Fonte: http://www.growroom.net/board/showtopic.php?threadid=9331
Assinar:
Postagens (Atom)