terça-feira, 7 de janeiro de 2003

Milagres de Cristo podem ter sido feitos com maconha

7 de janeiro de 2003, BBC Brasil

Cientistas estadunidenses divulgaram um estudo em que dizem que Jesus Cristo e seus apóstolos podem ter usado um óleo curativo à base de maconha para curar pessoas com doenças incapacitantes.

Segundo os cientistas, um bálsamo usado nos primeiros anos da era cristã continha um extrato de maconha chamado de kaneh-bosem.

O extrato, que é absorvido pelo corpo quando colocado em contato com a pele, poderia ter ajudado a curar pessoas que sofriam de várias doenças físicas e mentais.

O autor do estudo, publicado na revista estadunidense especializada em drogas High Times, disse que suas descobertas são baseadas no estudo das sagradas escrituras.

Óleo com maconha

O cientista, Chris Bennett, disse que o uso de maconha era bastante difundido na época para ajudar a curar os enfermos.

Ele disse que pelo menos um ungüento usado naquela época tinha uma alta concentração de extrato de maconha.

"O óleo sagrado da consagração, conforme descrito nas escrituras em hebreu do livro do Êxodo, continha até 2 kg de keneh-bosum - uma substância identificada por respeitados lingüistas, antropólogos, botânicos e outros estudiosos como maconha, com a adição de óleo de oliva e outras ervas", disse.

"Os consagrados daqueles tempos eram praticamente mergulhados nessa poderosa mistura."

Bennett acredita que o bálsamo pode ter sido usado em alguns dos milagres curativos praticados por Jesus e seus discípulos.

Exorcismo

"Na Antigüidade, males como a epilepsia eram atribuídos à possessão por demônios", explicou. "Curar alguém com o problema, mesmo com o uso de simples ervas, era considerado exorcismo ou cura milagrosa."

"Curiosamente, a maconha tem se mostrado útil no tratamento não apenas da epilepsia, mas de outros males curados por Jesus, como moléstias de pele, nos olhos ou problemas menstruais."

O artigo não coloca em dúvida a validade dos milagres descritos na Bíblia. Em vez disso, trata de analisar se a Igreja Católica, em seus primeiros anos, pode ter feito uso de alguma substância para curar.

Nada no estudo, por exemplo, descarta o papel que a fé pode ter tido na execução dos milagres.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idArea=1&idSubArea=159

domingo, 3 de novembro de 2002

Americanos aprovam o uso medicinal da droga

3 de novembro de 2002, Folha de S. Paulo

S. D.

NOVA YORK - O governador de Nova York, George Pataki, e seus homens de marketing devem ter suado frio ao olhar os resultados da mais recente pesquisa de opinião feita com a população estadunidense sobre a legalização da maconha, medicinal ou não: 34% dos ouvidos são a favor (contra apenas 18% em 1986).

O resultado é de estudo encomendado pela emissora de TV CNN e pelo jornal "The New York Times" e divulgado no meio da semana passada.

Os números são eloqüentes: 72% dos ouvidos acreditam que pessoas detidas com maconha não deveriam cumprir nenhum tipo de pena.

Quase 60% dos entrevistados acham que a posse de maconha deve continuar sendo considerada um crime federal, mas, dos que acreditam que algum tipo de pena deveria ser cumprida pelos detidos, apenas 19% defendem o regime de prisão.

Quando a pergunta é específica sobre maconha para fins medicinais, os sinais de uma guinada liberal são ainda mais evidentes. Dos ouvidos, uma maioria de 80% defende sua legalização. O estudo foi feito em todos os 50 Estados norte-americanos.

Aí também há diferenças evidentes. Dos entrevistados que residem num dos 19 Estados que liberaram o uso medicinal ou reduziram as penas para porte da droga, 47% dizem ter fumado maconha pelo menos uma vez na vida.

Plebiscitos

Dos Estados que elegem governadores, senadores federais e senadores estaduais nesta terça-feira, pelo menos quatro colocaram nas cédulas plebiscitos relacionados à liberalização da maconha. São eles Arizona, Dakota do Sul, Nevada e Ohio, além do Distrito de Columbia, que abriga a capital federal, Washington.

Destes, o que os defensores da causa acreditam que tenha mais chance de vitória é mesmo Nevada, mais conhecido por ser o Estado que abriga Las Vegas, cidade dos cassinos.

"Mesmo se a aprovação passar em plebiscito, nós vamos derrubá-la no plenário", ameaça Sandy Heverly, da ONG Nevadianos contra a Maconha.

"Aprovada ou não, o importante é que a questão colocada em plebiscito vai levar os políticos dos Estados a pelo menos discutirem o que querem afinal seus eleitores", disse o lobista Grover Norquist, de Las Vegas.

Na Califórnia, a Corte Federal de Apelações determinou, na quinta-feira passada, que os médicos que receitarem maconha não podem ser presos.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idSubArea=150&idArea=1&idArtigo=345

segunda-feira, 21 de outubro de 2002

“Legalize-se a droga”

21 de outubro de 2002, revista ÉPOCA

Marta Mendonça

O advogado Evandro Lins e Silva, de 90 anos, 70 deles militando nos tribunais, nunca teve medo de nadar contra a maré. Na década de 40, durante o Estado Novo, defendeu mais de 1000 presos políticos. No período da ditadura militar, como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu habeas corpus que desagradaram aos militares. Em 1979, foi alvo de críticas feministas ao defender Doca Street, namorado e assassino de Ângela Diniz. Agora, diante da violência e do crime organizado que crescem no país, volta a ser polêmico ao defender a descriminalização das drogas. “O tráfico acabaria em pouco tempo, e a violência que ele gera também”, diz, espantado com os atos de terrorismo que estão acontecendo, em especial no Rio de Janeiro.

Lins e Silva continua com vida muito ativa. Há três meses, vem tendo aulas de computador. “Meus bisnetos controlam essa máquina, não posso ficar atrás. Viver é aprender”, ensina. Tem dado especial atenção à faculdade de Direito que leva seu nome, inaugurada no início do ano. “A idéia é que os alunos não saiam só bacharéis, mas formados em cidadania.” No dia-a-dia, divide seu tempo entre o escritório no Centro do Rio e o apartamento em Copacabana, onde mora só desde a morte da esposa, Maria Luísa, em 1984. Sempre cercado de livros, concedeu entrevista a ÉPOCA.

ÉPOCA - A cidade do Rio de Janeiro viveu na semana passada mais uma noite de terror. Por que esses atos de violência dos traficantes estão se repetindo?

Evandro Lins e Silva - De fato, casos assim eram mais isolados. Meu pressentimento é de que o governo do Estado deve estar agindo com maior firmeza e o tráfico responde com demonstrações de força.

ÉPOCA - O que pode ser feito sobre as armas?

Lins e Silva - Deveriam ser proibidas a fabricação indiscriminada de armas e sua venda. Anulam-se todos os portes e parte-se do zero para voltar a liberar. Fabricação só a partir de pedido oficial, polícia, autoridades. E zero de entrada no país. O governo tem de cuidar disso. É sua função constitucional. O grande obstáculo é o enorme lobby da indústria de armas.

ÉPOCA - O senhor acredita no poder paralelo do crime organizado?

Lins e Silva - Existe um determinado poder que foge ao controle das autoridades e é localizado nas favelas: a disputa pelo comércio da droga. Com a falta de emprego e oportunidades na vida, as pessoas acabam aderindo a esse estilo de vida, se tornando parte disso, seja ativamente, seja por omissão. O traficante, por ganhar muito dinheiro, ganha o poder de corromper e cria uma teia de força muito grande.

“A droga só gera violência por ser crime. A Chicago dos gângsteres, por exemplo. Lá, o crime se organizou a partir da lei que proibia a venda de bebidas alcoólicas. Quando liberou, acabou.”

ÉPOCA - Como combater o tráfico?

Lins e Silva - Combater à força é bobagem. O tráfico se tornou a oportunidade de emprego de muitas pessoas. É decorrente dos problemas socioeconômicos do país. Eu defendo a descriminalização das drogas.

ÉPOCA - E o que diria a nova lei?

Lins e Silva - Seriam permitidas a fabricação pelos laboratórios e a venda nas farmácias. Então se passaria a tomar conta das violações nessa venda, sendo necessário receita médica ou algum tipo de regra. Limites seriam criados. Se for feita uma venda irregular, que se puna a infração. Mas não seria mais crime. Dessa forma, a venda da droga sai da esfera marginal.

ÉPOCA - Sempre que o tema da descriminalização vem à tona, fala-se muito que o crime organizado se voltaria para outras ações, como assaltos, roubo de carros, e a violência continuaria...

Lins e Silva - Pode ser. Mas é preciso haver uma ação racional para cada área. O mais importante é focar no que realmente interessa, que é educar e dar oportunidade de emprego às pessoas. Isso, sim, reduziria todo tipo de crime. A solução, em longo prazo, é de natureza social. Mas, por ora, descriminalizar é um passo importante.

ÉPOCA - O senhor conhece muitas pessoas que concordem com isso?

Lins e Silva - Poucas. É uma solução polêmica e as pessoas gostam de discutir a questão moral que isso envolveria. Mas é um caminho muito simples e lógico. O mundo inteiro deveria seguir a mesma linha. A droga não é um problema brasileiro, é mundial. Claro que ao lado disso seria necessária uma campanha maciça no país condenando os efeitos da droga, em especial nas escolas. Mas há outras medidas importantes, como coibir o contrabando de armas.

“Os trabalhadores sem-terra são os continuadores dos abolicionistas. Quando a abolição se fez, Joaquim Nabuco questionou: ‘É preciso a reforma agrária para dar terra aos escravos libertos. Para onde vão?’”

ÉPOCA - Sempre que a violência cresce, há uma pressão da sociedade por penas maiores. Por outro lado, as cadeias estão superlotadas. Como resolver isso?

Lins e Silva - Cadeia não é solução. Nunca foi, nunca será. Presídios imensos são construídos com custo fabuloso, em vez de escolas. Manter a população carcerária é muito caro para o Estado. Tenho 70 anos de advocacia. Nunca vi alguém sair da cadeia melhor do que quando entrou. Cadeia é a coisa mais infame que já se inventou. E ainda cria uma situação de marginalização permanente. Ninguém mais dá emprego àquela pessoa quando sai, ela acaba parando no crime de novo.

ÉPOCA - Quem deve ir para a cadeia e por quanto tempo?

Lins e Silva - Sou absolutamente contra a prisão como método penal. Deve-se segregar quem for realmente perigoso, quem põe em risco a vida alheia. Hoje a concepção é tão diferente que me assombra. Não se julga um crime, se julga uma pessoa. Há que ver o motivo que levou a pessoa a cometer o crime. Se alguém mata o pai é um crime bárbaro. Mas por que foi isso? Se foi para receber a herança é uma coisa, se foi para defender a mãe das agressões do pai é outra. Há que se olhar as motivações de cada um. Veja os crimes passionais. Nunca vi passional reincidente. O ideal é que se reprima evitando a prisão de toda maneira. As penas alternativas são a saída.

ÉPOCA - O código penal está ultrapassado?

Lins e Silva - Sim, em muitos pontos. Um exemplo: o crime contra a propriedade é punido com pena mais grave que o crime contra a vida.

“Os Estados Unidos falam em atacar o Iraque sem apoio internacional. Se a maior potência mundial não liga para a coletividade, isso é reflexo do pensamento individual que ganhou o mundo.”

ÉPOCA - Deve ser porque a propriedade está sendo mais valorizada que a vida.

Lins e Silva - É sintomático. Hoje o deus é o mercado, é o dinheiro. O sistema capitalista não permite o fim da desigualdade social. Em meus 90 anos de vida, nunca vi uma perspectiva tão sombria para o mundo como agora. E olhe que testemunhei períodos de guerra e revolução. Como conceber que homens como Bill Gates tenham mais de US$ 60 bilhões? O que ele vai fazer disso? Ele vai morrer, como toda criatura, sem conseguir gastar a maior parte. Enquanto isso, milhões de pessoas passam fome no mundo. É uma distorção, me surpreende que as pessoas não se choquem com isso.

ÉPOCA - Qual foi seu melhor momento profissional?

Lins e Silva - Sempre brinco que será o próximo! Mas tenho grande orgulho de ter defendido mais de 1000 perseguidos políticos durante o Estado Novo, que criou um órgão de triste memória, o Tribunal de Segurança Nacional. Foi um período de grande terror, eu sei o que enfrentei. Eu me afirmei aí como advogado.

ÉPOCA - E o pior momento?

Lins e Silva - Não foi uma derrota, mas as vezes em que atuei na acusação. Uma situação, em especial, me atormenta até hoje: um médico teria matado um rapaz que fazia barulho na rua. Acusei, o júri popular condenou e ele se matou na prisão. Eu estava convencido de que ele era culpado, mas e se não fosse? E me arrependo de ter acusado. E se a decisão tivesse sido mais resultado de minha eloqüência que dos indícios concretos? Penso nisso até hoje, 40 anos depois. Se um pecado cometi na profissão, foram as poucas vezes em que acusei. Das defesas não me arrependo de nenhuma.

ÉPOCA - O senhor acredita em justiça divina?

Lins e Silva - Boa parte de minha vida supus ser ateu, mas recentemente descobri que não sou. Percebo que existe algo de indefinível que se traduz na perfeição das coisas. O funcionamento do corpo humano. O fato de roçar um botão na TV e entrar uma imagem. Acho que essa perfeição das coisas se chama Deus.

“Defendi mais de 1000 presos políticos no Estado Novo. Não acredito que haja na história do mundo, seja na Grécia, seja em Roma, seja na Revolução Francesa, alguém que tenha feito trabalho parecido.”

ÉPOCA - Mas o mundo não é perfeito.

Lins e Silva - É verdade. Isso me lembra a frase de um pensador francês: “Neste mundo terrível, Deus é de oposição”. Engraçado que supersticioso sempre fui. Não ando debaixo de escada, não passo sal na mesa e, para subir na tribuna, só com o pé direito. Convivi muito com crendices dos réus. Para muitos, os resultados favoráveis eram mais responsabilidade dos orixás que do advogado.

ÉPOCA - Qual é a maior vantagem de viver tantos anos?

Lins e Silva - Viver é bom. Tive pouco lazer na vida, trabalhei como o diabo. Mas meu prazer sempre foi o trabalho, então fui e sou feliz. Costumo dizer que uma vida longa é boa porque dá tempo de fazer tudo.

PERFIL

Nascimento
18 de janeiro de 1912, no Maranhão.

Cargos públicos
Procurador-geral da República (1961 a 1963); chefe do Gabinete Civil (1963); ministro das Relações Exteriores de João Goulart (1963); ministro do STF (1963 a 1969).

Família
Quatro filhos, 11 netos e dois bisnetos

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT419708-1666,00.html
 

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