sexta-feira, 21 de agosto de 1998

Aposentado recupera sementes

21 de julho de 1998, Correio Braziliense

O funcionário aposentado do Itamaraty, Waldir Affonso da Costa, 61 anos, levou de volta, ontem, da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE) para a chácara 21 da Fazenda Mestre D'Armas, em Planaltina, onde mora, o carregamento de sementes de maconha que lhe rendeu, em 1994, seis meses de prisão.

Waldir fez a importação do produto da Hungria pensando em alimentar galinhas. Tanto que trouxe junto seis chocadeiras, que faziam parte do seu sonho - na época - de novo aposentado. Agora Affonso vai entrar com uma ação contra a União, pedindo uma indenização calculada em torno de R$ 10 milhões por danos morais e materiais.

Affonso comprou as sementes na Hungria - onde trabalhou durante quatro anos como funcionário administrativo do Itamaraty -, em março de 1994, e trouxe para o Brasil quando retornou em junho do mesmo ano, junto com a mudança da família. O transporte foi de navio, pelo Rio de Janeiro. Trinta sacos de nylon cheios. Daria para alimentar duas mil galinhas durante um mês.

Prisão

Dias depois da chegada em Brasília, a polícia invadiu o segundo andar do depósito da chácara de Waldir para recolher as sementes e levá-lo preso, por tráfico internacional de drogas. Passou dois meses na carceragem da Coordenadoria de Polícia Especializada (CPE) e quatro meses no Núcleo de Custódia da Papuda. "Minha mulher (Judith) e meus filhos (Paulo, que tinha dez anos na época, e Sofia, com 12 anos) passaram um dia inteiro detidos na delegacia", diz Waldir.

No dia 26 de novembro de 1996 veio a sentença. Depois de exames do Instituto Médico Legal (IML), a polícia conclui que as sementes não germinavam e não eram tóxicas. A devolução do produto ao dono foi determinada à DTE pelo ofício 1.937 do juiz da 2ª Vara de Entorpecentes do Tribunal de Justiça (TJDF), Marco Antônio da Silva Lemos.

Na ocasião, o advogado criminalista Divaldo Teófilo de Oliveira Neto entendeu que a decisão do juiz era normal. "A semente não possui o princípio ativo da maconha, o THC. É como comprar um revólver. Desde que a pessoa tenha o registro, não é crime mantê-lo em casa."

A decisão também foi comemorada pelo deputado ecologista Fernando Gabeira (PV-RJ), que teve 5,5 quilos de sementes de maconha, importados igualmente da Hungria, apreendidos em maio de 1996 pela Polícia Federal. Incentivado pela decisão do juiz ele entrou com um recurso pedindo a devolução do produto.

Depois de todos os transtornos e sofrimentos que passou, Waldir deixou de lado a idéia de criar galinhas. Mas agora, com a recuperação das sementes, pensa em retomá-la. Ele explica que "a semente do cânhamo (erva da família da Cannabis sativa, a maconha) desenvolve a plumagem das galinhas. Quando estão na fase de muda, as sementes aceleram o crescimento", diz.

"Naquela época, policiais chegaram a dizer que eu tinha pés de maconha plantados na chácara. Um absurdo. Como podia ser, se as sementes não germinam?", pergunta ainda hoje Waldir revoltado.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idSubArea=68&idArea=1&idArtigo=160

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