16 de agosto de 1998, Folha de S. Paulo
Patrick Sabatier
Do Libération, em Lexington.
Tradução de Clara Allain.
"Ninguém bebe esta cerveja para ficar doidão", garante Tracy, a garçonete loiríssima da pizzaria Uno, em Lexington, ao freguês que acaba de lhe pedir uma Kentucky Hemp, a cerveja à base de cânhamo produzida na cidade. "Todo mundo sabe que ela não tem nada a ver com maconha."
Apesar disso, a palavra "hemp" (cânhamo) se destaca em letras enormes no rótulo da garrafa. Sobre o peito de um cavalo vermelho, o orgulhoso corcel exibe a folha de cânhamo de pontas alongadas e rendadas, tão conhecida dos adeptos do baseado.
Para não deixar margem a dúvidas, Bill Ambrose, o jovem executivo da Lexington Brewing Company, a "microcervejaria" que fabrica e comercializa esta Kentucky Hemp desde janeiro, gentilmente oferece ao visitante o folheto da Hemptech (rede de informações sobre cânhamo industrial), que enumera "os 25 mil usos conhecidos" do cânhamo. Esses incluem desde produção de roupas da grife Calvin Klein até o papel especial produzido na França pela gigantesca empresa de papel Kimberley-Clark. Até o início do século, Lexington foi o maior centro mundial de comércio de cânhamo. Durante dois séculos a Cannabis sativa, ao lado do Bourbon e dos cavalos puro-sangue, foi um pilar da prosperidade da região e motivo de orgulho de seus habitantes. Desde a chegada dos primeiros colonos ao Kentucky, no século 18, até a aprovação da lei que proibiu seu cultivo, em 1937, o produto foi a cultura mais lucrativa dos fazendeiros dos Estados Unidos. "Semeiem cânhamo por toda a parte e utilizem-no o quanto puderem", foi o conselho dado aos americanos pelo "pai da pátria", George Washington.
O plantio do cânhamo é, para os agricultores do Kentucky, a única alternativa ao tabaco, sua fonte principal de recursos e que, segundo eles, corre o risco de ser proibido. Tanto assim que 77% dos habitantes do Estado são favoráveis à legalização do cultivo do cânhamo.
Mas a idéia tropeça na hostilidade da DEA (órgão de combate às drogas do governo americano) e de todos aqueles que, por ignorância ou deliberadamente, metem a maconha e o cânhamo industrial no mesmo saco.
"Nossa cerveja não gerou nenhuma polêmica no Kentucky", garante Ambrose. "Todo mundo sabe que cânhamo e maconha são duas coisas diferentes. Mesmo meu tio, que tem 82 anos e é superconservador, sabe disso."
Gosto de avelã
"A primeira razão pela qual utilizamos o cânhamo é que ele dá um gosto ótimo à cerveja", diz Ambrose. A cerveja à base de cânhamo deixa um ligeiro sabor de avelãs. "É uma cerveja para o grande público, não para os especialistas", diz Brian Miller.
Desde o ano passado, outras cervejas à base de cânhamo apareceram no mercado americano: a Hemp Gold, produzida em Maryland, a Humboldt Hemp na Califórnia e a canadense Hemp Cream.
Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idSubArea=68&idArea=1&idArtigo=159
domingo, 16 de agosto de 1998
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