sábado, 27 de junho de 2009

Drogas: meu bem, meu mal

http://historia.abril.com.br/comportamento/drogas-meu-bem-meu-mal-480695.shtml
Aventuras na História, Editora Abril.


A maconha, a cocaína e o LSD estão hoje no centro do crime organizado. Mas já foram recomendados por médicos e considerados sinônimo de elegância
por Heitor Pitombo

Há 21 anos, o pesqueiro panamenho Solana Star, perseguido pela Polícia Federal, despejou 22 toneladas de maconha no litoral brasileiro. Durante meses, as praias do Sul e Sudeste foram invadidas por gente que pescava enlouquecidamente um exemplar que fosse da droga, acondicionada em latas de alumínio. Assim como no período conhecido como "verão da lata", os primeiros carregamentos de Cannabis chegaram ao Brasil por mar. Embarcadas em caravelas portuguesas, em 1549, as mudas foram trazidas por escravos e marinheiros apresentados a elas na Índia. Agora, um século após o primeiro acordo internacional contra drogas, um encontro da ONU, em Viena, vai rever a lista de substâncias proibidas em todo o mundo.

A maconha faz parte. Mas nem sempre foi assim. No Brasil do século 16, fumava-se o bangue. Esse cânhamo, subproduto da planta, servia para fazer tecidos de velas, um mercado aquecido na era das navegações e que despertou o interesse da coroa portuguesa pela Cannabis. E os colonos trataram de espalhar sementes da erva por todo o território. Em 1785, o vice-rei Luiz de Vasconcellos e Souza enviou a São Paulo um ofício (com 16 sacas de sementes e um manual de cultivo), pedindo encarecidamente aos agricultores que plantassem maconha. No século 19, ela vira remédio, como se vê na propaganda mais antiga de maconha, feita pela Grimault e Cia., de Paris, em 1885 (ao lado). Encontrada pelo pesquisador Guido Fonseca, apregoava efeitos terapêuticos dos cigarros índios, à base de Cannabis indica, uma variedade da erva.

Cachimbo de pobre
O uso entre ex-escravos estigmatizou o hábito entre os brancos

Com a abolição da escravidão, em 1888, os negros ganharam autonomia, mas continuaram a sofrer com desqualificação social. A capoeira foi proibida no ano seguinte à Lei Áurea, e, em 1890, o governo da República criou a Seção de Entorpecentes Tóxicos e Mistificação, para impedir o denominado "baixo espiritismo". Ou seja, o uso da maconha em rituais de origem africana, como o candomblé. À medida que se enraizava nas tradições populares, entre ex-escravos, índios e repentistas do Nordeste, aumentava a repressão ao consumo. A primeira lei restritiva é de 1830, quando a "venda e o uso do pito de pango" (cachimbo de barro para maconha) foram proibidos no Rio de Janeiro - três dias de cadeia para o negro que pitasse. Textos de cunho racista, de 1916, passaram a defender a tese de que a Cannabis levava negros e nordestinos ao crime. Um dos propagadores dessa teoria foi o médico Rodrigues Dória: "Um indivíduo já propenso ao crime, pelo efeito exercido pela droga, privado de inibições e de controle normal, com o juízo deformado, leva à prática seus projetos criminosos". Vários médicos com ideias de pureza racial temiam que o uso da maconha contaminasse os cidadãos brancos. Assim, a partir de 1917, a receita médica passou a ser obrigatória para comprar a Cannabis. E, em 1932, ela entrou na lista de substâncias proscritas. O Estado Novo de Getúlio Vargas institucionalizou a repressão e estabeleceu pena de prisão para os usuários. O governo também negociou com os fiéis do candomblé a retirada da maconha dos cultos, em troca da legalização da religião.

Pó de rico
Ele veio com a modernização, na busca louca pela euforia

Bem menos popular, a cocaína também passou de remédio à posição de droga criminalizada e antissocial, embora se saiba que o pó circula hoje ferozmente pela classe média brasileira. Ela surgiu como analgésico e começou a ser consumida no Brasil em meados dos anos de 1910. Laboratórios como o Grimault indicavam o vinho de coca para "pessoas fracas" e "jovens pálidas e delicadas". Há registros de consumo da folha de coca de mais de 1200 anos na América do Sul. E seu chá era vendido no século 19 na Europa e na América do Norte. Mas seu princípio ativo, a cocaína, só foi isolado em 1860, pelo químico alemão Albert Niemann. E, em pouco tempo, revelou efeitos colaterais, como arritmias cardíacas, problemas respiratórios e neurológicos. Por isso, lei de 1882 exigiu, no Brasil, receita médica na compra de pó. Mas o século 20 disseminou o consumo, recomendado até pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud. Em 1914, o jornal O Estado de S. Paulo advertia: "Há hoje em nossa cidade muitos filhos de família, cujo grande prazer é tomar cocaína e deixar-se arrastar até aos declives mais perigosos deste vício. Quando atentam... é tarde demais para um recuo". Três anos depois, o Código Sanitário determinou o fechamento das farmácias (que eram, com os bordéis, os maiores distribuidores da droga) que vendessem cocaína sem receita. Para a pesquisadora Beatriz Rezende, organizadora do livro Cocaína: Literatura e Outros Companheiros de Ilusão, o Brasil respirava os ares da Primeira República, e "o entusiasmo pela modernização vai fazer com que a ideia de decadência de costumes frequentemente ligada ao ópio e ao haxixe seja substituída pela ambição da euforia encontrada no éter e na cocaína". Era usada por poetas e outras artistas. Na crônica A Favela (1922), Orestes Barbosa escreveu que, nos morros cariocas, traficantes vendiam a droga "malhada" (misturada a outras substâncias). E no samba A Cocaína (1923), de Sinhô, surgem sinais de alerta: "Mais que a flor purpurina é o vício arrogante de tomar cocaína. Quando estou cabisbaixa chorando sentida, bem entristecida, é que o vício da vida deixa a alma perdida. Sou capaz de roubar, mesmo estrangular, para o vício afogar." Até que, em 1938, decreto-lei proibiu nacionalmente a cocaína, mesmo para fins médicos.

O dia da bicicleta
Os anos 60 e 70 viveram o desbunde psicodélico e o fortalecimento do tráfico

Nos anos 60, o movimento hippie e a contracultura deram às drogas status de experiência libertária. Acaba o estigma da maconha como "droga de pobre" e o LSD (dietilamina do ácido lisérgico) entra na moda. Ele foi sintetizado a partir de um fungo do centeio em 1938, pelo suíço Albert Hofmann, nos laboratórios Sandoz. Mas só em 1943 o cientista descobriu seus efeitos psicoativos, ao absorver na pele uma pequena quantidade da substância. Foi no dia 19 de abril, conhecido como o "dia da bicicleta", quando ele experimentou delírios caleidoscópicos ao pedalar até em casa. O LSD teria surgido das pesquisas da CIA para criar armas de controle mental e foi aplicado na psiquiatria. Mas ganhou fama entre os anos 60 e 70. O cantor Tim Maia, após viagem a Londres, nos anos 70, foi visitar a Philips (sua gravadora na época) para oferecer ácido a todos: "Isto aqui é um LSD, que vai abrir sua cabeça, melhorar a sua vida, fazer de você uma pessoa feliz", conta o jornalista Nelson Motta, no livro Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia. Também nessa época, o tráfico começou a se profissionalizar. No presídio da ilha Grande (RJ), militantes políticos e presos comuns trocaram experiências sobre táticas de luta, o que teria contribuído para a criação das atuais facções do narcotráfico. Desde então, o Brasil viu o avanço do ecstasy, a droga das raves da classe média, e do crack, a pedra dos meninos de rua de São Paulo. Mas a verdade é que, por razões existenciais, religiosas, de mercado ou de poder, a humanidade nunca deixou de conviver com as drogas.

Combate internacional
As medidas de controle começaram com o ópio, na China

O primeiro acordo internacional sobre drogas é de 1909, após a Comissão do Ópio de Xangai, e proibiu o ópio, pivô da primeira e da segunda Guerra do Ópio (1839-1842 e 1850-1860), entre britânicos e chineses. Os ingleses haviam introduzido a droga ilegalmente na China para pressionar pela compra de produtos ocidentais. Mas a Convenção de Drogas e Narcóticos das Nações Unidas, de 1961, assinada hoje por todos os países da ONU, foi o primeiro consenso mundial de que substâncias psicoativas deveriam ser coibidas, por causar dependência e danos à saúde. Este mês, 100 anos depois do acordo do ópio, acontece a Reunião Especial sobre Drogas da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Viena.

Saiba mais

LIVROS

Pequena Enciclopédia da História das Drogas e Bebidas: Histórias e Curiosidades sobre as Mais Variadas Drogas e Bebidas, Henrique Carneiro, Campus/Elsevier, 2005
Cerca de 140 verbetes sobre diferentes substâncias psicoativas, enfocando seu significado cultural e simbólico ao longo da História.

Cocaína: Literatura e Outros Companheiros de Ilusão, Beatriz Rezende (org.), Casa da Palavra, 2006
Textos literários que mostram a evolução do pó da inspiração boêmia às páginas policiais.

SITE

www.neip.info/

Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos, reúne pesquisadores de vários centros universitários, teses e bibliografia sobre o tema.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ONU estima que entre 18 a 38 milhões de pessoas tenham problemas de toxicodependência

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1388800
Público.PT ,26.06.2009 - 08h27 Lusa


O Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas assinala-se hoje em todo Mundo para alertar para o problema da toxicodependência que, segundo estimativas da ONU, afecta 18 a 38 milhões de pessoas.

Pelo menos três em cada 100 pessoas em todo o mundo com idades entre os 15 e os 64 anos usaram pelo menos uma vez uma droga ilícita durante 2007, segundo um relatório das Nações Unidas divulgado esta semana. Estes números abrangem os consumidores ocasionais, mas também, segundo a organização, as pessoas dependentes do consumo de drogas.

As Nações Unidas estimam que entre 18 e 38 milhões de pessoas em todo o mundo, entre os 15 e os 64 anos, tinham, em 2007, problemas de toxicodependência. O documento refere igualmente que entre 11 e 21 milhões de pessoas, na mesma faixa etária, usaram drogas injectáveis durante o período em análise.

Já em Portugal, o consumo de drogas aumentou ligeiramente de 2001 para 2007. Entre a população dos 15 aos 64 anos, o consumo de cannabis passou de 3,3 para 3,6 por cento, o de cocaína de 0,3 para 0,6 por cento e o de anfetaminas de 0,1 para 0,2 por cento, segundo o mesmo relatório

Quanto ao tráfico, a ONU destaca que a apreensão de cocaína em Portugal aumentou "subitamente" em 2006, quando foram apreendidas cerca de 34,5 toneladas daquela droga. No ano anterior tinham sido apreendidas 18 toneladas e este valor voltou a cair em 2007, situando-se nas 7,4 toneladas.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Consumidores de droga em Portugal estão "mais velhos"

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1271978
DN Portugal, por PEDRO SOUSA TAVARES 25 Junho 2009

Relatório diz que subiu a média de portugueses que experimentou estupefacientes, mas consumo regular é menor. Tráfico de cocaína preocupa.

Os consumidores de droga em Portugal não aumentaram, estão apenas "mais velhos". É desta forma que João Goulão, presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), lê o relatório sobre "Droga e Crime" das Nações Unidas (ONU), onde se nota uma ligeira subida - entre 2001 e 2007 - na percentagem de portugueses dos 15 aos 64 anos que já experimentaram alguns tipos de narcóticos.

De acordo com o relatório, dentro deste intervalo de idades, os portugueses que tiveram contacto com cannabis passaram de 3,3% para 3,6%, com a cocaína de 0,3% para 0,6% e com as anfetaminas de 0,1% para 0,2%.

Números aparentemente contraditórios com a generalidade dos indicadores existentes em Portugal desde 2001 - ano da descriminalização do consumo de drogas no País -, que apontam para uma redução global dos consumos. Mas que, segundo Goulão, têm apenas a ver com as diferenças entre os grupos analisados nos dois períodos temporais.

"Em 2001, em Portugal, o grupo etário mais próximo dos 64 anos tinha poucas probabilidades de ter experimentado drogas", explicou. "Em 2007, a população que atingiu essas idades já tinha outras características, já era mais frequente encontrar quem tivesse essa experiência."

A "prova" desta leitura, acrescentou, "é o facto de a percentagem de jovens que experimentou drogas ter diminuído no mesmo período", embora mantendo-se relativamente estável, segundo a ONU. "Se há menos jovens a consumir, só podemos concluir que os consumidores portugueses estão mais velhos", afirmou.

Por outro lado, acrescentou, esses indicadores "referem-se a contactos" com estas substâncias. Em relação ao consumo regular, há outros dados que mostram uma evolução favorável: "Os indicadores em que se avalia o consumo no último mês e no último ano estão a cair", garantiu.

João Goulão admitiu, ainda assim, a existência de uma maior percentagem de jovens que já experimentaram cocaína, mas num contexto de consumo "esporádico", associado aos ambientes de diversão nocturna.

Mais preocupante, do ponto de vista português, parece ser a questão do tráfico, também abordada no relatório internacional da ONU. A este nível destaca-se 2006, ano em que, com a apreensão de 34,5 toneladas de cocaína, Portugal "saltou" para o sexto lugar a nível mundial. Um dado associado à utilização de países de língua portu- guesa, como Cabo Verde e a Guiné-Bissau.

Apesar de esse ter sido um ano atípico - em 2007 foram apreendidas apenas 7,4 toneladas -, João Goulão reconheceu ser "sabido que Portugal é hoje uma das principais portas de entrada desta droga na Europa, atrás apenas da Espanha".

A nível mundial, segundo o relatório da ONU, entre 172 milhões e 250 milhões de pessoas entre os 16 e os 64 anos já experimentaram drogas. E de 18 a 36 milhões eram toxicodependentes em 2007.

China, Estados Unidos, Rússia e Brasil têm as maiores percentagens de consumidores de drogas injectáveis, sendo que o Brasil é também o país com maior taxa de consumidores de opiáceos da América do Sul.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Bloco propõe a legalização da cannabis

http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=12416&Itemid=27
Esquerda.Net ,16-Jun-2009

O Bloco de Esquerda apresentou um novo Projecto de Lei para legalizar o consumo e cultivo pessoal de cannabis, e para regular o seu comércio. O Bloco argumenta que a cannabis acarreta iguais ou menores riscos para a saúde pública do que outras substâncias legais, como o álcool ou o tabaco, e que por isso não faz sentido atirar para a clandestinidade os consumidores desta substância.

Tendo em conta "as características e o baixo grau de danosidade" da cannabis, o Bloco propõe a regulação da sua oferta e procura, para "acabar com o tráfico e proteger o consumidor e a saúde pública".

O Bloco critica a política proibicionista das drogas que tem imperado em Portugal e no Mundo, responsável por muitos dos danos na saúde pública e pelo aumento da criminalidade associada ao tráfico e ao consumo. A descriminalização do consumo de drogas, aprovada em Portugal em 2000, foi "um passo em frente na abordagem ao problema das drogas", mas com graves limitações, dado que continua a ser "persecutória e repressiva" e deixa por resolver muitos problemas associadas ao tráfico e à saúde pública, lembra o Bloco de Esquerda.

Segundo o projecto bloquista, um dos problemas da lei actual é precisamente o de permitir a confusão entre todas as drogas e um mercado sem regras, "tornando os consumidores vulneráveis perante substâncias adulteradas, contacto fácil com outras drogas mais potentes e nocivas, acesso a redes criminosas ou falta de informação transparente e credível". Por isso ,o Bloco de Esquerda propõe a legalização do consumo de cannabis, adquirida em estabelecimentos legalmente habilitados e fiscalizados, bem como a legalização do cultivo, até dez plantas por pessoa.

A proposta do Bloco precisa que são as Câmaras Municipais que podem autorizar a abertura dos estabelecimentos que comercializam a cannabis, devendo estes distar de pelo menos 500 metros das escolas e serem interditos a menores de 16 anos.

À cannabis não se aplicarão as regras usuais de direito de concorrência, impondo-se um controlo da produção, importação e distribuição do produto. O comércio é regulado, "privando a rede de distribuição de toda a agressividade comercial". São, por isso, proibidas as marcas como meio de promoção de produtos, bem como "outras formas de propaganda directa (promoção, marketing...) ou indirecta (patrocínio, mecenato...) utilizados nos media".

O controlo do mercado da substância cria duas vantagens evidentes: "Do lado da oferta, uma política de venda a preços estudados permite eliminar os traficantes do mercado lícito. Do lado da procura, uma fixação hábil dos preços permite orientar os consumidores para os produtos menos nocivos", esclarece a proposta bloquista.

Consulte também o outro projecto de lei do Bloco, apresentado na legislatura anterior, e que propõe a legalização da cannabis para fins terapêuticos.
 

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Veja o site da Psicóloga e Psicoterapeuta Bianca Galindo que ela faz atendimento online.