quinta-feira, 29 de novembro de 2001

Pesquisa da maconha é retomada depois de duas décadas

29 de novembro de 2001, The New York Times

Philip J. Hilts
Tradução de George El Khouri Andolfato.

A retomada da pesquisa sobre os usos medicinais da maconha está programada para o início do próximo ano, após duas décadas, com a aprovação por parte do governo de novas experiências para avaliar se fumá-la pode ajudar pacientes com esclerose múltipla ou que sofrem dores nos membros em conseqüência da AIDS.

A nova aprovação, concedida em 28 de novembro pela Drug Enforcement Administration (DEA), a agência americana de combate às drogas, não autoriza aos médicos a prescreverem maconha aos seus pacientes como tratamento; ela apenas autoriza o uso limitado em experiências científicas. Em alguns estados, a lei estadual permite aos médicos prescreverem ou recomendarem a maconha, mas a lei federal proíbe a prática, mesmo nestes estados.

A DEA aprovou duas experiências no final do mês passado, e espera aprovar uma terceira em breve. Autoridades da agência disseram que as aprovações não representam uma mudança de política, já que as experiências para o descobrimento de usos medicinais para a maconha nunca foram proibidas. O que aconteceu, disse Terry Woodworth, vice-diretor de controle, é que os cientistas e órgãos públicos que financiam pesquisas mudaram sua posição em relação ao valor de tais experiências.

Mas Paul Armentano, porta-voz da National Organization for the Reform of Marijuana Laws (NORML, Organização Nacional para Reforma das Leis para Maconha), disse que as aprovações "encerraram duas décadas de proibição federal à pesquisa médica da maconha".

"Ainda não é muita coisa", acrescentou Armentano, "mas é um reconhecimento por parte do governo federal de que não se pode impedir o avanço dos trabalhos".

As experiências com maconha exigem a aprovação de várias agências federais; a aprovação da DEA é a última, a que fornece a licença para os pesquisadores.

As duas experiências que já receberam a aprovação, a terceira que deve recebê-la em breve e outras oito, que no momento estão seguindo os trâmites legais estaduais e federais para aprovação, estão todas programadas para ocorrer na Califórnia e têm sido financiadas pelo Centro para Pesquisa Medicinal de Cannabis da Universidade da Califórnia.

Um dos dois estudos já aprovados tratará de pacientes com esclerose múltipla. Alguns dos pacientes dizem que têm rigidez muscular que não é aliviada eficazmente por outras drogas, e de qualquer forma tais medicamentos possuem efeitos colaterais indesejados. A Drª. Jody Corey-Bloom, que conduzirá o estudo na Universidade da Califórnia em San Diego, cita relatos de que a maconha pode aliviar a dor muscular e a rigidez.

Em outro estudo aprovado, também no campus de San Diego, o Dr. Ronald Ellis tentará determinar se a maconha pode aliviar a dor nas mãos e nos pés, conhecida como neuropatia periférica, que às vezes afeta pacientes com HIV.

O Dr. Donald Abrams também estudará a condição na Universidade da Califórnia em São Francisco, em uma experiência que deverá ser aprovada em breve.

Abrams, que há muito tempo busca realizar estudos com a maconha em pacientes de AIDS, disse que entre os fatores mais importantes que contribuíram para a obtenção da aprovação foram os plebiscitos de cinco anos atrás, nos quais os eleitores da Califórnia e do Arizona transformaram em lei estadual a permissão para doentes utilizarem a maconha no tratamento de suas enfermidades.

Após tais propostas terem sido aprovadas, os comitês científicos governamentais do Instituto de Medicina e dos Institutos Nacionais de Saúde informaram que havia pouca evidência de que a maconha tinha utilidade medicinal, mas que estudos rigorosos seriam válidos.

As futuras experiências compararão os efeitos dos cigarros de maconha com os efeitos de cigarros de placebo (nos quais os ingredientes ativos da maconha serão removidos).

Os cigarros de maconha virão de uma plantação da Universidade do Mississipi com a autorização do Instituto Nacional de Abuso de Drogas, disse Richard Doblin, presidente da Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos), um grupo que defende a pesquisa de usos medicinais de drogas psicoativas. Ele disse que um problema com a nova pesquisa é o fato da maconha do Mississipi ter uma potência muito baixa, um fator que poderá comprometer os efeitos medicinais.

O Marinol, um medicamento aprovado para venda sob prescrição médica que está disponível há anos, contém um ingrediente ativo da maconha. Mas pesquisadores dizem que as plantas naturais contêm muitos agentes psicoativos que não estão presentes no produto comercial. Além disso, disse Abrams, leva horas para que os efeitos das cápsulas possam ser sentidos, enquanto o fumar da maconha produz efeitos em questão de minutos; logo, a cápsula pode não ser a melhor forma de ministrar o medicamento.

Experiências no uso da maconha como estimulante de apetite e na prevenção da náusea foram realizadas nos Estados Unidos até o início dos anos 80. Depois disso, disse Doblin, posições desaprovadoras do governo federal e em agências de pesquisa levaram os cientistas a acreditar que os financiamentos para estudos medicinais da maconha seriam difíceis de serem obtidos.

Mas após os plebiscitos na Califórnia e no Arizona em 1996, a questão passou a ser se o uso médico poderia ser apoiado por evidências científicas.

Fonte: http://www.gabeira.com.br/causas/subareas.asp?idArea=1&idSubArea=121

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