quinta-feira, 19 de abril de 2001

Guerra contra drogas afeta maconha jamaicana

19 de abril de 2001, Agência Estado

Matthew J. Rosenberg
AP

Hanson District, Jamaica - Há tempos, os intensos raios do sol parecem incendiar as plantações de maconha na Jamaica, banhando as plantas em raios avermelhados. Mas um produtor afirma que as plantações da erva nesta nação caribenha foram muito afetadas pela guerra contra as drogas e pela competição mundial. O camponês, que se identificou apenas como Thomas, afirmou em entrevista que a variedade de maconha cultivada em seu campo "é a melhor da Jamaica". "Mas agora cultivo menos do que antes", acrescentou.

O cultivo de maconha perdeu grande parte de seu mercado desde a década de 70, quando aviões vinham buscar o produto para levar diretamente aos Estados Unidos. Naquela época, a maconha do Caribe, produzida sobretudo na Jamaica, alimentava 20% do consumo mundial. Hoje abastece menos de 5%, segundo o Mecanismo Coordenador de Controle da Droga no Caribe, um programa da ONU com sede em Barbados. "A maconha ficou para trás, como tudo o que cultivamos… a banana, o açúcar. A maconha não se vende", disse Thomas, que há 40 anos cultiva a Cannabis em uma parcela de dois hectares na qual seu avô plantava apenas tomates e outros frutos.

O cultivo e o consumo de maconha são ilegais na Jamaica, razão pela qual Thomas e outros produtores não dizem seus sobrenomes. Mas são tolerados. Outra razão para manter o anonimato é um acordo oficial que autoriza os agentes norte-americanos a queimar os cultivos.

Em 1991, a Jamaica produziu 705 toneladas de maconha, segundo o Departamento de Estado norte-americano. Cifras mais recentes indicam para uma produção de 235 toneladas em 1997. "Ganhava-se muito dinheiro naquela época", disse Omar, outro plantador, sobre os "anos dourados" da erva. Eles e Thomas dizem que ganhavam cerca de US$ 4.000 anuais, suficiente para levar uma vida cômoda na Jamaica. Agora, ganham a metade.

No início da década de 80, a maconha era aceita localmente, com a benção dos ídolos do reggae como Bob Marley. Mas seu uso freqüente chamava a atenção dos agentes antidrogas norte-americanos. A aduana dos Estados Unidos estava atenta e os agentes queimaram centenas de hectares no Caribe. Thomas disse que os agentes incendiaram seus campos quatro vezes.

A campanha norte-americana elevou o preço da erva na América do Norte, seu melhor mercado. Consumidores dos Estados Unidos e Canadá começaram a cultivar suas próprias variedades, mais resistentes. A maconha norte-americana "é muito superior à jamaicana", diz Steve Bloom, diretor da revista High Times, a bíblia dos consumidores norte-americanos. "A jamaicana é boa, mas é preciso fumar muito."

A maconha jamaicana é cultivada atualmente em ladeiras remotas, pântanos e lamaçais, onde é difícil de ser detectada, mas onde está sujeita aos caprichos do clima. O México também herdou uma parte do mercado. As autoridades norte-americanas dizem que o aumento do comércio legítimo entre México e Estados Unidos, com o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) também refletiu em maior quantidade de erva procedente do país vizinho. Pelo fato de a maconha mexicana ser tão acessível, os mesmos traficantes jamaicanos que operam nos EUA compram essa variedade para vendê-la.

Apesar da queda da maconha jamaicana no mundo, o mercado local é suficiente para manter o negócio dos produtores nacionais. A planta foi trazida à Jamaica no século 19 por trabalhadores da Índia. Inicialmente, ela era utilizada de forma medicinal. A partir da década de 30, foi difundida pela seita rastafari, que a considerava sagrada. Com o reggae, a maconha começou a atravessar as rígidas barreiras de classe do arquipélago.

Hoje, apesar de ainda ter seus adeptos, já não é mais a rainha das plantações. No entanto, velhos hábitos tardam a morrer. "Nunca deixarei de cultivar a erva", disse Thomas com um sorriso malicioso. "Que mais eu poderia fumar?"

Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2001/abr/19/202.htm

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